Tamanduá-bandeira

“Tamanduá-bandeira”

Quando eu disse que ando livremente nos cerrados, é só quando não me sinto ameaçada. Na maioria das vezes durmo de dia e saio de noite. O tamanduá é o contrário. Ele perambula pelo campo limpo na maior tranqüilidade. Só uma onça pode matá-lo. Ou o ser humano, porque razão eu não sei, já que ele só come formiga e cupim. Nem dente tem. Na entrada do seu estômago ele tem um músculo que esmaga os alimentos...

O cerrado lá do Parque Nacional das Emas, onde já morei, é dividido em campo limpo e campo sujo. O primeiro tem só grama, e aquele capim-flecha. Cheiinho de cupinzeiro. Em outubro as larvas ficam fosforescentes, parece uma catedral iluminada de verde-azulado. É o famoso fenômeno da bioluminescência. Lembra os olhos dele... E o segundo é o campo sujo, com uns arbustos meio que espalhados. O tamanduá também gosta, pois é coalhado de formigueiros.

Tamanduá não come qualquer tipo de inseto, por isso é dificílimo ser criado em cativeiro. Não enxerga nada, escuta mais ou menos, só é bom de faro. Então, muitas vezes é atropelado. Vi um deles no morto na estrada, na sua barriga tinha uns 2 kilos de cupim. E a língua? Gigantesca, mais de meio metro. Lembrei-me dele fuçando pelo chão, e depois detonando um cupinzeiro inteiro com sua unha do terceiro dedo que é acerada dos dois lados e deve ter uns 6,5 cm de comprimento. Fura tudo. Aí a pegada fica sendo a mais fácil de se identificar, é um gancho duplo voltado pra dentro. E acompanhada dos cinco dedinhos com as respectivas unhas e a almofada triangular.

O bandeira dorme enrolado nessa cauda espessa e de pelos duros, cobrindo completamente a sua grande mancha preta que sai do pescoço até o meio das costas. Acho linda essa flecha preto-e-branco que é formada com a borda branca. O meleta, o primo arborícola, só sai à noite, mas a pelagem dele é também muito elegante. Parece estar sempre vestido de colete. Todo tamanduá sobe em árvores, desde o bandeira até o sedoso, que se chama tamanduaí. Esse quase ninguém conhece. Bem pequenino, o focinho é mais curto e o pelo ruivo e macio. Lindão e raro.

O filhotinho é mais clarinho e carregado nas costas até completar um ano. Devido a sua unha desproporcional, o bichão dobra as unhas contra as patas, passando apenas o dorso das mesmas no chão. Fica meio desengonçado. Já vi galopar uma vez, devia estar fugindo de onça. Neste caso só tem duas saídas: ou mergulha –já que nada muito bem, mas a onça também- ou fica de pé e dá aquele abraço. Fincando as unhas na pintada, matando a ambos. Já que ela não solta, continua mordendo e ele também não, continua cravando. O famoso “abraço de tamanduá”.

Somente uma perguntinha para os mais espertos:

- Quantos bichos tem na palavra sApato?

Vou responder, são três! A sapa e o pato. O terceiro? Será que você não reparou no tamanho do “A”?

JB Alencastro