Ariranha

“Ariranha”

Depois de achar o rio, irei mergulhar um pouco. Lá de longe a moçada mais legal que conheço. Elas são aquáticas. As ariranhas. Sua turma é geralmente de uma dúzia. Essas moram por perto, pois vejo filhotinhos ali com elas.

A ariranha pegou fama de assassina no Brasil. Lá em Brasília, na capital, uma vez um menino caiu no fosso delas. Elas tinham nenéns recém-nascidos. Cada mãe pari de 2 a 3 pequeninos em cada barrigada. Elas atacaram-no com aqueles gritos. Mas então um capitão metido a herói saltou para salvar o garoto. Tenho certeza de que elas nada fariam. Contudo o intrometido foi pra cima delas. Elas o estraçalharam, lógico.

Uma ariranha adulta tem quase 3 metros de comprimento, incluindo a cauda, que é um verdadeiro leme. Elas nadam maravilhosamente. Ondulam. Até fora d’água o fazem também. Um andar tão característico que meu namorado utiliza nas competições de natação. Nado borboleta, claro.

Aquela árvore ali na beira, espinhenta e de flores vermelhas é uma corticeira, ou bico-de-papagaio. Debaixo dela, elas fizeram um túnel. Lá moram. E tem até saída de emergência e respiradouro. Em junho floresce. Fica lindo. Quando pegam peixes grandes vão pra debaixo da sombra comer. Se tem muito peixe, o rio piscoso, deixam o resto para a piranhas. Se o peixinho é pequeno, devoram nadando mesmo.

Estudei e aprendi várias línguas. Sou boa em cachorrês, gatês, macaquês, ratiano e lontrino. Lontrino é a melhor. Por exemplo, quando elas estão felizes, de barriguinha cheia, sai um latido curto, quase uma risadinha como a que se dá no fundo da sala de aula. Se estão com fome, sai um “girrk” bem alto. Esse eu adoro e sei imitar direitinho. Agora, a raiva, a fúria é aquele grito insuportável. E para namorar, um assovio; “fô-fi-viu-fôô”.

Elas não são nada discretas. Saindo fora da curva do rio, o rastro é uma marca típica. Os cinco dedos palmares – se tiver lama – com a linha que une as garras, e em baixo uma letra “v” invertida. Os posteriores são fáceis também. São os mesmo cinco dedos e logo um escudo. E o que identifica: o risco no meio que é a cauda.

Por falar em identificação, todo menino, menina e adolescente quer ser diferente. Tem gente que pinta o cabelo, raspa, faz um corte esquisito. A ariranha não. Ela carrega no peito a sua marca individual. São manchas brancas, às vezes até meio amarelas. Bem direitinho na garganta. Um colar personalizado.

Eu por exemplo tenho uma pinta na cabeça, mas ninguém vê. Será que você tem uma marquinha também?

JB Alencastro