A chave
Ela já era adolescente, quando, em um daqueles papos descontraídos com os pais, meio sem graça, revelou uma arte...
Antes contou cenas na escola, aulas que havia faltado só para ficar de conversa com suas cúmplices, coleguinhas que queriam provar o sabor de fazer algo proibido...
Depois de muitas voltas...revelou.
- Mãe, sabe aquela chave, redonda, do armário da sala? Aquela, que você procurou por toda casa e não encontrou... questionou a todos sobre o destino dela e .... nada???
Vou confessar: fui eu que a perdi.
- Lembra daquela excursão que fomos ao Parque da Mônica, no Rio ou foi ao zoológico? Não me lembro direito...
Lembro-me de ter retirado a chave e a guardado, no bolso do meu casaco...sem que ninguém visse!
- Mas, minha filha...por que levou a chave?
- Ah, mamãe...ela era linda...achatadinha, redondinha e dourada! Eu queria ela pra mim... e eu via você e o papai com suas chaves, cuidando para não perdê-las, com poder de abrir a nossa casa...queria também ter uma! Além disso, ela era linda...
Uma pausa...risos...
- Minha filha...e aí? Você a perdeu... ficou triste e nem nos contou? Poderíamos lhe dar outra!
- Não, mamãe...fiquei com receio de revelar que a peguei escondido e a perdi...depois que o tempo passou, a esqueci...agora, ficou mais fácil falar, pois relembrei do fato e já nos encontramos em outra situação, não é mesmo? O armário ainda está sem a chave dourada...mas vi que vocês não deram mais importância à perda daquele objeto. Só os procuraram porque fazia parte do armário...mas outras coisas eram mais importantes. Até poderiam ter encomendado outra a um chaveiro...nem assim o fizeram!
- Como damos importância a coisas pequenas, não é?
- Mas você era apenas uma criança, filha...tinha sonhos dourados...(risos)
- É verdade... mas os sonhos dourados são para toda vida, não é mesmo?
- Claro, querida! Você tem sua chave...ela é dourada; por ser somente sua, por lhe dar o "poder" de abrir portas e é invisível... a mais importante de todas: é aquela que abre as portas do seu coração.