REUNIÃO NA FLORESTA.

Netinho é um menino esperto e muito preocupado com a preservação da natureza.

Desde pequenininho ele mora em uma casa que fica bem próxima a uma mata, apesar de ser dentro da cidade.

Lá tem sapo, sagüi, teju, cotia e tamanduá que, com sua língua enorme, adora comer cupins e formigas. Ecaaa!!!

Toda noite passam pela casa de Netinho quatro raposas. São o papai e a mamãe raposa e seus filhotinhos. Eles vão procurar ovos de galinha nas casas próximas.

Ainda à noite, os bacuraus e as corujas, enquanto cantam, procuram insetos e pequenos ratinhos da mata para se alimentarem.

De dia os pássaros fazem a maior algazarra, cantando e brincando nas grandes árvores. Tem sanhaço, tem sabiá, pintor de sete cores e xexéu, jandaias e até um tucano aparece por lá!

É muito lindo ver todos esses animais bem pertinho de casa, só que, toda essa beleza está ameaçada! Os homens estão derrubando as matas para plantar capim, cana-de-açúcar, e também para construir casas. Os animais estão perdendo o seu espaço e cada vez mais, estão ficando sem comida e sem casa para viverem!

Numa noite dessas, Netinho, deitado em sua caminha, no escuro, olhava para o céu estrelado que aparecia pela janela do seu quarto. Enquanto esperava o sono chegar ele pensava: meu Deus, o que vai acontecer com os animaizinhos que estão perdendo suas casinhas e ficando sem ter o que comer? Aí ele começou a rezar e pedir ao Papai do céu que ajudasse aos seus queridos amiguinhos da mata!

Netinho estava quase dormindo quando ouviu um zum zum zum no lado de fora de sua casa. Ouviu gargalhadas bem altas, ouviu um canto lindíssimo entoado por uma bela voz de mulher! Daí a pouco ele viu uma bola de fogo passar bem rápido em direção à mata, clareando o caminho por onde passou! Netinho sentiu também um forte cheiro de fumo, parecido com o do cachimbo da dona Maria Chiquinha, sua antiga babá.

Ele ficou muito curioso, e na pontinha dos pés foi até a janela para ver o que estava acontecendo lá fora.

Ao longe avistou alguns vultos que se mexiam entre as folhagens das plantas mais baixas. Percebeu uma claridade próxima a esses vultos e resolveu ir até lá.

Apesar de pequeno ele era metido a corajoso. Pulou a janela sem fazer barulho e foi bem de mansinho ao encontro daquilo que ele nem imaginava o que fosse!

Ao chegar bem pertinho Netinho ouviu vozes estranhas, umas bem grossas, outra, muito suave e doce. Ouviu risos e gargalhadas que davam um friozinho de medo em sua barriga, mas a curiosidade era maior e ele foi se aproximando por entre as folhas!

Avistou logo de cara um animal estranho que parecia um cavalo sem cabeça, pegando fogo no pescoço. Era a MULA-SEM-CABEÇA!

Assustado, pensou em voltar, mas teve medo de ser descoberto. Olhou para o lado e viu passar um moleque com um gorro vermelho, fumando um cachimbo e saltando em uma perna só, gargalhando e rodopiando, transformando-se em um pé-de-vento, desaparecendo e aparecendo adiante. Era o SACI PERERÊ!

Mudo e espantado Netinho foi reconhecendo aquelas criaturas que estavam reunidas na mata.

Havia uma mulher linda que, da cintura para baixo era como um peixe, e tinha uma voz suave que parecia um canto. Era a IARA, sereia que vive nos rios, para protegê-los.

Perto dela estava uma mulher muito feia, com longos cabelos amarelos e desgrenhados, e um corpo enorme de jacaré. Ela ria muito e dava gritos assustadores! Era a CUCA!

