A raposinha LOLY e o coelho ZUKI (V)



Enquanto convalescia, a raposinha Loly teve muito tempo para refletir sobre sua vida e a de seu amigo Zuki. O esforço dele para alimentá-la e tratar de seus ferimentos fora essencial para a sua recuperação.
Loly ainda tinha dificuldade para locomover-se, mas decidiu que voltaria a batalhar por sua alimentação naquele dia. Saiu da caverna onde morava e quando tentou perseguir uma presa, a perna a impediu de fazê-lo. Ainda não voltara a antiga forma física, para correr, como fazia antes do acidente. E voltou triste para sua casa. Sem alimento.
No dia do acidente, Zuki quizera saber o motivo dela ter sido atingida por uma arma de fogo. Loly omitira detalhes do ocorrido. Alegara que logo que chegara ao sítio, o dono a havia descoberto e perseguido até a mata e ali ocorrera o disparo.
Na verdade, Loly já vinha se aventurando pelos sítios próximos à mata desde o dia que conhecera Zuki.
Por diversas vezes, ela havia invadido galinheiros para saciar a sua fome. No dia do acidente, o proprietário a descobrira, tentando abocanhar uma das galinhas, que apavoradas gritaram por socorro. Ela conseguira fugir, mas o proprietário a perseguira até a mata onde a atingira.
Loly sabia que sua atitude de invadir propriedades particulares para conseguir alimento não era nada ético, mas a floresta já não oferecia o suficiente para alimentar todos animais que viviam da caça. O principal motivo desta falta de alimento era o desequilíbrio da cadeia alimentar destes animais.

Quando chegou em sua casa, Zuki e Tutuko conversavam animados. Assim que avistou Loly, Tutuko declarou:
- Estamos nos organizando para a reunião com todos habitantes da mata. Será amanhã lá na pedra grande, próximo da casa da sapinha Mari. Estamos todos revoltados e tristes com o comportamento destrutivo dos humanos. A ganância deles supera qualquer princípio de preservação da mata e daqueles que aqui vivem.
Loly acomodou-se num canto da casa e somente então entrou na conversa: - Vocês acham que podemos impedir os humanos de devastar a floresta?
Zuki estava muito empenhado e falou: - A união faz a força. Podemos enviar uma carta com nossas assinaturas para Brasília. Lá existem órgãos competentes como IBAMA, IDEMA, que cuidam da preservação e cuidados com o meio ambiente. Têm até ONGS como o Greem Peace que defendem a nossa causa.
- Zuki, você tá muito sabido... Como ficou sabendo disto tudo?
- Bom, no sítio onde eu morava, tinha televisão, rádio, jornal e também escutava o seu Fritz comentando sobre o assunto. Também podíamos colher assinaturas dos animais dos sítios. Eles, assim como os habitantes da floresta, também sofrem com os abusos dos humanos.
- Loly argumentou: - Tô fora... Os fazendeiros estão à minha caça.
- Loly! O que andou aprontando? Está tão conhecida assim?
- Pior que sim... Confesso que no dia que te conheci, não tinha sido a única vez que eu havia me aventurado pelos sítios da visinhança.
- Então você corre risco de vida amiga. É bom não se ariscar mais.
Tutuko ia saindo da caverna: - Amanhã à tarde, lá na pedra grande.


