MEU CIRCO

Quando eu era criança não tinha muitos amigos, não por que eu não fazia, mas por que a minha mãe era muito cuidadosa e falava pra que eu brincasse em casa, minhas irmãs não podiam brincar comigo e meu irmão mais novo não entendia algumas brincadeiras como também não tinha muita imaginação e o jeito era brincar sozinho.

Vídeo game? Era coisa de rico. Às vezes a gente jogava fliperama na rodoviária com o dinheiro do lanche que os nossos pais davam pra gente. E era difícil ganhar presentes. Bom mesmo era no dia das crianças quando distribuíam nas festas.

Os nossos brinquedos nós mesmo fazíamos. Depois da aula nós nos reuníamos e íamos procurar materiais descartáveis como: lata de sardinha, carretéis de linha, lata de leite, barbantes, papelões, pedaços de madeiras, arames e etc.

Com esses materiais nós inventávamos a Roladeira, que era feito com a lata de leite cheia de areia, um pedaço de arame e barbante, o nome já está dizendo, era só puxar e fazer carreira. O Carrinho de corrida era feito com a lata de sardinha e um pedaço de barbante que ia direto ao carretel e no furo do carretel vinha um pedaço de arame feito uma manivela que a gente rodava e o carrinho vinha em nossa direção, quem chegasse primeiro na linha de chegada era o campeão, era sensacional.

Tinha também outras brincadeiras como: Bola de gude, soltar pipa, jogar bola, o vira moedas, garrafão, tô no poço, adivinhação, trinta e um alerta que era uma brincadeira de esconde-esconde, tica-tica e muitas outras, mas o que eu mais gostava era de brincar com o meu circo.

Tudo começou quando eu fui pela primeira vez num circo, fiquei maravilhado com tanta alegria, ri muito com os palhaços, achei muito interessante o equilibrista e o malabarista, os animais amestrados e os anões, não saiam um só instante da minha cabeça e resolvi fazer um circo. De brinquedo, é claro!

Fiz tão bem feito esse circo que parecia de verdade. Levantei a lona do circo com um guarda chuva velho que tinha no quintal, peguei palitos de picolé e fiz o picadeiro, com palitos de fósforo fiz as jaulas... Quase perfeito! Mas faltavam os artistas e foi então que eu tive a idéia de usar alguns insetos, lagartos, aranhas, minhocas e outros bichinhos.

Fiquei o dia todo observando os movimentos dos bichinhos.

A primeira foi a lagarta. Eu pensei: dá pra ser a equilibrista. Só que ainda não sabia que ela se escondia num casulo e depois virava uma linda borboleta. Eu quase briguei com o meu irmão por causa disso. Mas deixa pra lá, eu sempre arranjava outra.

A aranhazinha era a mais teimosa, eu passava horas esperando ela descer na sua teia. Mas quando ela descia era com muita classe... Muito linda!

Os besouros que tinham asas eu amarrava uma linha depois das asinhas dele com cuidado pra não machucá-los e eles ficavam voando em círculos, era muito legal. Não se preocupe, eu sempre os soltava depois.

Os escorpiões eram os leões, eu os prendia nas jaulas de palitos de fósforos. Depois que eu fiquei sabendo que a picada deles doía muito eu parei de usá-los como atração.

Os grilos eram os malabaristas, eu colocava encima deles um caroço de feijão e quando eles pulavam jogavam os caroços pro alto... Eram engraçados.

Como apresentador eu usei um louva- a- deus, aquele gafanhoto

verde todo desengonçado que fica com as patas sempre pra frente. Eu o achava muito elegante.

Ah! Os anões, eu quase que se esquecia de falar neles, na realidade tinham muitos bichinhos que eu poderia usar como anões, mas os mais bonitinhos que eu encontrei foram as joaninhas, pense num besourinho difícil de encontrar.

E os vagalumes!... À noite eu soltava alguns dentro do circo, trancava a lona para não fugirem e ficava observando aquele jogo de luz que parecia uma árvore de natal piscando... Simplesmente uma imagem que jamais esquecerei. Aliás, nunca me esquecerei do MEU CIRCO.

FIM