Eram dez curumins

No barquinho dez curumins

Navegam no leito do rio que se move

Um deles saiu para ajudar o pai na roça

E dos dez só restaram nove.

Eram nove curumins corajosos

Um deles saltou às águas pra nadar com boto

Dos nove curumins no barquinho

Agora só restaram oito.

Eram oito curumins a pescar

Um deles pegou peixe grande para o banquete

Saltou do barco pra dividir com a aldeia

E agora no barco só ficaram sete.

Eram sete curumins no rio

Um deles lembrou que a lição da escola não fez

Pulou rápido do barco pra casa

E agora dos sete, fizeram-se seis.

Eram seis curumins a cantar para a floresta

E logo mais um correu com afinco

Pois lembrou era dia de Toré

E para a festa não foram cinco.

Eram cinco curumins

Na luta contra o garimpo,

Um foi ao teatro

Fez sua denúncia a quem assistia

E no barco deixou os quatro.

Eram quatro curumins

Para a mãe das águas homenagem se fez

Um deles foi ajudar o pajé

E no barco agora só são três.

Eram três curumins

A lutar contra a poluição

Um deles foi cuidar dos bois

E no barco só estão dois.

Eram dois curumins trabalhadores

Um deles foi colher jerimum

No barco a cantar com os passarinhos

Ficou apenas um.

Era um curumim

Sozinho embrenhou-se na mata

Caçadores o perseguiram

Agora no barco não há nenhum.

Mas os nove curumins

Voltaram para o procurar

Pelo rio, no meio da floresta

O curumim iam encontrar

Ouviram a voz de lamento

Uma ave a chorar

Era o Uirapuru, o curumim apaixonado

Por uma jovem indígena do lugar.

E agora curumins de toda parte

Estão na aldeia e na também na cidade

Contam histórias, brincam, estudam e trabalham

Para que sejam respeitados na sua diversidade.

Os dez curumins são apenas uns

Dos muitos povos indígenas espalhados no Brasil

Cultura, arte, culinária, língua e sabedoria

Coisa que muita gente ainda não viu.

Paula Belmino