Chiquinho e a Minhoca

Chiquinho era um menino triste. Triste, mas sério. Sério, mas cabisbaixo. Perguntava a si mesmo: precisava ser assim? Ele era triste porque não tinha sequer um amigo; triste também por não conseguir se relacionar com os colegas.

Na escola, quando se aproximava de uma colega, ela se afastava, deixando-o sozinho.

Quando os colegas estavam jogando futebol, ele se apresentava, mas era preterido pelos líderes. Quando tinham que formar grupos na escola para estudar um assunto novo ou realizar um trabalho conjunto, ele nunca conseguia alguém. O Chiquinho era da turma do “eu sozinho”. Até a dona Márcia, professora fantástica, tentava, sem êxito, que alguém formasse par com ele nas tarefas escolares. Ele pouco falava. A capacidade de se expressar era quase nula.

Coitado do Chiquinho!

Mas, um dia o Chiquinho teve um sonho: ele era uma minhoca!

No sonho, ele vivia no subsolo da cidade. Quando os homens resolveram fazer nova linha do metrô, escavaram o subsolo, onde o Chiquinho Minhoca morava. Chiquinho Minhoca, o CM, então resolveu acompanhar a construção do metrô. Ele viu como os homens, usando enormes máquinas, abriam um poço muito profundo, por onde depois foi introduzido o “tatuzão”, uma enorme máquina que, além de escavar o túnel, ainda era usada para colocar as estacas e vigas metálicas, que fazia parte da sustentação do solo acima do túnel. Foram meses, anos de trabalho. E o CM ali, firme, todo dia, toda hora; às vezes até se esquecia de comer, tal a paixão que passou a ter do trabalho da estação do metrô. Certo dia, todo aquele barulho diminuiu e surgiu do túnel, um enorme trem de ferro: era o metrô! O metrô estava fazendo testes. Mais alguns dias e todos desapareceram. Depois, aos poucos foram surgindo pessoas fazendo bilheterias, catracas e outros acessórios necessários para o funcionamento da estação do metrô. Poucos dias após, o movimento local mudou totalmente. Gente que tomava o metrô de manhã e voltava à noitinha, outro que faziam suas tarefas utilizando o metrô. Observou que tanto jovens como velhos usavam o metrô dia e noite, noite e dia. O CM queria fazer parte daquele vai-e-vem, daquela loucura. Mas, como?

Resolveu ficar na plataforma, em lugar seguro, para evitar que alguém o esmagasse na hora do rush. E não é que apareceu a oportunidade de uma aventura muito louca?

A passageira pousou no chão da plataforma uma mala de viagem.

Chiquinho Minhoca se aproximou da mala e ficou ali, quietinho. A passageira, por um motivo qualquer, abriu a mala e a revolveu, talvez procurando algo que interessasse: era o passaporte. Isso levou alguns minutos, tempo suficiente para o Chiquinho Minhoca entrar na mala e acomodar-se entre os pares de meias e calças jeans.

Quando o CM voltou a ver luz, estava numa terra muito gelada! Ele rastejou em meio à sala de visitas (estava num hotel) e foi até a janela envidraçada. Lá fora, a neve cobria tudo. As pessoas passavam; todas vestidas com enormes capotes, gorros e botas. E quando falavam ou ofegavam saia fumaça de suas bocas e narizes vermelhos. CM correu para a mala. Na manhã seguinte, a pessoa que o havia levado na mala, o encontrou e tratou-o com carinho. Colocou-o num pequeno terrário, para que não sentisse frio. E assim ficou sendo a mascote daquela garota bonita e agora sua amiga. E ainda ficou mais feliz quando ela o levou à escola; a mesma escola que o Chiquinho estudava! CM ficou tão feliz, que acordou!

Quando foi à escola, encontrou aquela garota bonita que o havia levado sem o saber e em sonho. Contou-lhe a história dos sonhos: a garota adorou e convidou todas suas amigas para apresentar o Chiquinho. Todas as garotas da escola passaram a admirar Chiquinho. Os meninos agora o convidam, insistentemente para jogar futebol ou vôlei, ou participar de um trabalho em grupo. Pois é; a partir desse dia, o Chiquinho ficou o menino mais popular da escola. O Chiquinho hoje em dia é um querido; uma pessoa cheia de grandes amigos; incluindo, principalmente, ele mesmo.

- Parabéns Chiquinho; você venceu!

Criado em 09/05/2015- por Tio Babá

Tio Babá
Enviado por Tio Babá em 31/05/2015
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