Onça-parda

“Onça-parda”

Depois de beber água, costumo passear pela mata. Mas um miado longo, estridente, assustou-me. A macacada saiu voando pelas árvores em desabalada carreira. Eu posso até não ver quem é, mas eu sei. É a onça-parda, a suçuarana, o puma, o leão-da-montanha. Bicho discreto, mora em toda a América-do-Sul e Central. Muitos já viveram nas Montanhas Rochosas dos EUA e Canadá e tem até na Flórida, pertinho da Disney.

De repente ela sai de cima de uma enorme paineira e cai no chão com um macaco morto na boca. Foi um pulo de uns quinze metros até o solo. Ela nem te ligo. Dá uma olhada na minha cara mascarada e novamente salta. Um pulinho de uns três metros e depois de uma pequena corridinha, outro pulo com o dobro de extensão. Vai saltar longe assim na casa do chapéu!

Desse jeito ninguém pega ela, talvez por essa competência em caça, a onça-parda sobrevive até hoje. Ela mata praticamente tudo que anda, voa ou rasteja. Poderia fazer até filme de mocinho e bandido. Só não sei se ela é mocinha ou bandida. Para os fazendeiros, criadores de ovelha ou mesmo os que possuem galinheiros grandes, ela é uma assassina feroz. Realmente. A suçuarana destroça tudo e ainda rói o osso atrás do tutano. Quando mata, guarda e recobre a caça com folhas para se servir depois. Mas jamais come algo que ela mesma não tenha capturado.

Porém para o meu primo do norte, o racoon; ela é maravilhosa. Em Montana, nos EUA, capturaram um puma quando pequenininho, ele ainda tinha pintas. Depois que cresceu foi ficando avermelhado e com o pelo bem comprido (onde é frio o leão-da-montanha é peludo, no cerrado é curtinho; adaptação). Brincava com todo mundo e protegia a casa. Morando lá dentro. Ronronava como um gatinho. O cougar é o maior gato do mundo. Ele adorava dar água pra ela. Como onça tem sede! Por isso dizem que “é hora da onça beber água”.

Era um filhotinho de uma prole de quatro. A mãe matou os outros. Geralmente ela mata os da primeira barrigada. Vai entender... Eu, como sou curiosa até meu último fio de pelo da minha cauda felpuda, fui dar uma olhada no rastro da bichona. Ela é digitígrada e tem uma patona com as quatro impressões dos dedos da frente, mas sem as garras – que são enormes – e a almofadinha no meio. Só perde para a pintada, em tamanho. Mas em ferocidade é a primeira.

Muita gente diz que a onça-parda é covarde. Mentira. Ela sabe se portar em meio hostil. Se tem onça-pintada, ela caça animais menores. Se tem humanos, se esconde. E assim vai sobrevivendo. Entretanto eu já vi uma parda dar uma coça numa pintada. Verdade! Talvez –como acontece na escola e na vida- ocasionalmente uma retirada estratégica é melhor do que o enfrentamento direto. Lá vai ela pra sua toca de pedras...

De todo modo minha mata é considerada preservada, pois tem onça. A presença da onça, o topo da cadeia alimentar garante essa qualidade. E aí? Tem grandes felinos na sua região?

JB Alencastro