COMO NOS CONTOS DE FADA. A quais caminhos, hoje, nos levará a sua história?

Quando a vovó sorri, o mundo se transforma. Vovó conta uma história e eu me transporto para um mundo encantado. Vovó adoece e eu tenho medo que se vá a minha estrela. Vovó usa saias de algodão, compridas vestes que lhe cobrem os pés, pés que calçam alpargatas e usa meias de lã.

Reunindo-nos num aconchegante quarto, quietinhos e quentinhos esperamos a sua história. No chão, abraçados às nossas pernas magrinhas. Nossos olhos faíscam de curiosidade. A quais caminhos, hoje, nos levará a sua história?

Vovó começa a contá-la...

Longe, muito longe daqui, onde existem castelos suntuosos, onde as fadas em ricas vestes azuis, alaranjadas, douradas e prata, salpicadas de estrelas verdes...fazem voos altos ou rasantes ao redor das torres dos palácios.

Nesse lugar de sonho existiu um príncipe jovem e garboso chamado Rayan que sempre fora muito feliz, uma criança amada e respeitada por todo o povo do lugarejo. Mas, a criança cresceu. E, mesmo sendo príncipe e muito rico, sentiu chegado o momento de arrumar uma companheira.

Queria casar-se e ter muitos filhinhos para povoar o palácio e correr pelas longas salas e pelos jardins onde ele próprio se deliciava com a brisa leve a perpassar entre as árvores. Gostava do cheiro do pomar, das frutas, do bom jardineiro que colhia os melhores frutos e os trazia no seu avental para oferecer-lhe.

Não lhe faltavam moças, nem propostas de casamento. Seus pais sempre lhe apresentavam ricas donzelas, envoltas em seda e ouro que gostavam de música, sabiam dançar como se dançava na corte.

Seus pais morreram, o príncipe não conseguiu dar-lhes a alegria de pelo menos um neto.

O príncipe não sabia o que era amor. Saber até sabia. Conhecia o amor de seus pais por ele e sabia do amor que sentiu pelos pais. Sabia o amor através do tempo vivido junto e dos cuidados que recebera.

Mas, àquelas moças ele não as conhecia para poder escolher uma delas. Como seria o relacionamento futuro com alguém que não conviveu? O problema era como escolher alguém para viver ao seu lado. Isso entristecia o príncipe. Não sabia como resolver esse impasse.

Certa noite e em muitas outras noites insones, ele custou a dormir.

Na verdade, o costume daquele tempo era casar com alguém desconhecido. Bastava saber a que família pertencia, se eram pessoas de posse material e de bons costumes. Seguia-se a tradição. Mas, esse era um rapaz diferente. Ele pensava muito. Ele se preocupava com o seu futuro e com o futuro que adviesse de sua escolha.

Na dita noite, após revirar-se na cama, Rayam adormeceu e o seu sono agitado acabou por levar-lhe para outras paragens. Viu-se andando por onde não conhecia. Um lugar montanhoso, cheio de verde e de maravilhosas cachoeiras. Andou pelos arredores de uma vila e ao avistá-la ele pensou:

Lugar pequeno é que tem flor. Quem sabe eu estou no lugar onde vou encontrar a princesa. Aqui tenho a oportunidade de conhecê-la sem que ela saiba quem eu sou.

Mais um pouco... um lago. Dentro do lago, uma jovem banhava-se, não estava nua, mas usava pouca roupa.

O príncipe ficou envergonhado com o que via. Queria ir-se e ficar. Queria correr para não ser visto, mas seus pés não se arredavam do chão. Foi aí que a moça, chamada Myriam o viu. Não se envergonhou. Saiu da água, cobri-se com um manto e lhe dirigiu a palavra.

Conversaram e caminharam juntos até a casa da jovem. Lá o príncipe conheceu os seus pais, pobres e honestos lavradores. Myriam era também filha única de pais já velhos e bondosos.

Foi-lhe oferecida comida simples e gostosa. Uma cama limpa e aconchegante. O príncipe disse-lhes que não se lembrava quem era, nem sabia se estava sonhando ou acordado. Os pais de Myriam, ao invés de ficarem com medo do rapaz, apiedaram-se dele. Ofereceram-lhe hospedagem pelo tempo que precisasse. Para pagar a hospedagem, e no sentido de gratidão, o príncipe transformou-se em um lavrador e cultivou a terra. Ajudou a colher e foi como um filho para aquela família humilde.

Um dia, percebeu-se sentindo algo inusitado. Seu coração disparava quando Myriam, sem um pingo de maldade, puxava-lhe pela mão e o levava a passear. E se seus olhos se encontravam, o príncipe ficava rubro de vergonha. Um dia encheu-se de coragem e declarou o seu amor à jovem. Disse-lhe que se não fosse um sonho ele queria torná-la sua princesa. E que se sonho fosse, ele não queria acordar. Havia descoberto o amor que ele queria. O amor que veio do conhecimento prévio e da amizade conquistada.

Naquele momento, Rayan e Myriam se beijaram. O príncipe pensou penalizado que iria acordar. Abriu mais os olhos, fixou-os, tentando ver o seu quarto. Nada aconteceu. Ele apenas via a linda mocinha e a varanda rodeada de flores. Feliz se sentiu. Ele não havia sonhado e sim pusera-se a caminho para buscar a sua felicidade e a encontrara. Como nos contos de fadas...