Sexo na terça de Carnaval

Não eram ainda 5h da tarde e eu já começava meus preparativos para o encontro, afinal o último tinha sido exatamente no carnaval passado. Um ano de saudades.
Lavei meus cabelos com Clear, desodorante SrN para agradar, lambuzei-me de perfume Dolce e Gabbana pra marcar o território como fazem os cães e gatos mijando em todos os cantos
Tomei Enalapril pra segurar a pressão, pois a emoção era demais, um comprimido de Ancoron para manter o coração no ritmo suportável e dois comprimidos de Dimeticona para conter os gases, pois ansiedade transforma-me em um sapo barrigudo. Depois de todos estes, dois de Pantoprazol pra proteger o estômago de tantos remédios, sem esquecer de mais um de Metformina pro diabetes, pois poderiam surgir uns doces, e eu não resisto a uns pastéis de Santa Clara ou até mesmo um vinhozinho pra descontrair no motel.
Agora, contrariando a recomendação médica, um bom e celeste Viagra de 50mg, inteiro.
Nossa! Toda essa mistura de remédios populares e genéricos, mais as emoções e hormônios do Carnaval e do encontro, me deixavam com uma escola de samba na barriga. Sentia de tambor a viola sambando dentro de mim. Uma loucura.
Duas horas antes, estava lá eu todo rijo na plataforma do metrô.
A estação estava vazia, só uns ou outros gatos-pingados, pra lá de desocupados.
Eu tão rijo, um verdadeiro garanhão portentoso, ansioso e excitado, que além dos olhos esbugalhados, rosto corado por tantos remédios, também tinha que segurar a discreção.
Passaram duas mocinhas, com olhinhos disfarçados e mãos na boca, sussurraram alguma coisa proibida entre elas.
Daí a pouco uma de meia idade, calça branca mostrando a tanguinha vermelha, exclamou:
- Nossa que volume!!!
Logo, vieram três senhoras de cabelos longos, saias longas, livros debaixo dos braços, olhares discretamente longos, fizeram o sinal da cruz e continuaram cabisbaixas.
Eu estava demais!!!
Alguns metros adiante, debruçada numa mureta da estação, uma odalisca pra lá de pelada e oferecida, vomitava como um vulcão.
Mais adiante ainda um pierrot gay, que saltitava como uma libélula pra me atrair.
Eu ali, firme e forte, Afinal, era um ano de espera pelo meu amor, fidelíssimo, consciente, preparado para a inesquecível noite de terça de carnaval.
Exatamente na hora marcada, toca o celular.
 “- amor, tenho duas noticias pra você. Uma boa e uma ruim, qual você quer primeiro?...”
Nossa...tremi como os vagões do metrô...
- Estou linda, fiz a depilação que você pediu, treinei pompoarismo, estou em brasa, sussurrou.
- Amo o carnaval gritei...e a ruim querida perguntei.
- Menstruei, confessou.
Odeio o carnaval, explodi.
Agora estou aqui largado no sofá vendo o paredão do BBB8.

Com a grata assistência médica de Drª Albertina - betina@uol.com.br

Doe vida, doando orgãos
Augusto Servano Rodrigues
Enviado por Augusto Servano Rodrigues em 06/02/2008
Reeditado em 18/02/2008
Código do texto: T847668
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.