TRAVESSURAS DO CURIÓ

Toda de manhãzinha, o atrevido passarinho pousava na janela do quarto do menino Juca e começava a cantar:

-Acorda dorminhoco

É hora de levantar

Passarinho não paga aluguel

E canta sem se cansar.

Juca sempre dava um pulo, coçava os olhos, limpava as remelas, corria e abria as cortinas e lá estava o minusculo passarinho, tão pequenininho que caberia na palma da sua mão, tinha um canto tão forte como se fosse um pássaro gigante.

Ao ver o menino, o curió pulava com suas canelinhas finas, fazia uma festa e voava sumindo nos galhos da laranjeira.

Juca estava de férias e por isso tinha o dia inteiro para brinca, engolia o café, pegava um pedaço de pão e corria para o jardim a espera de ver o pequeno passarinho e outros que por ali moravam.

Brincar no balanço era a sua melhor aventura, dizia que se sentia leve como uma pena sendo soprada pelo vento. E voava tão alto que poderia avistar até o riachinho que corria no meio da vegetação. Sem esperar, lá estava o curió pousado no galho da árvore onde o balanço era armado. O passarinho notando a presença do seu amiguinho, abriu o bico e começava a cantar como se estivesse dividindo aquele momento de aventuras.

Largando o balanço, Juca resolve escala aquela árvore, sobe nos galhos, pé aqui outro ali, segurando forte com medo de escorregar. Quando chega no galho mais alto, se encanta com o que enxerga lá embaixo:

Jardins com flores coloridas, o riacho com suas águas encrespadas, passarinhos amedrontados voando e o curió tão pertinho que até poderia pegar se desejasse, mas não o faria, ele era livre e assim deveria viver.

De repente, o vento agita a copa das árvores, arranca folhas e flores, assanha passarinhos e borboletas. Amedrontado, se agarra com medo de ser varrido daquela altura.

Quando o curió, com sua voz aveludada resolve interferir:

- Vento atrevido! Sopras tão forte como se estivesse resfriado, veja! Está arrancando as folhas e até derrubando ninhos dos pobres passarinhos. Pare de atrapalhar. O Juca está tremendo, ele precisa descer com segurança. Engula seu sopro, assim que a tarde chegar as crianças precisam de você para fazer as pipas voarem pelo ar.

O vento era tão teimoso, virou redemoinho e disse sorrindo: Logo a tempestade chega e fico calmo.

Juca desceu em segurança, correu até em casa antes que caísse um temporal,ao olhar para o céu viu a beleza daquele arco-íris anunciando a chuva, acalmando o vento e seguiu seu caminho até o lago onde iria se alimentar das águas cristalinas. Quando pingos fortes começam a gotejar,logo a tempestade desaba, o riacho transbordou, gravetos eram levados enquanto as águas invadiam os campos verdes. A chuva escureceu a tarde, a noite logo chegou anunciando que era hora de crianças ficarem quietinhas dentro de casa.

Da janela do seu quarto, Juca olha o temporal, a Lua não apareceu, as estrelinhas foram dormir, pingos fortes dançavam na vidraça, Juca se enrola no cobertor e cai no sono e no meio do sono começa a sonhar:

Sonhava que estava num barco, era o marinheiro e precisava remar riacho abaixo até chegar no grande rio. E navegou a noite inteira, até que o Sol clareava o dia. Bem cedinho, pulou da cama, correu para o jardim quando viu seu Gumercindo cuidando das flores que foram derrubadas pela ventania, o velho jardineiro tão concentrado que estava nem percebeu a chegada do menino.

- Seu Gumercindo! Seu Gumercindo! Gritou Juca colocando a mãozinha no ombro do velho.

-Ou meu pequeno, que faz fora da cama assim tão cedo?

- Olhei pela janela e vim ver o que o senhor fazia tão concentrado. E ainda está caindo o sereno da manhã. Completou o garoto.

- Estou replantando mudas de jasmim, recolhendo flores e folhas caídas e deixando o nosso jardim lindo como deve ser.

- O senhor precisa descansar, nunca sai desse jardim. Disse o garoto se agachando ao lado do jardineiro.

O velho sorrindo disse: Menino Juca, o frio vai chegar, no inverno se as chuvas forem fortes, as flores ficam murchas, elas são delicadas e não aguentam as friagens fortes. Por isso preciso replantar para quando a primavera chegar elas possas florir atraindo milhões de borboletas, joaninhas, abelhas e beija-flores.

A viagem-

Era final de semana com feriado prolongado, a família iria fazer uma pequena viagem de trem,Juca todo empolgado sentou-se na janela, assim não perderia nada naquelas belas paisagens, os olhinhos brilhavam, ao ver passar casas, gados pastando, pessoas trabalhando nas lavouras, cercas branquinhas em volta das casas e os cavalos correndo livres pelas campinas.

De repente, Juca grita:

- Vejam! Vejam! Uma vaca voando. O menino estava tão eufórico a ponto de sair pela janela.

A mãe voando em seus pensamentos nem ouvia a euforia do filho. Já o menino saltitava com tantas descobertas.

Irá Rodrigues