Conto infantil: O rei e o nariz do rei

Era uma vez um rei muito simpático e bondoso que tinha um nariz muito grande, ao contrário do seu corpo e do seu reino, que eram bem pequenos.

O tamanho do nariz incomodava demais o monarca e, por causa desse incômodo, de vez em quando, esquecia a simpatia e ficava irritado com o mundo. Quando alguma pessoa olhava diretamente para ele, logo dizia:

--- Acha que não sou feliz porque tenho este nariz?!

Às vezes, as pessoas nem reparavam direito, porque elas tinham mais o que fazer da vida. Mas o narigão era uma pedra no sapato do pequeno rei. Se uma pessoa não olhava diretamente para seus olhos, o reizinho disparava:

--- Você não olha pra mim porque meu nariz é assim?

Não tinha jeito! E o rei já estava evitando se encontrar com as pessoas do seu reino. Não queria mais olhar na direção de uma criança, pois tinha medo da sinceridade delas. Uma vez, uma menininha apontou o dedo para o nariz real e disse:

--- Olha que grandão, mamãe!

O rei olhou feio para a menina e para a mãe dela e resmungou:

--- O meu nariz é grandão, mas eu tenho educação!

E assim as coisas caminhavam. Até que, um dia, o rei ficou sabendo que no seu reino havia uma mulher que fazia qualquer feitiço.

--- Uma vez ela transformou uma lagarta horrível numa borboleta linda, linda! – diziam as pessoas que sabem mais do que as outras.

--- Ela transforma sapo em coisa e coisa em sapo – diziam as pessoas que acham que sabem mais do que as outras que sabem mais do que as outras.

O rei tratou logo de mandar buscar a mulher. Assim que ela entrou no castelo, ele foi dizendo:

--- Se a senhora é o que por aí se diz, trate logo de arrumar o pobre do meu nariz!

A mulher, então, disse ao rei:

--- Majestade, Majestade, não funciona assim a vida! A gente faz uma coisa e, por causa da primeira, logo a segunda acontece.

--- Ora, deixe de conversa, que eu tenho muita pressa! Eu ando é muito irritado com este nariz alongado!

A mulher quis explicar ao rei:

--- Na vida da gente, uma coisa puxa a outra e...

--- Eu estou muito infeliz e nada pode ser pior do que ter este nariz! – disse, quase chorando, o reizinho narigudo.

A mulher, então, resolveu levar o rei para um quarto do palácio e ficou com ele por lá um tempo. Quando saíram, o nariz do rei estava proporcional ao seu tamanho. Todos do reino ficaram admirados e comentavam sobre a nova cara do rei.

O simpático reizinho, então, para comemorar, mandou dar uma grande festa. As pessoas todas do reino estavam presentes. Em determinado momento, o rei, querendo agradecer à mulher pelo favor que lhe tinha feito, pediu a atenção de todos e disse:

--- Queroquero agradecerdecer aa todostodos pelapela presençasença. Fiquemfiquem àà vontadetade, queque aa festafesta terminaránará bembem tardetarde.

A maioria dos presentes estava de cabeça baixa e de cabeça baixa ficou. Algumas pessoas, porém, sem controle, soltaram risinhos fracos. As crianças se entreolharam, arregalando os olhos e tapando a boca com a mão.

O rei só estava maravilhado com a perfeição do seu nariz.

Todos dançaram até bem tarde para não perder a comilança e também para agradar ao reizinho, que era simpático e bondoso.

O tempo passou. Um dia, o reizinho acordou coçando a cabeça no meio da noite, levantou-se e, chamando o ministro de mais confiança, perguntou-lhe:

--- Sejaseja meumeu amigomigo! Temtem algumaguma coisacoisa estranhatranha comigomigo? Ninguémguém maismais querquer meme olharolhar... seráserá oo meumeu jeitojeito dede falarfalar?

O ministro, que era sábio, respondeu ao rei:

--- Nenhum problema, Majestade! Nenhum problema. Todos nós, os súditos, é que estamos com um sério problema para ouvir o que Vossa

Majestade tem para dizer!

O rei, então, voltou para a macia cama e dormiu o sono real.