continuação ...

_ Ah! Eu queria ver um homenzinho da floresta. Você já viu um?

_ Eu já! Eles são engraçados. Só que eles ficam bêbados. E quando estão bêbados, eles mordem a gente. Mordida de homenzinho da floresta é perigosa. Só sara se uma fada mandar. Se não tiver fada, o braço fica seco.

_ Mesmo assim eu queria ver um. Por que só você vê as coisas, moço? Por que eu não vejo?

_ Ora! Eu sou mais velha. Quando você tiver seis anos, como eu, você vai ver tudo. Você também vai crescer... – Menina já estava preocupada com o grau da conversa do irmão e tentou mudar de assunto.
 
– Acho que o meu gato está com fome. - disse para livrar-se das perguntas. 

_ "Moço"! Você é quase do meu tamanho. Falta muito pra eu ficar do seu tamanho? Você acha que lá naquele ninho tem um homenzinho? Você pode fazer um aparecer?

Menina ficou sem saída. Ele perguntava muito. Por um pouco, ficou calada, depois se lembrou do estilingue que levava no bolso e falou com ele:

_ Vamos derrubar um ninho. Lá dentro pode ter um homenzinho dormindo.

_ Eu não trouxe o meu estilingue! - Lamentou-se o garoto.

_Não faz mal! Eu trouxe o meu. Vamos deixar os gatos no chão e vamos procurar pedras pra atirar.

_Eu pego as pedras pra você. - Ofereceu Zico.

Menina viu o cuidado com que ele deixou a gata no chão. Ele era muito carinhoso. Ao se verem soltos, os gatos se espreguiçaram longamente e foram sentar-se sob os pés de mandioca. De lá ficaram olhando preguiçosamente, os pequenos.

Menina começou a atirar pedras no maior dos ninhos. Com a primeira pedrada, as aves que estavam dentro voaram pra longe.
Ela aproveitou para dizer que naquele ninho não tinha nenhum homenzinho. Então escolheu outro. Quando atirou a pedra nenhuma ave saiu de dentro. Zico exultou. Naquele, certamente haveria um homenzinho da floresta, dormindo.
 
A pontaria certeira da garota logo surtiu o efeito esperado. Quando o ninho caiu, até os gatos chegaram pra perto para olhar. Dentro estavam três filhotes de xexéu, mortos, quase secos e fedorentos. Havia alguns vermes perto deles. Provavelmente os pais abandonaram os coitadinhos e eles morreram de fome. O mau cheiro afugentou os gatos. Os dois irmãos sentiram náuseas.
 
Zico ficou decepcionado por não ter encontrado o homenzinho da floresta. Afastou-se do ninho, tapando o nariz com os dedos e preocupado perguntou:

_ E agora, "moço"? O que você vai fazer com os passarinhos mortos?

Ainda com o estômago embrulhado, Menina pegou o ninho comprido e encardido como um saco de estopa. Procurou um lugar onde pudesse pendurá-lo. Terminou pendurando-o no arame farpado da cerca. Tinha esperança de que os pais das criaturinhas mortas viessem ali, visita-los. Enquanto se afastavam do ninho, ela disse para o irmão:

_ Tomara que a fada que protege os passarinhos, encontre a mãe deles e diga que eles morreram.

Depois, cada um pegou seu gato e prosseguiram tagarelando animadamente, até o final da cerca, nas proximidades da casa do polonês. 


( Estes são trechos do episódio “O POLONÊS E O MANDIOCAL”, da série de 19 contos do meu livro inédito, “A Menina da Chácara” ).

(Hull de La Fuente)
Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 06/05/2008
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