Teiú

“Teiú”

No cerrado mesmo, no campo, tem mil flores. Roxas, amarelas, lilases, azuis, rosas, vermelhas, amarelas, brancas, creme. As meninas são assim também, variadas. Mas os meninos parecem teimar em ter o mesmo tom. O comportamento igual. Igual ao teiú.

Mas a lingüinha é cor-de-rosa.

Tiú é bicho nojento. Nasce verdinho, alguns até meio azulados, depois de uns dois a três meses de gestação. No meio de uns trinta ovos, saem aqueles lagartos. Não respeitam nada. Ficam comendo o que vem na cabeça, correndo na terra, com aquele rabão. Porém a lingüinha é cor-de-rosa.

Por fala em cauda, já viram como os meninos são preocupados com o bumbum? É seu rabo pra lá, meu rabo pra cá. Como se fosse uma coisa importante. Soltam pum o tempo todo. Uns porcos. Os bichos também comem muito ovo, larvas, insetos. Quando pequenininhos a mãe acostuma a comer frutinhas e flores. Depois desembestam. Já reparou que criança pequena come até verdura se for devidamente educada? Entretanto a lingüinha é cor-de-rosa.

É sem dúvida nenhuma o maior lagarto brasileiro. No meio de flores em forma de tubo, cheiinhas de néctar e melzinho, lá estão eles. Comendo. Entre essas florezinhas azuis e lilases e tons de roxinho, passeia o lagartão. Descompromissado de tudo, um à toa no meio do capinzal. Só sondando o terreno. Contudo a lingüinha é cor-de-rosa.

Eles costumam morar nas bordas das matas de galeria. Crescem bastante. Já viu tejú de quase um metro e meio, somando a cauda. Menino quando espicha meio desengonçado, ele também. A cor escurece para uma preto-azulado, aparecem umas faixas transversais no corpo amarelo-escuras, vão até o rabo, sendo que neste as faixas viram anéis. Bonitos do seu jeito. Tem quem acha. E a lingüinha é cor-de-rosa.

Diferente dos seus primos iguanas, que só comem folhas, eles são agressivos. Belicosos. E já vi cachorro grande sair correndo de tanto levar rabada de teiú. Atingem a cara do agressor com uma chicotada potente. Quando menino o meu querido foi mexer com um deles e ficou com uma cicatriz enorme na coxa. Mas ele conta que cortou a cauda do lagarto. E que ia toda semana perto da toca dele para ver se havia morrido. Todavia a lingüinha é cor-de-rosa.

Que nada! Não é que o animal regenerou sua extremidade? Primeiro ela nasceu fininha e comprida, mas depois engrossou. E ele disse que o tiú abria aquela boca enorme com mil dentinhos serrilhados e pontiagudos. E botava pra fora a sua lingüinha cor-de-rosa.

Menino é assim mesmo. Ainda bem que tem adulto que conserva a sua criancice depois que cresce. São os melhores. Eu torço muito pros teiús do mundo humano conservarem a sua língua cor-de-rosa.

JB Alencastro