A Tartaruga Tatá

Tatá é o meu nome. Dizem que sou uma tartaruguinha muito lenta. É mentira! É mentira! Isso é conversa do amigo Zik, um sapinho metido a besta só porque ganhou uma cadeira de rodas... Com a sua companheira Moka, os dois ficam tirando onda com a minha cara! Se eu ganhasse uma cadeira de rodas ou um carrinho queria ver quem iria me segurar!

No entanto, preciso arranjar um amiguinho para brincar comigo, estou muito aborrecida com a minha dona. A Belita, uma garotinha sapeca cisma em me deixar de pernas para o ar. Eu não sei que graça ela encontra em me deixar horas a fio naquela posição desconfortável. Vou fugir! Vou fugir daquela baianinha!

É isso! Vou dá um susto naquela danada! A vida dela é me constranger, não me dar chance nem de cruzar as pernas! Quando ela tirar da minha casinha, vacilar um minuto, escapo de fininho. Já tentei fazer greve de fome, mas ela nem percebeu que não comi nada, meu protesto não adiantou. Ah, Belita! Ah, Belita! Queria vê-la rodar a baiana com a minha fuga.

Tatá foi um presente de um amigo da família de Belita. E desde a chegada daquela tartaruguinha, Belita a tratava como se fosse um brinquedinho vivo e engraçado. E seu passatempo era pegar os brinquedos e com um " Pega Tatá!" e o casco de Tatá recebia as bonecas, bolas... Claro, por motivo de segurança, Tatá escondia a cabeça, fato que aguçava a curiosidade de Belita:

_ Tatá, não é hora de brincar de se esconder! Já te achei, Tatá! Já te achei!

E a danada da menina, abaixava a cabeça até o chão para tentar convencer a Tatá sair do seu esconderijo. Enquanto Tatá não obedecia, Belita não arredava o pé. O bom era que logo a menininha se cansava e Tatá respirava alguns minutinhos aliviada. Logo, ouvia uns passinhos ligeiros acompanhados de uma gargalhada, sabia que ela já estava de volta.

A fuga estava toda planejada, faltava colocar em ação. Tatá passou a manhã se alimentando de alface para não sentir fome durante a sua viagem. Sabia que o mundo lá fora era cheio de obstáculos, mas ficar de pernas para cima, Tatá não iria mais ficar. Sem saber o que se passava na mente de Tatá, chega Belita, com um carrinho amarelo na mão e sorrindo como o Sol. Dispara:

_ Tatá, trouxe um carrinho para você!

E sem aviso prévio, a menina coloca a tartaruguinha em cima de um carrinho e empurra. A coitadinha da Tatá levou um tombo! Foi o máximo! Belita achou que aquilo era para alegrá-la e volta a fazer o mesmo para provocar novos tombos e gargalhadas. A menina sorriu tanto que deu sede, e diz:

_ Tatá, fique ai! Não pule do carrinho que já volto! E sai em disparada para saciar sua sede! Ufa! ainda bem, que a garotinha se cansa rápido, pensa Tatá. Chegou a hora de fugir!

_Que sorte! Logo hoje que decido fugir de Belita, ela me traz a condução!

De imediato desço do carrinho, empurro e volto a subir, de vez em quando encontrava um obstáculo em minha frente, novos tombos. Vi escurecer e clarear diversas vezes. O cansaço era grande, mas não desistir. De vez enquando encontrava algum farelo de pão, biscoito... comia sôfrego. Quanto tempo estou fugindo?! Não sei, perdi completamente a noção de dia, noite, dia, noite, dia, noite, dia...

Só sei que senti saudade de Belita, aquela garotinha levada a breca...Mas, mesmo se quisesse voltar não tinha como, nem sabia qual direção seguir. Entrei em tantos túneis fechados, com aquele cheiro horrível de chulé... Mas queria nessa hora ser um mosquitinho para voar até ela e saber se ainda sente a minha falta. Acho que já me esqueceu! Eu não sabia que o mundo aqui fora reservava tantas surpresas! Ela não me preparou para as armadilhas fora da minha casa. Oh, minha casinha, uma caixa de papelão, que saudades!

Lá eu tinha comida, água fresca. E aqui o que me restou? Não tem ninguém para brincar comigo... Ai! o que é isso?!

_ZÁS!

_Oh! Fui capturada! Como pode um pescador deixar essa rede em meu caminho?! Que coisa mais chata! Planejei minha fuga e agora vou morrer de pernas para cima presa a uma rede! Oh, Belita! Como você me faz falta! Com certeza o seu castigo não passava de um minuto, com esse coração de ouro que você tem... Estou morrendo, sem poder lhe dizer o quanto gostei do tempo que vivi contigo... Ué! Estou delirando?! Já estou até ouvindo a gargalhada e os passos apressados de Belita...

_Vovó, veja como Tatá é ligeira! Enquanto fui beber água ela se escondeu atrás do mosquiteiro... Agora vou colocá-la de castigo de pernas para cima para deixar de ser sapeca!

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Bahia/2014

Elisabeth Amorim
Enviado por Elisabeth Amorim em 01/07/2014
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