Natal de Lua na aldeia 
 
     Era uma vez uma menininha chamada Lua. Ela tinha quase cinco anos, era saudável e tinha a pele rosada como a manga rosa madura... Gostava de passear em shoppings, comer no Mac Donald’s – ah! O Mac Feliz! - ter sapatinhos parecidos com os de bailarina, bordados com coisas que brilham. Muito educada, alegre, carinhosa, tinha, porém, um grande defeito: gostava de brinquedos muito caros!
     No seu aniversário de quatro anos ela queria muito uma boneca cara demais. Então sua vovó lhe perguntou:
     - Como ninguém pode dar-lhe sozinho esse presente, o que você escolhe? Ganhar vários presentes? Ou todos se juntarem e dar só essa boneca cara para você?
     - Prefiro ganhar só a boneca cara. Ela respondeu.
     O mesmo aconteceu no Natal: ela queria um vestido novo e outro brinquedo caro. Como sua mamãe não lhe pode dar o brinquedo caro demais, comprou outro, que ela podia pagar...
     Lua não se conformou! Chorou, chorou... E, chorando, adormeceu sentida e soluçante. Ela sonhou que foi parar bem longe, numa aldeia de índios que falavam uma língua diferente, bonita. Ela estranhou porque todos andavam sem as roupas que conhecia no seu mundo.
     Era uma aldeia redonda, com uma casa no centro onde só os homens podiam entrar. Caçavam, plantavam, gostavam muito de comer peixe sem qualquer tempero conhecido, apenas um sal feito com as cinzas de uma planta aquática. As crianças corriam no pátio central e as mulheres estavam tecendo rede, fazendo farinha, descaroçando algodão.
     Lua estava um tanto assustada quando, bem perto dela – e muito curiosa – chegou Makaway, com seus cabelinhos brilhantes, pretos e longos.    No sonho de Lua, somente Makaway podia entendê-la, dialogar com ela através de uma linguagem mágica. Então a menina perguntou à Lua:
     - Menina, como é o seu nome?
     - Lua. Ela respondeu. E o seu?
     - Makaway...Por que você está chorando tanto?
     - Porque eu não ganhei vestido novo para o Natal!
     - Vestido? Natal? O que é vestido? Natal?
     - Vestido é isso que está cobrindo meu corpo...
     - Ahhh!! Eu nunca tinha visto uma menina assim com o corpo todo escondido...Você tem algum problema no corpo? Por que está com essa coisa esquisita?
     E Lua lhe respondeu que lá, onde mora, todas as meninas andam sempre assim. Que uns vestem tecidos caros, outros chitões, dependendo se for rico ou pobre...
     - Rico? Pobre? Eu não sei o que é isso. Aqui nós andamos com nossas pinturas, nossos enfeites, que todos têm. Disse Makaway.
     De fato, o seu corpo estava todo pintado com uma tinta escura, formando figuras diferentes e na testa um traço largo de uma tinta cheirosa e avermelhada. E Lua, olhando em volta, viu que os homens traziam faixas de algodão nos joelhos, braços, cintura. E nos cabelos bem aparados, uma tinta avermelhada. E as mulheres estavam pintadas e adornadas também com faixas de algodão. Olhou para si e, pela primeira vez, sentiu-se muito diferente!
     - Vamos brincar? Perguntou-lhe Makaway.
     - Vamos! Cadê as bonecas? Os quebra-cabeças? As bicicletas?
     - Eu não sei do que está falando, Lua. Nós aqui brincamos de correr, com brinquedos de palha, temos nossos joguinhos, correr atrás de borboletas...mas gostamos mesmo é de banhar no rio!
     - E o que vocês comem?
     - Mel, peixe, beiju, paca, frutos do mato e os que plantamos...um monte de coisas! Respondeu Makaway.
     Havia chovido e no céu tinha um lindo arco-íris. Então Makaway disse a Lua:
     - Sabe? Lá na ponta desse arco-íris tem um pote onde está guardado um lindo colar de caramujo!
     - Caramujo? Não sei o que é...Eu nunca vi um. Disse Lua.
     O sol já estava alto quando Lua acordou com a campainha do telefone, que tocara forte.  E ficou feliz quando viu em volta seus brinquedinhos, até os mais simples e velhinhos. Vestiu seu vestido para o almoço de Natal sem reclamar da vida porque já era usado...E repensou seu jeito de ser, pois aprendera que a vida pode ser alegre de outro jeito!

 
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 30/10/2009
Reeditado em 01/07/2020
Código do texto: T1895202
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