Poema Para o Cachorro Pimpão - Para o Sobrinho Lucas Correa Leite

Poema do Cachorro Pimpão

Para Lucas Correa Leite

Eu tinha um cachorro chamado Pimpão

Que adorava tomar chuva...

Bastava de o céu escurecer

Para você ver

O peludo Pimpão todo serelepe a correr

Pedindo para ir brincar nas águas das ruas

Tempestade, vento embarulhado

Você com cuidado em casa, lá dentro

E o Pimpão meio louco empolgado

Querendo se soltar como pipa ao relento

Ficava latindo contente

Pedindo pra gente levá-lo para passear

Latia com braveza, valente

Até que parecia parente

De alguma coisa da chuva peneirada no ar

Se não o soltássemos da coleira

Ele ficava desesperado a pular

Mas se o livrássemos, que bobeira

Ele ficava como se estivesse pra voar

Um dia fiquei com pena e todo olhado

Fui soltar meu agitado Pimpão

Mas depois fiquei muito preocupado

A chuva, os raios e os latidos do cão

Ele escapuliu por baixo do portão

Ganhou a chuvarada, rápido, apressado

Parecia que na chuva ficava encantado

E na enxurrada fazia um barulhão

E saltava, e latia, e ficava meio em pé

Parecia até

Que tinha amigos no céu desatando a chover

Da janela de casa a tomar meu café

Eu olhava a chuva caindo em Itararé

E sondava o Pimpão feliz pra valer

Pois passou a chuvarada

Lá se foi água, terra, enxurrada

E a crista do sol voltou a brilhar

Ficou ali a triste questão

Cadê o adorável cachorro Pimpão?

Nunca mais eu o pude encontrar

Foi com as nuvens chover nalgum outro lugar?

Levou toda sua algazarra, contenteza, escarcéu

Para morar com algum relâmpago, no céu?

Nunca mais eu vi o meu cachorro Pimpão

Quase que me revolta agora o coração

Só de imaginá-lo sozinho, perdido, ao léu...

Mas o meu Pai que entende de música, de poesia, de encantação

Diz que o cachorro foi morar nalguma distante chuva de verão

Num belo e verdejante canto do sertão

Ou até talvez virou chuvisco

Noutro lado desse nosso enorme mundão

Talvez até numa ilha de hibiscos, no Japão

Depois que eu virei moço bastante crescido

Que tanto causo parecido pela vida conheci

Lembro o Pimpão feito um arco-iris colorido

Como se fosse parte do chovido a rolar por aí

Agora fico imaginando o céu quando parece que vai chover

E acho que até escuto latidos mas de ouvir sem nada ver

E então fico pensando no meu querido cão

Mas é só uma doce lembrança anunciando para eu saber

Que quando ameaçar tempestade e começar a escurecer

Será o Pimpão que com saudades em mim há de chover

Chuvas de lágrimas do céu no meu coração

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Silas Correa Leite – Estância Boêmia de Itararé-SP-Brasil

Teórico da Educação, Jornalista Comunitário e Escritor, autor de Campo de Trigos Com Corvos, Contos, Editora Design, 2007

E-mail: poesilas@terra.com.br

Site: www.itarare.com.br/silas.htm