Pipa Moleque
Na rua os cachorros ladram
E carros buzinam
Transeuntes passam
E homens meninos empinam
A pipa solta ao leu
Curtindo a linha no dente
Diluem o céu no papel
Sob um sol incandescente
Eles se tornam medonhos
Quebrando telhas de casas
Cultivando ledos sonhos
Felizes batendo asas
No corta e empina moleque
Moldando minhas lembranças
Baticum dum de alegres
Saúdo essas crianças
Respirar me faz feliz
Então abro a janela
Bom dia! O vizinho diz
Não vi, não sei, quem era?
Se me incomodam latidos
E buzinas me enlouquecem
Quase sempre aturdido
Meninos não me aborrecem
Meninos homens crianças
Nas pipas que eu não cortei
São transparentes lembranças
De coisas que já nem sei
Se são tiras do abstrato
Desantenadas suponho
Sem cara, cor e formato
E de quem me fiz estranho
Talvez culpa do papel
Que de fatos enrugou
Sem brilho, lançado ao léu
Quando do céu despencou
Não há mais linha no meu carretel
Não vejo mais minha pipa no céu
A lamina do tempo a cortou
Oh! A vida não aparou...Por que?