Os Sonhos de Damião
 
 
          Um acidente muito trágico havia escravizado um pequeno menino, de 7 anos, numa cadeira de rodas. Ele era um menino cheio de sonhos e fantasias como qualquer menino de sua idade.
          Sempre ficava em seu quarto, observando de sua janela, tudo que acontecia na rua; imaginando-se na posição daqueles meninos que brincavam a vontade.
          Ele havia perdido seus pais no acidente que o deixou na situação de cadeirante, invejava os meninos brincando de bola, de pique-pega, de polícia e ladrão e de outras brincadeiras. Contudo, fazia todas as amizades que podia e brincava com seus amigos, em sua casa, somente com o videogame. Mas, na realidade, o que ele queria, mesmo, era poder correr na rua e brincar de todas as brincadeiras de que ele estava acostumado assistia pela janela.
          Durante a noite, ele demorava a adormecer; ficava pensando em tudo que ele queria e podia ser e assim conseguia adormecer e sonhava com muitas coisas legais.
          Numa noite em que ele dormia profundamente, assim  sonhava...
          Uma grande tempestade no mar; as ondas eram gigantescas e naquela imensidão de água tinha um minúsculo navio com muitos passageiros que devido a fúria da tempestade gritavam a todo o momento.
          Desesperados, os passageiros procuravam o capitão do navio e seus tripulantes; e o menino era o capitão deste navio. Toda a tripulação estava temerosa, tamanha era a tormenta, mas o único que estava tranqüilo naquele navio era justamente o capitão. Que muito habilidoso, tomou as rédeas da situação; pegou a direção do navio e com manobras ousadas foi driblando as ondas que mais pareciam monstros tentando devorar aquele pequenino navio.
          E o capitão com toda a sua habilidade em guiar o navio, desviava das ondas com maestria; passava entre duas ondas que logo em seguida se chocavam, espalhando as águas do oceano e balançando o navio com muita violência e toda a ousadia e atenção os levaram a uma bela ilha, onde nas proximidades lançaram ancora e desceram todos os passageiros com segurança. Na ilha todos aguardaram o final da tormenta com muita alegria e fartura de comida. O capitão do navio era um verdadeiro herói. E assim, o menino acordava, de manhã, de seu heróico sonho.
          Ao acordar, o garoto contava, aos seus avós, a aventura que teve em seu sonho. Com muita empolgação, contava cada detalhe de seu sonho e seus avos ouviam atentamente e com um olhar de surpresa e interesse.
          Numa outra noite, voltou a dormir e um sonho começou...
          Estava sentado numa mesa de jogos sendo obrigado a fazer uma aposta em que não adiantava a recusa, já que o que estava em jogo era a vida das pessoas que ele mais amava, os seus avós.
          Tinha de apostar numa corrida de cavalos. E apostar justamente no cavalo azarão, que seria montado e assistido por ele mesmo e as chances de vitória seriam mínimas. Já que não tinha outro jeito, apostou. Se vencesse, poderia ir embora e ainda levaria um trocado. Se perdesse, seus adversários matariam seus avós e o deixariam viver sozinho sem a ajuda de ninguém.
          A corrida começou, os cavalos eram velozes e olhando de longe parecia até que voavam, já o cavalo azarão era o único que estava bem atrás sendo superado em vários corpos de vantagem. Os adversários riam a todo o momento e o menino com seus olhos arregalados pareciam crer que tudo aconteceria consigo e com seus avós.
          E a cada passada de pernas dos cavalos, o seu desespero aumentava e ele pensou: Esse é o meu sonho e nele eu posso tudo.      E no sonho, retirou do bolso uma pimenta malagueta e enfiou dentro da boca do cavalo e também soprou no seu ouvido que havia na chegada havia um barril de água para que o ele aliviasse a sede e a quentura da pimenta. Logo o pangaré, que ele montava, começou a atropelar todos os cavalos que estavam em seu caminho e faltando poucos metros para a chegada, o azarão já era o segundo e, no instante que cruzaram a linha de chegada os seus adversários vibraram.
          Mas ouvia-se nos alto-falantes que o resultado seria na “foto-replay”. E assim foi feito. E és que o azarão ganhou pela diferença de uma língua. O menino vibrou muito junto de seus avós que agora poderiam ir embora e não seriam separados, graças ao garoto e a bendita pimenta que estava em seu bolso. E logo o garoto volta a realidade acordando do seu sono e sonho.
          Foi ao quarto de seus avós contar a sua façanha e perguntar como eles se sentiam de ter um verdadeiro herói dentro de casa.
          E passou aquele dia com muito amor e carinho demonstrado através de suas atitudes com relação a seus avós. Ficou na janela de seu quarto observando os meninos brincando de pique-pega e ainda organizando uma olimpíada entre eles. O menino atentou-se mais no atletismo que era simulado pelos meninos na rua.
          O dia logo passou e a noite chegou e não tardou para que o menino começasse a sonhar. E nesse sonho o garoto era um corredor de atletismo que representava o Brasil nas olimpíadas. O estádio estava lotado e as várias bandeiras eram agitadas nas arquibancadas e os assobios e gritos eram ouvidos pelos atletas.
          Então ouve a chamada para a corrida de 100 metros; cada atleta se coloca em suas raias e aguardam o sinal para o início da prova. O garoto estava na raia 1, e pensava ele ser esse número um bom presságio. Ouve-se o disparo e a corrida começa e todos saem em alta velocidade. O garoto sai junto com os outros atletas achando que não conseguiria, pois, ali estavam os melhores atletas do mundo inteiro, mas logo percebe que ele havia chegado em primeiro lugar.
          E no lugar mais alto do pódio, recebeu a medalha de ouro e não conseguia conter as lágrimas quando começou a tocar o hino nacional brasileiro. Quando acordou ainda estava chorando emocionado com a conquista e por ouvir a torcida brasileira nas arquibancadas gritarem seu nome: _ “Damião! Damião!”.
          E mais uma vez ele havia viajado no seu sonho. E a sensação era muito boa, quando acordava desses sonhos, conseguia neles ser o herói que na realidade pensava que não poderia ser.
          A dura realidade vivida por aquele menino, despertava em seu subconsciente a vontade de ser apenas um menino normal. E nos seus sonhos conseguia alcançar e satisfazer as suas necessidades e anseios.
Emerson Mattos
Enviado por Emerson Mattos em 19/02/2012
Reeditado em 19/02/2012
Código do texto: T3508368
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