O MUNDO DOS BICHOS

Havia uma saíra na jabuticabeira
Uma corruíra também havia
Tão pequenina, mal conseguia vê-la
Tinha um pica-pau furando a madeira


toc..toc..toc..toc..toc

O sanhaço azul cantava no cajueiro
Cantava para atrair a companheira
Porque o homem não faz o mesmo?
Talvez ele ache que amar é besteira!

João-de-Barro cante ainda mais alto!
Cante forte, seu canto estridente
Cante para espantar o mau olhado
Que desabou sobre nossa gente!

A saíra vive na jabuticabeira
A corruíra é um espanto de tão leve
Seria ela feita apenas de plumas?
Indiferente, o pica-pau fura a madeira

toc.toc..toc..

A Dona Sinhá sempre repete
Que telhado ruim tem goteira
A linha do horizonte não faz costura
Há um novo ninho na cumeeira

Pergunto a ela porque a panela é preta
Meu fio, é preta de tanto cozinhar!
D. Sinhá cozinhou sua vida inteira
Melhor que sua comida? Nem pensar

Dona Sinhá, onde anda você? Que coisa!
Me por neste mundo, só para apanhar
Você que sabia de tudo, diga-me
Porque os homens não sabem amar?

Insisto, na jabuticabeira há uma Saíra
Dizem que a Corruíra é mineira
O caipira fala "Não chove três-donte-onte"
Dedicado, o Pica-pau fura a madeira

D. Sinhá, a senhora vai fazer doce?
Então vais usar a gameleira?
Eba..um..dois..treis,...falei primeiro!
Vou lamber a escumadeira!

O besouro negro enlouquecido
Morreu chocando-se com a geladeira
Dizem que foi amor não correspondido
Pela famosa cigarra cantadeira

Os passarinhos estão desligados
Pulando nos galhos aqui e acolá,
Um deles, vai virar petisco
Na barriga do gato Angorá

Foge Fogo-apagou, rolinha ligeira
Cuidado com este gato Angorá
O sapo boi não liga para ele                                                                         Gato não sabe nadar

Acorde, jacaré açu preguiçoso
Desperta pra vida e vai caçar
As piranhas estão gordinhas
Estão “facinhas” de pegar

O bicho homem não gosta da mata
A destrói para fazer descampado
Bichos indagam se o homem é Deus
Respondo-lhes: um Deus vil e malvado!

No terreiro, as galinhas cochicham
Elas estão sempre a cochichar
Que o galo novo é bom de briga
Mas não gosta de namorar

Outro dia, juro que vi o curupira
Folgado chupando melancia
No meio do cafezal do tio Didi
Em plena luz do dia!

Eu tenho pouca certeza 
Não sei bem porque não vi
Mas acho que a onça pintada
Comeu uma perna do saci

Seu Aurélio adorava o porco
Mas vendeu-o para fazer torresmo
Ele gostava mais de dinheiro
Do que gostava de si mesmo

Um ribombo no céu se ouviu
Um estrondo medonho de assustar
Se esconda Gato do mato
O tempo já vai mudar

A Saíra se assanhou ainda mais
A corruíra saltitou mais feliz
O pica-pau furava a madeira
Só estava faltando um triz

A vida disse: Saíra de sete cores!!! 
Saia já desta jabuticabeira!
Corruíra volte para o mato
Pica-pau não fure a madeira!

A Saíra voou, eu não sei para onde
A Corruíra sumiu da jabuticabeira
Minha vida agora é um oco,
Há um oco na madeira!

Ahh Deus, tudo passou tão rápido
A besta da vida é tão ligeira
Também fui embora, cresci, tudo ficou feio
Toc..toc..toc..acabou a brincadeira!!!!!!!!
 
 

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 04/06/2008
Reeditado em 28/01/2017
Código do texto: T1019039
Classificação de conteúdo: seguro
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