De costas para Netinho estava um homem nu, com os cabelos de fogo, e montado em um porco selvagem. Os pés dele eram virados para trás. Era o CAIPORA, ser que domina os animais da floresta e ataca os caçadores!

Junto dele estava um anão de cabelos muito compridos, e que também tinha os pés virados para trás. Era o CURUPIRA, que também é protetor das matas e dos animais silvestres. Ele é uma espécie de duende.

Encostado em um pé de pau estava um estranho ser, com pêlos avermelhados, pele de jacaré, pés virados para trás e exalando um mau cheiro terrível, um fedor de gambá. Arrgghh!!!. Tinha nas mãos, longas garras de bicho preguiça. Era o MANPIGUARI, protetor das selvas amazônicas.

Ao centro, comandando aquela reunião na mata, estava uma cobra de fogo, com seus olhos vermelhos cintilantes, tinha enormes presas afiadas e uma língua preta e comprida que saía e entrava em sua boca! Era o BOITATÁ, também conhecido como fogo que corre, pois a cobra vira uma bola de fogo que corre muito veloz e espanta aqueles que desrespeitam a natureza! O BOITATÁ é o protetor das matas e dos animais.

Essa reunião foi convocada por ele, para que juntos, todos esses seres das lendas do folclore brasileiro, discutissem uma forma de proteger as matas, os animais e consequentemente, o meio ambiente do Brasil, porque por mais que eles estejam se esforçando, não estão conseguindo salvar a natureza!

Netinho ouviu tudo muito atentamente apesar de estar com um pouco de medo. Ele não sabia se aquelas criaturas tinham conhecimento de que ele estivesse ali espiando. Desconfiou que eles soubessem, e que aquela reunião bem ali, pertinho de sua casa havia sido de propósito, para que ele a assistisse. Na dúvida, ele não interferiu nem se apresentou.

Depois de muita discussão o BOITATÁ concluiu a reunião dizendo que todos precisavam se esforçar muito mais, e que sozinhos eles teriam grandes dificuldades, portanto, era necessário conquistar o apoio dos homens, mulheres e crianças de bom coração, pois só assim a natureza seria protegida. Marcou também outra reunião para dali a dois meses, em outra mata, em outro estado do Brasil, na tentativa de divulgar em lugares diferentes a necessidade de união de todos para proteger o meio ambiente.

As criaturas foram se despedindo e saindo, cada qual à sua maneira. O SACI deu um rodopio num pé só, transformou-se num redemoinho de vento e sumiu! A IARA começou a cantar, e como por encanto, desapareceu! O BOITATÁ deu uma olhadela em direção ao Netinho, piscou um olho para ele e enrolou-se como uma bola de fogo, disparando em direção ao interior da mata! E assim, todos desapareceram.

Já era tarde. Netinho, meio tonto, sem entender bem o que tinha presenciado, voltou para casa, deitou em sua caminha macia e quentinha e logo adormeceu.

No outro dia pela manhã, sua mãe veio acordá-lo para ir à escola. Ainda sonolento Netinho lembrou-se do que tinha acontecido na noite anterior. Só não sabia se aquilo tudo havia sido real ou um grande sonho!

Na dúvida, contou para sua mãe que havia sonhado, pois, não queria levar uma bronca por ter ido à mata sozinho, ainda mais, à noite! Descreveu para ela, tin tin por tin tin, o suposto sonho. Ela, admirada, disse-lhe: que belo sonho, meu filho! Mostra que você se preocupa com a natureza! E completando perguntou: e você não ficou com medo daquelas criaturas? Então Netinho respondeu-lhe que ficou com um pouquinho de medo, mas que sabia que a feiúra e a gritaria da maioria daqueles seres são para assustar e espantar aqueles que querem fazer mal à natureza.

Tendo sido sonho ou realidade, Netinho prometeu a si mesmo que, daquele dia em diante, seria uma daquelas pessoas que o BOITATÁ e seus amigos precisam para defender as matas e os animais!