O IMPASSE

O I M P A S S E

No começo, a muitos eões passados, tudo era caos, ou ordem, sei lá!

O sol orbitava tranqüilo seu percurso, de alguns parsecs, pela via Láctea; a terra como um cordeirinho seguia-o e a lua, parecendo um cachorrinho pulguento, fechava a fila. No entanto se quisessem qualquer um poderia ter sua própria órbita sem depender de favores de qualquer um dos outros.

De grátis o sol fornecia luz e calor a terra e à lua, também sem pagamento algum as segurava, no cosmo celeste, com sua gravidade, e protegia-as dos planetas, dos buracos-negros, das mulas-sem-cabeça, lobisomens e de mim.

Um dia o sol se rebelou, e por nada neste mundo iluminaria e aqueceria a terra com sua luz e calor respectivamente. As razões apresentadas as mais estapafúrdias: cansaço mental, empáfia da terra, que não agradecia os serviços prestados por Ele e o mais esdrúxulo era que suas pilhas de energia estavam se descarregando e com a inflação alta como estava o preço da pilha andava pela hora da morte.

A lua na sua garbosa e humilde existência se propôs a iluminar e aquecer a terra, só que para isto exigia fidelidade ampla, geral e irrestrita da terra. A terra não mais poderia orbitar em volta do sol, não poderia mais usar da gravidade do sol para dar vida ao reino vegetal e não poderia uma infinidade de “não poderia”.

A terra se predispôs a ser fiel, só que deixou claro à lua que aceitava se a irradiação da luz a terra fosse luz e calor próprios da lua e não reflexos da luz solar. No que se criou um impasse, pois a lua não possui luz nem calor próprios e o sol não mais forneceria a lua o suficiente para refletir a terra. E o que é pior, hoje o preço da vela no mercado negro subiu tanto que é praticamente impossível iluminar o mais ínfimo quarto de pensão.

Como a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, foi no que deu. A lua foi obrigada por força de contrato perpétuo a orbitar em volta da terra, com a mesma face sempre voltada para esta, a uma distancia regulamentar, sem se aproximar nem afastar do pré-determinado. E como retaliação á terra, o sol impôs a esta, orbitar em volta deste para todo o sempre, faça chuva ou faça sol, também a uma distancia regulamentar.

Só que sem saber o próprio sol também está obrigado por leis imutáveis a orbitar numa distância regulamentar, o braço da galáxia. E por força de contrato ainda tem que carregar e zelar dos planetas, cometas, asteróides, satélites, meteoros, meteoritos, cavalos-marinhos, escaravelhos, cobras e lagartos; além de mim.

(agosto/1994)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 12/07/2011
Reeditado em 12/07/2011
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