A vassoura preguiçosa

A vassoura preguiçosa

No Palácio da rainha viúva, no Reino do mar sem Fim, haviam 7 vassouras.

Eram comandadas pelo chefe vassourão.

O chefe distribuiu as atividades para cada vassoura. Como eram 7, cada uma ficou responsável pela limpeza palaciana num dia na semana. Pra facilitar, o vassourao deu um código de identificação. Quem varria no domingo se chamaria domingo. Quem varria na segunda se chamaria de segunda e assim por diante.

Só que a sábado tinha uma preguiça desgraçada. Apesar de ser a mais nova, vivia deitada. Horas na Netflix, horas no Whatsapp. Como tinha 6 dias de descanso só deitava e rolava.

Durante a semana, as outras varriam o Palácio rapidinho.

Para não se cansarem combinaram que todas varreriam o Palácio todos os dias. E assim: ao invés de cada uma passar o dia na ociosidade enquanto os dias passavam, elas se ajudavam. E em meia hora o Palácio estava arrumado. Varrido.

O resto do dia ficavam tricotando varandas pra enfeitar os tapetes confeccionados pelas aranhas.

Entretanto, a vassoura sábado não entrou no acordo e ficava sozinha na sua preguiça.

Sábado era justamente o dia da rainha receber as visitas importantes.

Reis, rainhas, principes, princesas, condes, condessas, duques, duquesas, xás, generais e outras autoridades importantes.

Todo sábado, o vassourao convocava as outras 6 e determinava que ajudassem a sábado dado a urgência da limpeza, pois as autoridades chegavam a partir das 8 horas.

As vassouras iam morrendo de raiva da sábado que, além de ser ajudada ficava fazendo horas. E de nada adiantava reclamar da preguiçosa pro vassourao.

A quinta-feira descobriu, sem querer, umas risadinhas debaixo da cama da rainha. Ela abaixou-se devagarinho e viu o vassourao acariciando as palhas da sábado. A quinta-feira virou uma fera. Abriu a *guela* e gritou pra todo mundo ouvir e ficar sabendo. Quando ela terminou de esbravejar, estavam as outras vassouras assanhadas de raiva e os outros objetos morrendo de rir das vassouras que não sabiam do mancebo entre o vassourao e a sábado.

O pilão rolava no chão de tanto rir e se coçava com a mão. A peneira chega peneirava de achar graça. O bule enrolava todo o bico se contorcendo de rir. As xícaras pulavam tanto que trinavam nos pires. O penico da rainha se derramava de gargalhada, a cuia se rachava na risadaria e o tapete: pasmem! Se enrolava todo. Era uma algazarra tão desordenada que passaram mais de meia hora nessa mangação. Finalmente o vassourao falou pras 6 vassouras que varressem imediatamente o Palácio ou seriam destituídas dos cargos.

Se fossem destituídas seriam jogadas no sótão e a poeira e a umidade as devorariam pela traça. Todas as vassouras temiam o sótão.

A rainha era muito justa e no seu Palácio não havia injustiça. A pena para os injustos variavam entre o banimento e o fogo. Ou eram banidos para o reino das trevas ou para o reino das coivaras.

O problema era que as vassouras não sabiam falar a língua dos humanos e este caso ia dando certo pro vassourao e pra vassoura sábado já que até os garfos e as colheres apoiavam aquela injustiça.

Certo dia um calango falou com a quinta-feira e disse que havia o papagaio da rainha que entendia os periquitos e os periquitos entendiam as rolinhas e as rolinhas entendiam as andorinhas e as andorinhas entendiam os caborés e os caborés entendiam as jaçanãs, as jaçanãs entendiam os sapos, os sapos entendiam os girinos, os girinos entendiam as lagartixas e as lagartixas entendiam o calango que por sorte era trilíngue. Falava a língua das lagartixas, dos calangos e das vassouras.

Então foi feito uma denúncia à rainha da conduta do vassourao e da vassoura sábado sobre a imoralidade no trabalho.

Entao a vassoura domingo relatou pra rainha o seguinte fato:

Majestade, tendo em vista que somos as vassouras que cuidadosamente varremos o Palácio diariamente para que vossa majestade e seus criados além de súditos e convidados, amigos de outros reinos, possam se espelhar na grandeza da limpeza palaciana, venho, em nome das 6 vassouras que arduamente foram selecionadas pela sua trisavó há 159 anos, por termos habilidades de varrer sem ajuda de escravos, porém, a mais jovem, selecionada a critério de beleza e juventude, tem sido omissa ao dever, ficando a nossa cargo as atribuições dela, nunca executada pela dita, porque fica de namorico com o senhor vassourao debaixo do seu colchão onde dorme vossa majestade. Diante disso, confiamos na sua justiça e seriedade e caso nada seja feito, deixaremos de servir este Palácio e nunca mais se espelhará na limpeza do Palácio que fica como espelho límpido após varrido, pois vossa majestade sabe que somos as últimas vassouras no mundo capazes de varrer como veremos. Aguardamos um julgamento justo em nosso favor. Assinado, Vassoura magricela. A domingo.

Domingo passou para calango que traduziu pra lagartixa, que traduziu pro Foto no, que traduziu pro sapo, que traduziu pra jaçanã, que traduziu pro caboré, que traduziu pra andorinha, que traduziu pra rolinha, que traduziu pro periquito, que traduziu pro papagaio que traduziu pra rainha.

A rainha, seguindo esta linha de comunicação animal e objetos, convocou uma reunião e estudou o caso. Nomeou para jurados a Alma de lenha, a louva a deus, a viúva negra, a vespa, o escorpiao, o papagaio e o siri. 7 jurados que consideram o vassourao antiético e negligente e intransigente com sua amante vassoura demente. Como houve 7 votos condenatórios a sentença foi o reino do fogo onde a vassoura e o vassourao estão a varrer labaredas para sempre.

Assim termina com justiça o caso da preguiça.😅😅😅

Professor Carlos Jaime

CARLOS JAIME
Enviado por CARLOS JAIME em 11/07/2019
Código do texto: T6693885
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