Eros da Silva
Eros da Silva
Numa terra distante vivia um casal Apolo e Afrodite. Ela grávida de 6 meses esperava um filho que se chamaria Eros. O sol iluminava o lago com seus raios dourados. Da outra margem do lago as plantações, que formavam um tapete verde. Na beira do lago estavam Apolo e outros pescadores com seus apetrechos, mas os peixes haviam desaparecido. Apolo, então, fez um acordo com Mãe d'Água que consistia no seguinte: Caso pescasse muitos peixes, dar-lhe-ia o seu filho Eros que haveria de nascer em poucos meses. Mãe d'Água parecia ter atentido o pedido de Apolo, pois em poucos minutos este pegou peixes em abundância, enchendo suas redes e voltando para casa.
Ao chegar à sua casa, Apolo ainda atônito com o que acontecera contou o acordo que fizera com Mãe d'Água a Afrodite. Esta apavorada bradou:
Nossa, homem! Você enlouqueceu?
Por que não ofertou o nosso cachorro, o Zeus? Disse Afrodite apreensiva.
Você acha que podemos trocar Eros pelo Zeus, Afrodite? - Será que Mãe d'Água vai aceitar?
Ora, não sei, mas não custa tentar. Afinal, você já fez a besteira.
Apolo mostrava arrependimento e ensaiava algumas palavras com o objetivo de convencer a Mãe d'Água a fazer a troca da oferta, aceitando o cachorro no lugar do filho.
Entretanto, por via das dúvidas, é melhor que Eros nunca enfrente qualquer água seja do mar, rio ou lago. Ele tará que viver sempre longe das águas, setenciou Afrodite.
Além, muito além daquela região, morava um Rei com três filhas, sendo que a mais nova se chamava Psiquê e era a mais bonita. As duas irmãs mais velhas de Psiquê haviam se casado com Reis, enquanto esta parecia confinada a um isolamento infindável. Não saía, não namorava e era bastante solitária.
Reza a lenda que como Psiquê era muito bonita, Afrodite – a deusa da beleza – sentiu um ciúme mortal e queria que Psiquê se apaixonasse por um monstro horrível. Como não conseguiu seu intento, investiu num outro feitiço. Psiquê jamais seria feliz e, caso fosse, a felicidade não duraria, pois ela deveria morrer.
A verdade é que Eros desde muito pequeno ouvira a estória de Psiquê e, lá no fundo, sabia que ela estaria esperando por ele. Portanto, quando saiu da adolescência, ganhou o mundo, percorreu intrépidas direções, ultrapassou os morros, perseguiu a própria sombra e singrou solitário em busca do verdadeiro amor.
Certo dia, encontrou um Leão, uma Formiga e um Pássaro-Rifle, brigrando e devorando os restos de uma rês. - Eros disse: Calma aí, amigos, tudo pode ser resolvido com um pouco de sensatez. - Vou ajudá-los.
Já não era sem tempo! Disse o leão. - Eles não respeitam nem o meu tamanho.
E o que você pretende fazer? Perguntou o Pássaro.
Bom, vou dividir em partes iguais e dar a cada um de vocês aquilo que lhe pertence.
Mãos à obra, amigo. Mal posso esperar! Comentou a formiga.
Eros pensou um pouco, coçou o queixo e começou a dividir a rês, do modo que lhe parecia mais justo. Deus os ossos ao Leão, a carne para a Formiga e os miúdos para o Pássaro.
Pôxa, cara, você é dez e quebrou o nosso galho, disse o Leão. - Leve esta presa com você e quando enfrentar algum perigo diga: Valha-me o Rei dos Leões.
Para mostar o meu agradecimento, leve esta peninha e sempre que estiver em apuros diga: Valha-me o Rei dos Pássaros. Lembrou o Pássaro-Rifle.
Pegue esta perninha e se estiver em dificuldades, basta dizer: Valha o Rei das Formigas.
Eros sentiu-se profundamente sensibilizado, agradeceu aos amigos, juntou as três prendas, colocou as mesmas na algibeira e partiu.
