Arca de Noé

Às vezes, penso que estou morando numa verdadeira arca de Noé.

Uma arca nada poética, diga-se de passagem.

Um cachorro (poodle, branco) que mora dentro de casa, seis gatos (todos pretos) que nunca têm a permissão de entrar na casa, um casal de periquitos numa gaiola dependurada na cozinha, dezenas de pássaros em ninhos nas árvores, borboletas multicores, abelhas na chaminé do vizinho, morcegos frugívoros que se esgueiram pelas frestas do telhado da fábrica ao lado, minhocas na terra molhada e fria do jardim, moscas, mosquitos, pernilongos, sem contar os ratos e as baratas, que só dão as caras na calada da noite.

Mas eu não seria justa se esquecesse as cobras que, vez por outra, invadem o território! São pequenas, não venenosas, mas assustam do mesmo jeito.

E os sapos, as rãs, que coaxam no descampado que começa logo ali, do outro lado da rua indo até as margens do rio? Ocasionalmente, atravessam o asfalto e se juntam às demais criaturas da fauna.

Noé ainda esperava que baixassem as águas do dilúvio. Então, poderia se livrar da bicharada.

Eu, ao contrário, deveria esperar que o dilúvio viesse e os levasse para longe?

StelaStela
Enviado por StelaStela em 26/01/2008
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