A Menina Maluquete- Capítulo 2

Capítulo 2 Os Adultos São Muito Bravos

Tia Malu estava muito mal humorada! Droga! Quanta coisa chata e desinteressante a gente tem que fazer! Ir ao banco, fazer contas, pensar como ganhar dinheiro, limpar a casa, etc., etc. Sentou-se no banco e respirou profundamente! O Jardim Encantado tinha o dom de acalmá-la!

O dia estava esplendoroso! Também, depois da chuvarada do dia anterior! Chovera a cântaros! Nossa! Que expressão mais antiga!

-O que quer dizer isso, tia Malu?

Tia Malu olhou para o lado e lá estava ela, balançando as perninhas...

-Chover a cântaros? Cântaro é uma espécie de jarro para carregar água. Chover a cântaros quer dizer “chover como se fossem despejados baldes de água, chover muito”.

-Ah, entendi... Choveu tanto que nem tive uma festa de aniversário...

-É mesmo, ontem foi seu aniversário! Parabéns! Dê-me um abraço!

Abraçou-a meio sem graça. Era como se fazer aniversário fosse constrangedor, vergonhoso. A menininha suspirou:

-Nunca tive uma festa de aniversário!

-Não? Quantos anos você fez ontem?

-Cinco.

Tia Malu tinha feito 57 anos.

-E como é ter cinco anos?

-Não sei... Ainda estou um pouco assustada desde que nasci...

-Assustada com quê?

-Com os adultos. Eles são muito bravos.

-São bravos desde que você nasceu?

-São. Desde quando eu estava na barriga de minha mãe. Eu ouvia vozes, gritos, gente que falava brava. Acho que era a voz de meu pai. Eu sentia muito medo quando ele falava bravo. Fui ficando encolhidinha e não queria sair de lá. Aí foi ficando apertado, apertado e então chegou a hora. Senti que ia ter que sair!

-E como foi?

-Foi mal! Acho que minha mãe estava com mais medo que eu! Ela gritava feito louca! E eu me apavorava cada vez mais! Em vez de ela soltar os músculos para eu sair, ela apertava e apertava! Pensei que fosse morrer de tanta aflição!

-Quer dizer que se ela relaxasse seria mais fácil?

-Claro que sim! Mas ela estava com mais medo que eu! Havia muitas vozes de homens bravos que gritavam. Acho que eram os médicos e meu pai. Senti algo me puxando pela cabeça e me arrancando de lá. Foi muito violento e eu saí roxinha, quase morta!

Tia Malu estava apavorada! Conforme a menina falava, ela ia sentindo tudo, como se fosse com ela! Quase desmaiando, perguntou:

-E depois, como foi?

-Depois, em vez de me embrulharem num cobertor quentinho e me colocarem quietinha em cima da barriga de mamãe, me levaram para uma mesa fria, me lavaram, viraram, chacoalharam, até eu chorar bem alto e começar a respirar. Que medo e que frio eu senti!

Tia Malu sentia tudo também! Até via a sala do hospital e as pessoas se movimentando.

-Depois o medo passou?

-Melhorou. Mas cada vez que vejo pessoas adultas falando bravas, tenho muito medo!

E chegou mais perto, como a pedir abrigo. Tia Malu colocou o braço nos seus ombros e, respirando fundo, pensou: “Se esta menininha apareceu aqui, é porque alguma coisa tem a ver comigo ou algo tem que ser feito para beneficiar a ela ou a mim ou as duas. Peço a meus amigos que inspirem minhas palavras”.

-Nada mais de medos, minha querida. Tudo isso já passou. Os adultos são de todos os tipos: alguns são bravos, irritados, mas não são maus, é apenas o jeito deles; outros são mesmo violentos e devemos evitá-los. Viver neste mundo não é muito fácil, mas temos que encarar isso como uma grande aventura!

A menininha olhou para tia Malu:

-Como assim, como uma grande aventura?

-Uma aventura é uma forma de aprender, com curiosidade e confiança. A vida neste mundo é como uma escola, onde estamos aprendendo. Há coisas boas e más, coisas mais difíceis e mais fáceis; a todo o momento as coisas estão acontecendo, porque estamos numa aula em movimento, ao vivo e em cores! Mas se soubermos viver, torna-se uma aventura muito agradável e interessante!

-Você pode me ensinar a viver assim?

-Minha querida, acho que podemos aprender uma com a outra e com a Vida!

-Que bom! Agora que conheci você sinto uma esperança de não ter mais medo e ser feliz!

Ela sorria e seus olhinhos brilhavam! Tia Malu sentiu uma enorme ternura por aquela menininha assustada! Abraçou-a com carinho e prometeu:

-Seremos grandes amigas e vamos aprender muitas coisas lindas uma com a outra!

(amanhã continua…Um abraço aos que leram e comentaram!)