No dia seguinte, quando Loly e Zuki chegaram à grande pedra, muitos habitantes da mata já se encontravam por lá. Cada qual se acomodara da melhor forma possível.
Estavam presentes a tartaruga Esmeralda, a sapinha Mari, o macaquinho Lipi e sua família, a esquilinha Jozi e seus irmãos, a família da coruja Lalá e muitos pássaros e pombas. O javali Dentão também estava presente e parecia impaciente com a demora de dona Onça Pintada.
Quando a mesma apareceu sobre a grande pedra, todos os animais se calaram para escutá-la: - Boa tarde a todos. Não tenho muito tempo, por isto vamos ser práticos e respeitar a opinião de todos os presentes. Enquanto um fala, os outros escutam, certo?
Tutuko foi o primeiro a pedir a palavra: - Por minhas andanças, escutei dos humanos certas coisas interessantes. Parece que esta mata é reserva florestal e não pode ser desmatada. Logo, fica mais fácil para a gente reivindicar nossos direitos.
- Muito bem amigo Tutuko!. Preciosa informação.- Elogiou a Onça Pintada. – O próximo, por favor?
- Conheço um bocado de animais dos sítios da redondeza. Eles, assim como nós, também estão insatisfeitos com certas situações da vida deles. Talvez eles se engajem em nosso movimento e assinam a nossa carta. Desta forma, o nosso movimento despertará maior interesse junto aos órgãos governamentais competentes, como também, nos humanos que são nossos defensores.
- Ótima sugestão, mas temos problemas. Quem se habilita a colher as assinaturas nos sítios? Você Loly? – sugeriu a Onça Pintada com certo grau de maldade.
- Porque eu? Tô fora... Colaboro com outras tarefas, mas andar pelos sítios atrás de assinaturas? Me poupe...
A tartaruga Esmeralda pediu a vez:
- Ofereço minha casa para colhermos as assinaturas dos habitantes da nossa mata e demais providências que terão que ser tomadas a respeito desta carta de protesto e reivindicações.
- Muito bem dona Esmeralda. Só temos um problema. Onde vamos arranjar papel e caneta? E o principal: como vamos enviar o documento aos órgãos competentes? Pelo correio?
- Isto não é problema. – Manifestou-se o pombo Juca. Eu e minha família em breve vamos à Brasília visitar uns parentes. Não custa deixar a documentação por lá.
Tutuko pediu a palavra e falou: - A sapinha Mari tem umas folhagens gigantes por lá. As folhas podem servir como papel.
A esquilinha Jozi emendou: - Podemos fazer um teste. Conheço uma planta de onde poderemos extrair a tinta para escrever. Pode funcionar.
A onça Pintada que a tudo observava, falou novamente:
- Já temos o local para colher as assinaturas, o material necessário e o transporte. Falta mais alguma coisa?
Zuki pediu a palavra: precisamos montar o texto para a nossa carta de reivindicações. Lá no sítio vi alguns modelos nos jornais do seu Fritz. No inverno, ele forrava minha casa com eles.
Loly aproveitou o momento e questionou: - Algum de vocês sabe escrever? Pelo que sei, aqui todos são analfabetos.
Silêncio total. Todos ficaram se olhando, na tentativa de encontrar alguém que soubesse escrever. Zuki aguardou algum tempo e como ninguém se manifestou:
- Posso tentar! No sítio, o filho do seu Fritz fazia seu dever de casa no quintal. Ele tinha um quadro mural e com giz, ele praticava seu português. Foi assim que aprendi as primeiras letras.
Todos os animais em uníssono aplaudiram Zuki. Aos poucos ele estava conquistando a amizade de diferentes moradores da mata.
A onça pintada anunciou o fim da reunião: - Antes de voltarmos para nossas casas, precisamos escolher o comitê que irá nos representar na redação da carta. Sugiro que Zuki, Tutuko, Loly, Esmeralda e Josi integrem o grupo, mas se mais alguém quiser colaborar, é só chegar à casa de dona Esmeralda e oferecer seus préstimos.
- E as assinaturas pelos sítios da redondeza?- Questionou o pombo Juca?
Todos os presentes se entreolharam preocupados e em pouco tempo a reunião virou confusão.
- Ordem! Assim não chegaremos a lugar algum! – Ordenou a onça Pintada. Indico os pássaros e pombos para esta missão. São ágeis, discretos e voam. Além de serem em grande número. Em pouco tempo podem cobrir um grande espaço e temos urgência para colher todas as assinaturas possíveis.
Dona Esmeralda declarou: - Os integrantes do comitê já estão organizados. Loly e Jozi são espertas e vão montar o texto e Zuki será o nosso redator. Mari ajudará o Tutuko a colher as folhas e a tinta para as assinaturas. A coruja Lalá se responsabilizará de encontrar penas de aves para servir de caneta. Outros detalhes poderão ser resolvidos conforme irão surgindo.


Duas semanas depois, as assinaturas já haviam sido colhidas. A família do macaquinho Lipi havia saído pela mata para divulgar aos demais habitantes da mata sobre a carta e todos haviam comparecido para deixar suas assinaturas.
Os pássaros e pombos haviam conseguido centenas de assinaturas de animais pelos sítios e fazendas da região. Porcos, cabras, coelhos, galinhas, bois e vacas, gatos e cães. Até alguns cavalos haviam assinado o documento. Todos os assinantes manifestaram seu descontentamento com os humanos.
A família do pombo Juca deixou a mata, carregado com a documentação e só restou aos assinantes da mata, dos sítios e fazendas, aguardar com paciência por uma resposta ao movimento deles:" A preservação das matas e de seus habitantes, além da conduta de bons tratos a animais domésticos e habitantes de sítios e fazendas de todo Brasil".


F I M

Escrito por Cristawein.
Cristawein
Enviado por Cristawein em 11/11/2012
Reeditado em 18/10/2022
Código do texto: T3980270
Classificação de conteúdo: seguro
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