Capivara

“Capivara”

Não resisti e subi na embaúba para tentar conversar com o bicho-preguiça. Entretanto assovio agudo e alto seguido de um estrondo caindo n’água me chamou atenção. Era uma enorme capivara. Devia pesar mais de 100 kilos e ter um metro e vinte de comprimento. Ela mergulhou velozmente e só a vi lá longe, subindo numa ilha.

Meu espírito curioso impede-me de ficar quieta. Apesar de eu dormir de dia, vou lá me apresentar. Diferente dos outros roedores, a capivara é tímida. Outro dia vi uma ficar mais de duas horas sentada, igual um cachorro, somente olhando pra cima e dando umas viradinhas com o pescoço, como se escutasse algo que eu nem vi e nem farejei.

Depois disso, vi aquela mancha enorme sobre o nariz dela, era um macho. No grupo deviam existir mais de 20. Elas são boazinhas. Mas têm uns dentões da frente, os incisivos, que podem furar até couro de anta. De uns tempos pra cá elas estão invadindo as lavouras. Gostam de milho, arroz, cana e melancia. Soja, não. Os fazendeiros ficam furiosos e dão tiros nelas. Elas fogem, mas depois voltam.

Quando fui cumprimentar minha amiga capi’s eu descobri uma coisa sensacional. Suas patas da frente não têm membranas, como as de trás. Ou seja, a roedora gigante – é o maior do mundo – consegue correr bem e nadar melhor ainda. O rastro dela dianteiro é muito lindo, em forma de três pontas e no chão fica bem na frente do posterior, como o bando é sempre grande, pode se sobrepor.

Capivara é como meu amigo gordinho da escola. Come muito, vive parado, mas quando provocado não afina pra porrada. É gente boa, pode ser convidada para passear de dia ou de noite. Um animal que pasta as graminhas das praias fluviais e do fundo dos rios.

Já existiu capivara maior ainda. Um palentologista –gente que estuda os fósseis, por exemplo, os dinossauros- amador descobriu lá no Rio da Prata, no Uruguai. Ela deveria ter quase três metros de comprimento e uma tonelada de peso! Imagina o tamanho do cocô dela?

Aliás, a capivara não é suja, e nem merecia ser chamada de porco-d’água. Ela somente vive cheia de lama porque quando o barro seca, protege dos insetos, principalmente o mosquito-pólvora que é uma desgraceira.

O problema dela é o tamanho, igual à sua bondade. O povão aproveita dela, por isso eu que sou menor fico esperta e não dou moral pra todo mundo. Olha, quando se irritar, capi’s, pode vazar:

- Cai, n’água capivara!

JB Alencastro