BELA, A BONECA BELA

Bela é uma boneca muito bonita, como indica seu próprio nome. A mais linda da loja. Todas as meninas que a olham se encantam com ela.

Só havia um problema em sua vidinha de boneca: não estava se sentindo feliz, pois, seu grande desejo era ter uma boa amiguinha que dela cuidasse e lhe desse muito carinho.

Não tardou muito e uma menininha se aproximou:

- Quero esta, mamãe!

- Mas você já ganhou tantas bonecas e nem deu valor, escolhe outro brinquedo.

- Outro eu não quero, só serve esta boneca!

A mãe, então, resolveu levar a boneca.

Foi um dia bastante feliz para a bela boneca que adorou ser escolhida por aquela doce menina.

Ao ser desembrulhada, , qual não foi a surpresa para Bela, havia ali no quarto, uma caixa cheia de brinquedos. De todos os feitios e tamanhos.

Luísa, esse era o nome da dona da boneca, nos primeiros dias, não desgrudou de sua nova amiga. Penteou várias vezes seus longos cabelos, tirava e recolocava meias e sapatos e a colocava para dormir em sua cama.

Bela estava se sentindo verdadeiramente feliz, pois havia encontrado uma amiga ideal, carinhosa e cuidadosa.

Luísa tem um irmão chamado Rafael, que também dorme num quarto, onde também tem um baú, cheio de brinquedos.

Depois de uma semana, a vida de Bela começou a mudar. A garota esquecia a boneca em qualquer lugar, até chuva tomou no jardim. O cachorro arrastou-a várias vezes pelo quintal.

Passados alguns dias, a mãe de Luísa encontrou uma perna da boneca jogada debaixo da mesa. A roupinha tão colorida não tinha mais cor.

Dona Ema, esse era o nome da mãe de Luísa, ao encontrar o corpo mutilado de Bela, recolocou a perna e pôs a boneca dentro da grande caixa de papelão, agora no quarto de despejo.

Grande foi a surpresa de Bela que, a essa altura, se sentia a boneca mais triste do mundo!

Dentro da caixa, havia outras bonecas estragadas, faltando braços e pernas, trenzinhos-de-ferro com trilhos quebrados, carrinhos sem rodas, soldadinhos de chumbo com as cabeças e braços destruídos e uma viola soltando cordas.

O quarto escuro causou muito medo à bonequinha. Só não entrou em desespero porque sabia que, na mesma caixa, havia outras bonecas semelhantes a ela e isso a confortava.

Foi dentro dessa caixa que bela conheceu a verdadeira estória do casal de crianças e seus brinquedos, contada por um urso de pelúcia muito sério, que também se encontrava ali, muito triste, por faltar-lhe um dos olhos:

“Dona Ema, a mãe das crianças, vivia ameaçando parar de comprar brinquedos, caso não parassem de destruir. Mas, ameaça que não se cumpre...Não parava ela de comprar, nem eles de destruir” e o resto Bela já sabia, sentia na pele de borracha suja e descorada.

Bela perdeu ali a noção das horas, nem sabia há quanto tempo se encontrava naquele lugar, bem pior que na vitrine da loja.

Numa manhã qualquer, a empregada da casa abriu o quartinho, levando para fora a grande caixa.

Bela e os demais companheiros da caixa passaram, aos poucos, a compreender o que estava acontecendo: pessoas que trabalhavam nas creches passavam pelas residências, recolhendo donativos, tais como roupas e brinquedos. Até então, Bela não tinha compreendido o que aconteceria dali para frente, só se deu conta de que estava dentro de um carro em movimento, como acontecera no passado, só que agora não estava feliz e nem tão bela como antes.

Chegando ao destino, que seria uma creche, a caixa passou direto para a oficina de recuperação.

A sorte dos brinquedos começou a mudar. A violinha ganhou cordas novas e uma demão de verniz. Os carrinhos, rodas; o urso, um bom banho e olhinho novo; o trenzinho, totalmente recuperado; a bola de futebol, capota nova e tudo ia-se transformando como num milagre da boa-vontade.

E Bela, o que aconteceu a ela? Bem, como as outras bonecas, ganhou vestidos, um novo penteado, um bom banho de espuma, além de meias e sapatos bordados com linha de retrós.

Bela voltou a ter aquela antiga preocupação, quem seria a sua nova amiguinha?

No dia da festa de entrega dos brinquedos, a criançada toda não cabia em si de contente e tagarelava como um bando de pássaros. Todos os brinquedos tiveram melhor destino.

Como termina essa estória? Bela nunca mais foi abandonada pelos cantos por sua nova amiga. Continua bela e muito limpa e tem muitas roupas.

O que aconteceu com Rafael e Luísa? Bem, na aula de Artes, a professora que ensina a seus alunos a fabricar seus próprios brinquedos, como antigamente, também ensinou sobre a importância de conservá-los novos e bonitos. Rafael e Luísa, a partir dessas lições, lembraram de tantos brinquedos destruídos por eles, sentindo muita pena e um forte arrependimento.

De acordo com o que ensinou a professora, quem não aprende a cuidar do que é seu, quando cresce, passa a pichar muro, destruir orelhões, monumentos públicos e muito mais...

Rafael e Luísa compreenderam e nunca mais estragaram seus brinquedos e passaram a ensinar a outros como tinham sido tolos antigamente, antigamente mesmo.