CRIANÇA DIZ CADA UMA - II

CRIANÇA DIZ CADA UMA!

Meus netinhos estavam “arengando”, no banho e minha filha, atarefada naquele momento me pediu para agilizar o banho deles. Cheguei ao banheiro, abri a porta do Box e lá estavam Igor, 5 anos e João, 7 anos, meio ensaboados, sob o chuveiro, disputando a água que caia, empurrando-se mutuamente. Logo, logo, resolvi a pendenga, deixei João de lado e meti o Igor debaixo dos pingos d’água, esfregando-lhe o corpinho rapidamente e enxaguando-o em seguida, para dar espaço para João, o maiorzinho se incumbir de banhar-se.

Ajoelhando-me no piso do banheiro, abracei Igor, enrolando-o na toalha comecei a enxugá-lo partindo da cabeça, tronco e braços. Ao chegar aos pés, pegando sua perninha, a coloquei sobre minha coxa para facilitar enxugá-los, no momento em que ao se desequilibrar, ele apoiou as duas mãozinhas na minha cabeça e ficou alisando meus parcos cabeços brancos, que há tempos abandonaram a área central e somente povoavam as laterais. Continuei a enxugá-lo calmamente e ele, fazendo “cafuné” nos meus remanescentes cabelos, com sua meiga voz, saiu-se com esta: - “Vô, porque só nascem cabelos nas beiradas e no meio não nasce nada”?

Aquele momento mágico chegara ao fim. Segurando para não rir daquela inocente pergunta, no mesmo tom dele, consegui responder de pronto: - Sabe Igor, é porque tomei muito sol, sem usar boné, durante toda a vida, que queimou o alto da cabeça e matou a raiz dos cabelos...

Parece que a resposta lhe agradou e enquanto abaixado ali, enxugando a outra perna, eu me entretinha, Igor, mudando o apoio das mãos, apoiando na minha testa, começou a mexer nas minhas sobrancelhas eriçando os cabelinhos e em seguida amainando-os, falou assim: - “Vô, sua sobrancelha parece de vaca!” Aí eu não entendi e retruquei: - “O quê, menino, por que está falando assim comigo? Como minha sobrancelha parece de vaca? De onde você tirou isto?

Ele, sorrindo com minha falsa indignação, respondeu: - “Não, Vô, é que tem uns cabelinhos brancos e outros pretos, parece malhado, como a “vaca malhada”. Aí, não nos contivemos e caímos na gargalhada, inclusive o João, que a tudo ouvia e já estava se enxugando.

“São por estas e por outras que não troco a “profissão de Vô” por nenhuma outra” ...