Tucunaré

“Tucunaré”

Ele entrou no Mato Grosso em 82 com a ruptura de uma barragem. Depois disso dizem que invadiu todos os lagos, represas e rio do país. Com sua voracidade, sua energia de viver, foi eliminando os outros peixes e só sobrou ele. O tucunaré. São muitos no Brasil, mas só cinco devidamente estudados. É o peixe que mais variações de cor apresenta. E por causa de suas nuances, eu o elegi como meu predileto do meu coração.

Desde pequenino criado pelos pais, é seguro e forte. A mãe fica na toca de pedras e dormita deitadinha à noite no fundo do rio, no remanso. O pai fica circulando e protegendo. Ocasionalmente até os guarda na boca. Nascem lisinhos, são várias desovas por ano. Cheio de manchinhas brancas que vão sumindo, os pais cuidam até dois meses de idade ou mais ou menos seis cm. Aí aquelas três pintas pretas vão sumindo e aparece o grande olho no fim do rabo. Aquele ocelo preto, circundado de amarelo, que todos os tucunas têm... Marca registrada. Surgiu a mancha, ficam independentes.

Saem em enormes e poderosas turmas, seus grupos parecem times de pólo-aquático, reuniões dos grandes nadadores. Dos explosivos, dos que não desistem nunca. Jamais você irá ver um deles deixar de lado a presa. Se errar o bote –coisa rara- ele insiste até final. E quando pega o inseto – na juventude – ou o peixe, é pela cabeça. Come-o imediatamente.

Gostam de calor, das águas quentes. Como o filme da loura, quanto mais quente melhor. Ativos ao máximo entre novembro e janeiro, acalmam – um pouquinho- em junho e julho. São águas com mais de 24 graus Celsius e ácidas. Mansas, paradas, debaixo de troncos, nas beiradas, de manhã e de tarde. Ao meio-dia vão pro meio do lago. Enfrentam tudo. Não migram. Grandes e bravos. Meninos esforçados.

De corpo perfeito, achatados, proporcionais. O lombo é sempre escuro. Tronco amarelo-esverdeado, patriotas. Uns descem três listas negras bem marcadas, o amarelo, por exemplo. Este fica com meio metro de 3,5 quilos quando adulto. O paca é marrom e sem listras, e preserva as pintas brancas da infância, pode pesar até 12 quilos. O Açu é azul, lindo de morrer, como os olhos dele em dias claros de sol, um metro de poder e escamas, pesando até 7 quilos. E o pitanga? Este tem uma mancha vermelha sob a boca. Todos ficam mais coloridos quando felizes e saudáveis. E olhos encarnados de tanto nadar. Cheios de gracinha. Faltou só um, o vermelho; ou o borboleta, cada lugar tem um nome diferente. Mas é sempre o mesmo.

Contudo o que mais me encanta é que quando adultos andam sempre aos pares. O macho e sua fêmea. São inseparáveis. Crianças crescidas que nunca deixaram as brincadeiras de lado. Prosseguem rápidos, eficiente e –principalmente- imprevisíveis.

Sejam como os tucunarés, não larguem a essência dos sonhos de infância e cresçam sem barreiras ou represas. Amem seu nome, que nem etimologia (origem) comprovada tem. É um nome próprio, e único; o seu. Tucunaré.

JB Alencastro