O rei que precisava de um abraço

Havia um reino não muito distante daqui.

E, como em todo reino, havia um rei.

O rei era uma pessoa muito boa, de bom coração, e quase todos os dias saía para visitar as suas vastas propriedades.

Por muitos e muitos anos, tudo parecia tranquilo, tudo parecia normal.

O sol brilhava no verão e as chuvas caiam no inverno. Os pássaros cantavam. As crianças brincavam. Os campos cobriam-se de flores, quando era primavera, e as folhas, como de costume, continuavam a cair quando era outono.

Parecia que tudo estava em ordem.

As pessoas cuidavam das plantações, dos animais e de outras tarefas domésticas. Algumas trabalhavam nos campos e outras em pequenas vilas.

Existiam pessoas ricas, mas também muitos necessitados. Ainda assim, o rei se sentia muito orgulhoso de reinar por ali.

No entanto, ocorreu que numa bela manhã, durante a sua caminhada, o rei percebeu que estava acontecendo algo de muito estranho.

Havia gente adoecendo por todas as partes, em todas as vilas e em quase todas as casas. As famílias estavam aflitas e desesperadas.

O rei voltou para o castelo, sentou-se em seu trono, e ficou horas e horas pensando sobre tudo o que tinha visto naquele dia.

No dia seguinte, resolveu visitar os mesmos lugares por onde havia passado. Ele não conseguia entender. A situação estava pior do que no dia anterior.

Agora, além do grande número de pessoas que estava adoecendo, outras estavam morrendo e não se sabia o porquê.

Era fim de tarde, quando o rei chegou ao castelo ainda mais triste e preocupado.

Naquele instante, o que o rei mais precisava, além de um bom conselho, era de um simples abraço!

Sim, um simples abraço! Porque era desta forma que todos no reino tinham aprendido a demonstrar apoio uns aos outros para aliviar uma dor, confortar um coração, acalmar alguém nos momentos difíceis ou dividir, não só as tristezas, mas as alegrias, também. Um simples abraço renovava as forças e a vontade de viver e de seguir em frente.

Foi aí, então, que o rei resolveu convocar seus conselheiros para falar da situação e ouvir o que tinham a dizer sobre tudo aquilo que estava acontecendo.

O primeiro conselheiro, aproximando-se, disse:

- Majestade, diante de tudo o que vi, cheguei à conclusão de que se trata de uma doença nunca vista por aqui e que algo de muito urgente precisa ser feito.

O segundo conselheiro recomendou:

- Majestade, convoque imediatamente todos os curandeiros da região para que eles encontrem soluções para a cura desta doença e para evitar que ela se espalhe ainda mais.

Diante das sábias palavras, assim foi feito.

Os curandeiros saíram apressados pelas vilas e campos visitando toda aquela gente que padecia por não saber exatamente o que fazer.

Alguns deles retornaram ao castelo, outros não.

Os curandeiros que conseguiram voltar traziam muitas notícias. Um deles falou:

- Majestade, vimos pessoas sofrendo com febre alta, com falta de ar e gripe. Um segundo, acrescentou:

- Majestade, algumas pessoas tossiam e não conseguiam apreciar o sabor de uma comida bem feita e nem mesmo sentir o aroma das mais belas flores.

E mais um, afirmou:

- Infelizmente, Majestade, as pessoas não podem ficar muito perto umas das outras, falar de perto, apertar as mãos ou se beijar, nem mesmo se abraçar, pois podem se contaminar assim.

A doença era grave e contagiosa e algo de muito urgente precisava ser feito.

Rapidamente, os conselheiros se reuniram com os curandeiros e apresentaram ao rei algumas soluções para amenizar a situação. Para a tristeza do rei, eles ainda não tinham um remédio definitivo para aquela doença.

O primeiro conselheiro mostrou uma espécie de capa para o rosto, dizendo:

- Majestade, esta proteção deve ser utilizada diariamente por todos. Ela deve ser entregue ao povo e em momento algum pode ser esquecida, pois evita que as pessoas se contaminem pelo nariz e pela boca.

Assim foi feito, mas o rei ainda não estava satisfeito.

O segundo conselheiro chegou com um líquido que parecia ser mágico, dizendo:

- Majestade, esta poção deve ser utilizada constantemente pelas pessoas para limpar as mãos. Não é uma solução definitiva para o caso, mas ajuda bastante, pois evita que mais pessoas se contaminem.

A poção foi feita, mas o rei ainda não estava satisfeito.

O terceiro conselheiro aproximou-se e afirmou:

- Meu Senhor, sugiro que Vossa Majestade tome medidas mais duras com os seus servos. Ordene para que fiquem trancados em casa, lavem as mãos diariamente e cuidem uns dos outros, especialmente dos mais idosos. Não sabemos ao certo quando tudo isso vai passar, mas temos certeza de que vai passar.

Assim aconteceu, mas o rei ainda não estava satisfeito.

O rei andava triste. Percebeu que nem mesmo ele, a rainha e seus filhos poderiam sair do castelo por um longo tempo. Logo percebeu que seu reino não seria mais o mesmo e que a vida pelo mundo todo seria bem diferente.

Passaram-se alguns meses.

O rei resolveu enviar alguns de seus mais fiéis escudeiros aos quatro cantos do reino para saber notícias de tudo, para saber se alguma coisa havia mudado.

Alguns escudeiros retornaram ao castelo, outros não. Os que retornaram relataram ao rei muitas histórias. Um deles disse:

- Senhor, encontramos mais pessoas boas pelo caminho do que na época em cavalgávamos juntos. Elas estavam se ajudando bem mais e amando outros servos que nem conheciam. Elas estavam dando a vida por esses servos.

E um outro acrescentou:

- As famílias pareciam bem mais unidas. Pais e filhos conversavam mais entre si sobre gestos esquecidos de carinho e de cuidado e, apesar de tudo, havia um sorriso no rosto de cada um deles. Os doentes estavam sendo tratados pelos bravos curandeiros, dentro do que podiam fazer. Quase não se viam mais necessitados. Os que padeciam de fome tinham o que comer.

Por um momento, o rei abriu um leve sorriso de gratidão, mesmo sabendo, no fundo do seu coração, que muito ainda podia ser feito. Pensou num futuro em que as pessoas pudessem voltar a se abraçar como antes e pudessem continuar transmitindo afeto com um simples abraço!

Ainda hoje ele busca por um conselheiro que possa lhe dar mais um bom conselho e que possa lhe explicar, também, o lado bom de tudo isso.

E essa história não termina por aqui...

Todos os dias, em seu trono, o rei se pergunta:

- Será que meus servos aprenderam algo mais durante esses tempos tão difíceis?

Mano Kleber
Enviado por Mano Kleber em 15/12/2020
Código do texto: T7136373
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