O peixinho sem cor

Era uma vez um peixinho, que nasceu nas areias de uma lagoa durante uma chuva muito forte. No momento do nascimento, uma corrente de água o levou para o rio.

O rio era grande e cheio de peixes!

O peixinho, que nem nome tinha ainda, admirou-se com o colorido dentro das águas. Havia peixes de cor prateada, uns cinza, outros esverdeados, outros com manchas pretas mais claras ou mais escuras. Alguns eram achatados e outros mais alongados. Havia uns gordinhos e uns de cauda muito longa. Ele, então, quis saber de que cor era.

— Oi, senhor peixe prateado! Bom ver que hoje suas barbichas estão bem lavadas! — disse tentando ser simpático.

— Nada de bancar o engraçadinho comigo!— respondeu o peixe com seus barbilhões longos presos no canto da boca. — O que você quer comigo, peixinho? — continuou já mais simpático.

— Hum... Eu estou querendo saber qual é minha cor! — seus olhos estavam muito escuros pela profundidade das águas.

O peixe prateado, que na verdade era um barbado, mexeu a nadadeira dorsal e ficou mais próximo do peixinho.

— Por que você quer saber sua cor? Você é tão pequenino. — sussurrou baixinho sem muita firmeza na voz.

O peixinho nadou em volta do barbado, amaciou as guelras e perguntou:

— E então? Eu sou prateado, verdinho ou cinza?

— Você não tem cor. Parece que ainda é muito novo e, como já estou velho, eu não sei dizer a cor que você vai ficar quando crescer.

Sem cor? Não, não! O peixinho se entristeceu. Esforçou-se para não chorar e procurou manter a calma.

— Entendo! — disse o peixinho, a com a voz sem emoção. — Parece que desde que nasci e perdi minha mãe e que as águas tomaram conta de mim, que tudo me é tão estranho. — ainda comentou baixando as nadadeiras laterais.

O barbado olhou no comprimento do peixinho e viu linhas laterais levemente azuladas. Por um momento, permitiu-se ousar que o peixinho tinha a aparência familiar de uma corvina.

— Peixinho, eu... por favor, não quero lhe dar falsas ilusões. Mas eu acredito que suas escamas possam ser prateadas como as das corvinas. — E jogou os barbilhões para trás nadando nas águas profundas.

O peixinho descansou as nadadeiras, mantendo certa distância dos outros animais ribeirinhos. Sentiu o cheiro do poço profundo onde estava e suspirou. Estranhamente não se preocupou em não ter cor ou por estar sozinho. Sentiu-se como se estivesse em casa.

Era o entardecer. As águas do rio estavam levemente mornas. Nisso, o peixinho viu um pequeno camarão. E sentiu fome.

Alguns minutos depois, o peixinho sabia-se firme na certeza de que era mesmo uma corvina. Seus dentinhos recurvados e pontiagudos ainda conservavam o sabor do camarãozinho. E olhou mais fundo nas águas nadando para lá.

E quando a noite chegou, o peixinho, no meio das outas corvinas, era um pontinho azul no fundo do rio. Ah, que se podia imaginar ser ele uma linha azulzinha brincando nas águas!

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 22/05/2016
Reeditado em 24/05/2016
Código do texto: T5643681
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