Anta

Anta

Quando tenho sede o caminho mais rápido e seguro é seguir o rastro da anta.

Ela sempre forma um caminho no meio do mato para beber água. Se vou pescar caranguejo, então, nem se fala. Mergulho direto ali. A anta é excelente nadadora.

Muita gente pensa que ela é estúpida. Mas a correria que se ouve de noite, aquele estrondo, é o acasalamento. Acontece a cada dois anos, demora, né? Vem antes da chuva de São José. Nasce um filhote, raramente dois. Todo listrado. Igual menino e adolescente, depois que perde as listras, fica adulto.

Geralmente quando uma pessoa está zangada, ela faz um tromba, um bico. A anta, não. A sua probóscide serve para beber água. Anta tem sede. Aqui no cerrado, quando a coisa aperta, ela invade as plantações. Gosta de cana, as baianas de cacau. Agora a moda é soja. O que o homem planta, a anta vai atrás. Esse fenômeno de urbanização do animal, invadindo lavouras tem nome:

Me abaixo aqui na mata, cercada de um enorme jatobá, procuro suas pegadas. Elas são grandes do tamanho de um prato de sobremesa. Uns 15 cm a da frente e uns 16 a posterior. Facílimo de identificar. São três marconas enormes, ocasionalmente, se o terreno é fofo, a pata anterior tem uma marquinha do lado esquerdo, baixa. Somam então quatro.

Ela come muita raiz, muito fruto, muita folha. Anta não come carne, apesar deste tamanhão todo – as maiores podem pesar umas 20 arrobas – e da fome incessante. São ótimos dispersores de sementes. As mais bonitas para mim são as cinzentas, bem escuras. Gosto das marrons, também. Numa noite dessas, eu consegui montar na crina duma delas, foi divertido, igual o caipora faz.

Já vi uma brava. Fica assoviando forte. Uma loucura. Parece esse povo no trânsito de Goiânia. Horrível. Depois vão fazer manobra e trombam em todo mundo, e a fama quem leva é o animal. Uma pena.

Quem é tapado é o homem da cidade, a anta é tapir, nome verdadeiro, indígena. Os cientistas colocaram perissodátilos pelos seus dedos, pelo menos respeitaram o resto.

JB Alencastro