João e o lampião

No meio da caatinga, um lugarzinho perdido no sertão entre Mandacarus e umbuzeiros numa casa branca e pequena, vive João.

A casa de João não tem energia,

a luz da noite é um lampião,

com ele João brinca de fazer sombra, ouve histórias dos avós, guarda memórias, e vive de pé no chão.

De manhã bem cedo acorda João, vai buscar água no cacimbão, ajudar os avós a varrer os terreiros, a mãe a lavar louça e a cuidar do irmão.

Com o pai corre a buscar comida no mato para a criação: palmas, xique-xique, facheiro, folhas de aroeira e de algodão.

João vive correndo, toma café ouvindo os passarinhos, pintassilgos e asa branca a cantar segredos e mistérios da natureza e se apronta para ir à escola...

Lá João tenta fazer a lição,

cochila na mesa e é sempre surpreendido pela voz da professora:

-Acorda João!

João desperta de um sono mal dormido, escreve ligeiro o que tem para copiar, sente saudade de casa, do irmão, do avô, de seus pais.

O dia demora a passar.

À noite em casa, a companhia nos sonhos de João é o lampião, sempre aceso,

fazendo lição, João escreve na parede velha da casa letras e números com pedaços de carvão.

A rotina se segue todos os dias, até que algo acontece de repente...

João aprende a ler na escola e tudo ao seu redor toma novo sentido.E ele escreve o que ver, descreve a natureza, passarinhos e flores, o que lhe vier à mão.

João em tudo vê poesia, alegria e canção e agora todas as noites ler para a família sob a luz do lampião.

A vida ali não é mais a mesma, em cima da mesa: Livros, histórias, beleza,

e o conhecimento brilhando sob a luz acesa do lampião.

Paula Belmino