Quando setembro vem


Com setembro vem a primavera e com ela as flores. Com as flores as cores que se escondiam no inverno.
Sei de alguém, muito alguém, que gosta de flores, Foi quem as fez. Não gostasse, não faria. Ele vestiu as flores com suas cores melhor que se vestia Salomão, o rei mais bem vestido que já existiu.
As flores estão por aí. Espalhadas pelos canteiros das casas. Escondidas nas frestas das pedras nas serras ou se ocultando nas entranhas dos bosques e florestas.
As flores são silenciosas. Falam apenas através do formato, da cor e do perfume.
As flores são presenças humildes e quietas. Parecem olhos da terra, coloridos, vindos da natureza para nos olhar.
As flores são companheiras. Seguem conosco todos os caminhos.
As flores vão aos casamentos.
Enfeitam o quartinho do bebê que nasceu.
As flores aceitam dormir conosco o nosso último sono, quando todos ficam de fora são elas que descem conosco, como a última lágrima.
Que isso menina! Não chore, sua boba! As flores são o carinho da nossa saudade.
As flores são tão humildes e a ternura delas tão grande que estão sempre prontas para morrer com quem morreu.
Você se lembra quando o biso adoeceu? Lembra-se das flores com sua meiguice alegrando o quarto do hospital, enfeitando a mesa onde os remédios se misturavam?
As flores estão em toda parte. São a lembrança doce da namorada que a gente não esquece. Você mesma, minha flor, quantas vezes ofereceu flores como presente na homenagem do dia das mães, lembra?
Ah! Menina, minha florzinha, as flores contentam-se com ser flores e com tornar mais bela a terra que as gera e onde os homens geram seus problemas.
Sem as flores o planeta seria bem diferente. Não as veríamos enroscadas nas colunas dos alpendres, subindo pelos telhados ou debruçadas sobre os muros, olhando como crianças atentas os homens e as coisas dos adultos.
As flores falam da beleza e da fragilidade do tempo e contam histórias curtas, retalhos da grande história do Deus que as criou. As flores são flores! Isto é tudo o que elas são. E não poderiam deixar de ser ou de existir.
Por isso quando setembro chega elas retornam, como um tapete acarpetando o chão das nossas vidas e lembrando a cada um de nós um modo humilde de viver.
As flores dizem que a humildade é a maior de todas as belezas.
Então, menina, vem cá! Me de a mão e vamos dar uma voltinha no jardim, esperar a primavera!