O CAVALINHO POCOTÓ

Não parava um instante. Corria, corria, dava uma parada e num resfolegar, disparava como se fosse uma flecha.

Adorava correr nos campos e num garboso galopar, empinava a cabeça, levantava a cauda e lá ia o cavalinho relinchando, como se fosse uma criança gargalhando.

Parava quando via um riacho de águas limpas e sorvia o precioso líquido em goles que engolia com imenso prazer e parecendo criança sapeca, borrifava a água no ar, que se transformava em pequenas nuvens até que sumiam levadas pela brisa.

Sua pele brilhante tinha a cor marrom e muito vaidoso andava aos trotes, como se exibindo para uma platéia onde crianças ansiosas queriam montar o cavalinho meio rebelde, parecendo um moleque precisando de uns pitos para sossegar a sua rebeldia e então se acalmava.

Vinha o seu tratador que lhe dava o capim vem verdinho, triturado na máquina de moer, misturado com pedaços de cana, farelo de milho e uma pitadinha de sal para lhe dar o sabor e o cavalinho devorava tudo, como se fosse um guloso comilão.

Depois um refrescante banho de ducha de água fria fazia o cavalinho relinchar, demonstrando sua alegria e para mostrar sua molecagem, dava uns pinotes e coices disparava no ar, como se fosse um lutador para mostrar sua toda sua virulência e rebeldia.

Só que se acalmava quando a escova era passada por todo seu corpo, tirando os carrapichos que grudavam em sua crina, na sua cauda, pois rebelde saia em disparada passando pela capoeira que tinha até espinhos e carrapatos que poderiam ferir sua pele grossa, mas ele não ligava, queria só aprontar.

Um shampoo cheiroso era então passado naquela pele que já brilhava pelo banho refrescante e um perfume se espalhava no ar, deixando o cavalinho Pocotó garboso, sabendo que muitas namoradinhas que pastavam tranquilamente no pasto poderiam ser mais tarde conquistadas, quando então se tornaria um cavalo da raça manga-larga, sua descendência.

Uma toalha felpuda era passado em todo seu corpo, deixando bem sequinha sua pele sedosa, pois tinha rostinhos inquietos esperando sua vez de montarem no cavalinho que tanto adoravam, as crianças que vinham passar as férias na casa da vovó Cacilda e do vovô Maneco.

Vovô Maneco colocava então o encilho feito no tamanho do cavalinho Pocotó e primeiro foi a Claudinha, que montou rápida, e sendo muito esperta, não deixou o irmãozinho Paulinho montar e saiu já galopando, pois tinha prática de montaria.

O cavalinho adorava fazer esses passeios com a garotinha, tendo o cuidado de não galopar rápido, sabendo que Claudinha era pequenina e numa marcha cadenciada, parecia até contar suas passadas, pocotó, pocotó, pocotó, pocotó, pocotó, e depois satisfeitos, voltavam para a estrebaria.

Paulinho colocava seu chapéu de couro, botas de vaqueiro, calça rancheira e numa rápida montada, saia em disparava, dando gritinhos de satisfação, pois tinha em Pocotó seu companheirinho de estrepolias, principalmente quando iam até o pequeno bosque e ali tomavam banho no rio encachoeirado, escutando o piar dos pássaros, vendo as borboletas de todas as cores voando em todas as direções.

O cavalinho Pocotó era o queridinho dos dois irmãozinhos que sonhavam todas as noites com os passeios deliciosos que faziam no sitio de seus avôs em muitos fins de semana, mas que nas férias aproveitavam o máximo das delícias do campo, onde existiam muitos passarinhos nas matas, galinhas no terreiro, porcos no chiqueiro, vacas na estrebaria onde tomavam o leite quentinho e gostoso, o pomar onde colhiam todas as frutas e subiam nos galhos das árvores e lá no fundo, um rio de águas bem límpidas, onde pescavam e gostavam de nadar nas corredeiras.

Adoravam também a comidinha gostosa da vovó Cacilda e os doces caseiros, como cocada, queijadinha, doce de figo, doce de mamão e o que mais adoravam, doce de chocolate feito de leite condensado e a briga depois era para ver quem raspava o tacho de cobre com a colher de pau e o resultado final, todos ficavam lambuzados, necessitando depois de um banho quentinho e refrescante.

08-01-2013