Diário da Nany

março/03

Foi no dia 05 de novembro de 2002 que nascemos, eu, minhas três irmãs e meu irmão.

No começo foi tudo muito esquisito, a gente estava num lugar quentinho, dentro de uma água morninha. Era a barriga da mamãe.

De repente, a gente caiu em cima de um cobertor, era tudo seco e batia um friozinho no nosso corpo. Escuro não sei se era, porque nascemos de olhinhos fechados — Nossos olhos começaram a se abrir quando tínhamos 15 dias —.

Quando estávamos todos já fora da barriga da mamãe, ela levou eu e minhas irmãs para o sofá e deixou meu irmãozinho lá no cobertor, debaixo da mesa da cozinha. — A dona dela comentou com os outros adultos que devia ser porque o cheiro dele é diferente. Ele é um menino!

Quando tínhamos 29 dias, mamãe ficou muito doente. Levaram-na para o Hospital e ela passou um dia lá, tomando soro. Quando voltou, estava muito fraca e abatida. A dona dela nos colocou dentro do box de um dos banheiros da casa e mamãe ficava lá fora, deitadinha, olhando pra nós.

Não entendíamos nada! Tínhamos fome, queríamos mamar e nos davam um mingauzinho numa coisa esquisita. Uma de minhas irmãs, entrava dentro da “coisa”, que chamavam de prato, e quase não conseguíamos beber. Quando conseguíamos chegar perto, era tanta afobação que acabávamos enfiando o nariz no mingau. Então era só tosse e espirro voando pra todo lado.

Deixavam mamãe nos beijar e limpar só um pouquinho. Mas era tão bom sentir os beijinhos da mamãe. Pena que era rapidinho, porque éramos em cinco e ela fazia carinho em todos nós. Mas quando tentávamos mamar, tiravam ela de perto da gente e voltávamos para o box, com ela lá fora.

E foi assim que fomos saindo, indo para nossas novas casas. Um por um, saímos todos.

Minha dona é legal — é mãe da nossa antiga dona —. Mas fica zangada comigo porque gosto de morder os chinelos dela. Também não entende que as vezes não dá tempo de eu ir até meu banheiro — uns jornais na área de serviço — e acabo fazendo xixi pelas pernas afora. Deve ser algum problema que os humanos têm, de não entender as coisas. Por exemplo: outro dia fizeram um pampeiro porque eu comi a anteninha do telefone e mastiguei a etiquetinha do controle remoto da TV a cabo. Eles não percebem que enquanto vêem TV, ou falam ao telefone, deixam de brincar comigo e eu fico rebelde.

Hoje me levaram novamente na Clínica Veterinária. Dizem que eu preciso tomar vacinas. Não sei porque é preciso me furarem todo mês com aquelas agulhinhas finas e empurrarem um liqüido dolorido para dentro do meu corpo. Falam que eu não posso andar na rua enquanto não tomar três doses de vacinas. Mas pensando bem, até que é melhor eu ir no colo. Já imaginou aquele cachorrão — eu devo ser do tamanho do focinho dele — chegar perto de mim? Acho que eu morria de ataque cardíaco! E aqueles carros todos fazendo aquele barulhão? É melhor mesmo ir no colo.

Hoje é sábado e não me deram banho. Minha médica falou que era melhor eu não tomar banho por causa da reação da vacina. Mas não estou sentindo nada. E eu gosto de tomar banho! Fico cheirosinha, limpinha e posso dormir na cama da minha dona.

Quando se tem donos legais, ser cachorro é bom...

-continua em: http://www.pd-crianca.com.br/pd_2003/nany/nany_abril.htm

Asta Vonzodas
Enviado por Asta Vonzodas em 13/02/2008
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