Era um dia chuvoso quando ele apareceu dentro de minha casa. Pequeno, frágil, olho grande e assustado. Ficou, ali, a me olhar de frente, aquele sapinho.
         - O que será que está pensando? Sentindo? Onde estará sua mamãe?
         E assim, cheia de perguntas, decidi deixá-lo por ali, catando seus bichinhos. Depois ele foi embora. Sumiu!

         Passados dias, lá estava ele de novo! E assim ficamos amigos, acostumados um ao outro. Banzé, o cachorrinho da casa – mestiço de vira-latas e pequinês – também foi aceitando sua presença. Do mesmo modo Chiquinho, um franguinho carijó, guaxo de mãe e que fora criado ali, entre as pessoas da casa e em minhas mãos.  




        Aquele sapinho ficou “da casa” e, já que passara a fazer parte da família, dei-lhe o  nome Tibúrcio e assim todos passaram a chamá-lo.
         E o tempo foi passando, passando. E Tibúrcio cresceu e cresceu. Virou um lindo sapão ...

         Era tão engraçado. Sabe o que ele gostava de fazer? Comer macarrão! Sim! Comer macarrão... E ia comendo aquele fio que aos poucos puxava e que ficava caído do lado de fora de sua boca!


         Comiam os três juntos, sobras de comida: Chiquinho, Banzé e Tibúrcio. No fim Tibúrcio nem parecia mais um sapo... Mas era um sapão! Não podia ouvir o barulhinho do talher raspando a comida no prato – depositada na vasilha onde a bicharada comia – que lá vinha ele pulando... pulando... Era um sapo alegre e guloso!



         E quantas vezes o vimos lá, dormindo embolado com seus dois amigos! O Banzé se enrolava todo e ficava parecendo uma almofadinha. Seus pelos - cor de mel no corpo e branco nas patinhas e barriga – eram grandes e macios. E sabe onde iam se acomodar o Chiquinho e o Tibúrcio? Sim exatamente ali, naquele ninho macio!

        

     Tibúrcio virou meu companheiro de leitura. Eu tinha mania de ler na varanda – por ser mais fresca que o restante da casa – e a luz atraía muitos bichinhos. E quem ficava ali a catá-los? Claro! O Tibúrcio, já grade e fofão. E não tinha dúvidas de catar aqueles que caíam ali próximos aos meus pés! 

         Um dia meu irmão – que morava em Brasília - chegou e viu aquilo. E disse-me:
         - Calma! Fique calma! Não se mexa! Não se assuste...
         Desconfiada, parei de ler e olhei para baixo e lá estava ele. Disse então ao meu irmão:
         - Ah! Não é nada! Esse é o Tibúrcio!
 
 
         

Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 20/08/2009
Reeditado em 20/08/2009
Código do texto: T1764548
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