Meses depois Eros se encontrava em frente ao castelo de Psiquê. Usou a peninha e disse: Valha-me o Rei dos Pássaros e se transformou num lindo Pássaro-Rifle de um canto inigualável. Posou no telhado do castelo. Com seu canto atraiu a princesa que foi até a janela verificar do que se tratava. Logo de cara, a princesa ficou encantada com Eros e os dois começaram a namorar. Conversaram longamente e, como corpo e alma, pareciam pertencer um ao outro.
Após um certo tempo de namoro, Eros e Psiquê resolveram fugir e começaram os preparativos para a tal fuga. Contudo, uma noite ao voltar para casa, Eros se esqueceu de que não podia entrar em nenhuma água e atravessou um rio, quando foi tragado pela Mãe d'Água, que pretendia torná-lo seu genro.
Psiquê, sabendo o que havia acontecido com Eros, arquitetou um plano para resgatá-lo. Comprou um violino e foi até a beira do rio tocar a música do Pássaro-Rifle. Como era esperado, Mãe d'Água subiu à superfície e disse:
Moça, vende-me, empresta-me ou dá-me este instrumento, pois preciso tocá-lo na festa de casamento da minha filha que será realizada daqui a cinco dias.
Dar-lhe-ei o instrumento se você emergir e trouxer o seu futuro genro na palma da sua mão por cinco minutos, solicitou Psiquê.
Ah, isto é moleza, zombou Mãe d'Água mergulhando e subindo à superfície em questão de segundos, trazendo Eros na palma da mão.
Psiquê tocou a música deles várias vezes, mas para seu desespero Eros não a reconheceu. Ela jogou o violino para Mãe d'Água e foi embora.
No dia seguinte, Psiquê comprou uma harpa e com o mesmo objetivo rumou para a beira do rio e começou a tocar a música, com o intuito de sensibilizar Mãe d'Água. Os mesmos pedidos do dia anterior se repetiram e Psiquê respondeu-lhe:
Dar-lhe-ei a harpa se você vier à superfície e trouxer o seu futuro genro na palma da mão por cinco minutos.
Você é quem manda, sorriu Mãe d'Água mergulando. Em seguida, estava exibindo Eros na palma da mão.
Psiquê tocou a música deles e tentou chamar a atenção de Eros, que mais uma vez a ignorou. Ela jogou o violino para Mãe d'Água e foi embora um pouco triste.
Por último, Psiquê comprou uma lira e decidiu dar a última cartada. Foi até a beira do rio e começou a tocar tudo que sabia, até que Mãe d'Água subiu e disse:
Moça, vende-me, empresta-me ou dá-me este instrumento que será tocado na festa de casamento de minha filha que será realizada em três dias.
Dar-lhe-ei o instrumento se você me mostrar o seu futuro genro por cinco minutos, respondeu Psiquê.
Ei-lo, disse Mãe d'Água, exibindo Eros. Quando este ouviu a música que Psiquê tocava, disse:
Valha-me o Rei dos Pásssaros. Transformou-se no lindo Pássaro-Rifle e voou em direção a Psiquê.
Eros e Psiquê se casaram, mas a felicidade deles durou pouco. Numa manhã chuvosa, a morte indesejada e traçoeira colheu Psiquẽ, que era uma vítima de leucemia.
Enfim, havia chegado a hora da partida. Eros quis se despedir da esposa e o desespero daquele momento consternou a todos. O Rei, pai de Psiquê, abraçou Eros tão fortemente como se quisesse sanar todo o sofrimento reinante naqueles corações. Eros consumiu-se de dor pela perda da amada. Aquele dia atravessou a noite observando a tempestade e, com o despontar da aurora, decidiu transformar-se no Pássaro-Rifle. À medida que os raios de sol refletiam nas suas asas mostravam aos poucos a iridescência da plumagem, que parecia ter luz própria.Voou o mais alto que pode ate sumir nas núvens, à procura da sua Psiquê.
Mado