ELE FOI AO DEBATE — teve até reza

Um fumaceiro enorme (que lembrava a fumaça de muitos maconheiros fumando juntos pelos cantos dos muros das cidades) foi o que se viu. Um fedor dos infernos espalhou-se pelo estúdio enquanto a rede de televisão sofreu uma pane e saiu do ar inexplicavelmente.

No palco, frente a frente com o Padre V-Quêdu, eis que estava o próprio Rei dos Capetas com seus nove dedos (que era cagado e cuspido idêntico ao chefe de um partido político da estrela vermelha).

Diálogo arrepiante estava para começar.

O Padre V-Quêdu estava sentadinho, com as pernas cruzadas e segurando de forma tranquila um enorme crucifixo que parecia do tamanho de uma das mãos do Incrível Hulk (da MARVEL).

Uma voz rouca saiu da garganta daquele cão dos infernos, como se ele tivesse chupado manga e ficado engasgado com o caroço. Na verdade, aquilo que se escutou foi uma risada: HA – HA – HA – HA – HA – HA...

Enquanto pessoas desmaiavam ao redor do palco, o Padre V-Quêdu parecia estar repentinamente incomodado... com uma sujeirinha na unha... logo que terminava de coçar um dos ouvidos. Mas, a fisionomia era quase de quem estava morrendo... de sono, entediado.

O debate foi inevitável, entre o visitante e o Padre V-Quêdu.

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— Ajoelhe-se, padreco! Ajoelhe-se e me adore!

O famoso padre ouviu aquilo e, como se não tivesse prestado muita atenção, disse em tom monótono:

¬¬ Alguém aí desligue esse telão e vamos começar logo essa entrevista comigo.

E a figura bizarra responde:

— Não é telão! Sou eu! Ei, cara! Ô do crucifixo! Sim! Você aí!

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O Padre V-Quêdu continuava sentadinho na mesma posição de antes, incomodado com a sujeirinha da unha, como se esperasse começar a entrevista.

O visitante espalhafatoso notou que o cara parecia mesmo ter ficado distraído, pois transparecia estar sinceramente interessado somente em tirar sujeira do ouvido com uma das unhas.

Finalmente, aquela besta das trevas resolveu chegar juntinho do Padre V-Quêdu... que continuava sentadinho, sentadinho, na mesma posição de antes. A cara feia foi chegando perto do rosto do santo homem parapsicólogo, como se fosse para ficarem com um nariz colado no outro. Finalmente, depois de ter se abaixado e inclinado muito na manobra, o visitante infernal começou a dirigir outra vez a palavra ao seu adversário humano, cujo nome era muito conhecido entre os capetas como “Padre V-Quêdu Sem Medo”.

Porém, misteriosamente, o Rei dos Capetas pareceu estar perdendo a voz. Na verdade, a voz saía de sua garganta meio desentoada e cada vez mais rachada como o som de um microfone defeituoso.

Aí, as falas foram mais o menos as seguintes, sempre com o Rei dos Capetas falando e o Padre V-Quêdu respondendo:

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— E aí, padreco? Estou meio sem voz, mas eu vim aqui te buscar. Vou te arrancar todos os dedos e te fazer sangrar até a morte.

¬¬ Você “non équi-ziste”.

— Quê?

¬¬ Você “non équi-ziste”.

— Me respeita, cara!

¬¬ Você “non équi-ziste”.

— Ah! Entendi! Você está num processo de negação porque está com medo de me enfrentar (que “diabo” está acontecendo com a minha voz?)...

¬¬ Você “non équi-ziste”.

— Ah! Pare com isso, padreco! Tá bom, padreco! Está com a Bíblia aí? Abra ela... e confira aí. Eu existo, sim!

¬¬ Você “non équi-ziste”.

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O crucifixo do Padre V-Quêdu reluzia com os refletores do estúdio de televisão.

O Rei dos Capetas parou de falar, cruzou os braços e começou a mexer os quadris para um dos lados do corpo asqueroso... balançando como se requebrasse à semelhança de uma comadre quando estava para chamar a outra para a briga.

Foi então que o Padre V-Quêdu olhou finalmente bem dentro dos olhos afogueados do Tinhoso, repetindo calmamente:

¬¬ Você “non équi-ziste”. Você “non équi-ziste”. Você “non équi-ziste”.

— Eu já disse que existo. Eu exiiiisto, siiiim...!

¬¬ Você “non équi-ziste”.

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As luzes apagaram-se totalmente, fazendo-se um longo silêncio enquanto as vozes faziam coro numa reza conjunta de todas as pessoas. De repente, todos pararam de rezar e começaram a repetir aquela frase que já haviam memorizado depois que o medo passou. “Você non équi-ziste. Você non équi-ziste. Você non équi-ziste”.

Ninguém sabe como, o sinal de transmissão da TV voltou. Ali, sentado na mesma cadeira, o Padre V-Quêdu levantou um dos braços num gesto de pedir silêncio. O visitante maldito havia sumido.

Todo mundo, arrepiado, esperava a palavra de fé que os consolaria depois de todo aquele medo coletivo. A produção do programa já estava pronta para gravar um sermão de meia hora, pois o momento era de fé.

O Padre V-Quêdu levantou-se e pareceu se dirigir aos bastidores, enquanto dizia:

¬¬ Marquem outro dia, pois meu tempo acabou. Alguém tem um cotonete aí?

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º’F’º’i’º’m’º

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Da série: “Contos que o Vaticano insiste em negar”