Abismo Da Escuridão - Página 10

Cada passo que ele dava até mim, meu medo aumentava. Estava mais amedrontado do que quando eu levei o trote. Eu não fazia a mínima idéia do que esse cara iria fazer. O tipo dele era bem perigoso, e nunca correria o risco de ser desmascarado por um aluno calouro. Ele com certeza faria o que fosse necessário para calar minha boca em relação ao seu acordo com o Barril.

_ Barril! Empurra a cabeça dele pra frente do vaso de novo. _ Ta brincando? Isso não.

Em poucos instantes, eu estava olhando novamente para aquela coisa sem descrição. O pior de tudo não era a visão, mas sim o cheiro. Já estava com vontade de vomitar. Tive que cuspir enquanto sentia o nojo.

_ Não cospe ainda não. Se tu é mesmo tão inteligente, tu vai responder umas perguntas pra mim. Caso você erre alguma delas, sua cabeça vai funcionar como um limpador de vaso, entendeu? _ Depois de salvar minha cabeça, ele vai justamente fazer o contrário. _ Vão ser só quatro perguntas bem básicas. Primeira pergunta: que tipo de método de separação de mistura eu posso usar pra separar água barrenta? _ Eu sabia a resposta, mas tive dificuldade pra responder com aquele fedor subindo.

_ Decantação. _ Esperei ouvir a resposta certa do professor, mas foi o Barril que falou.

_ Errou!

_ Não, Barril! Ele acertou.

_ Merda! _ Ele estava louco pra empurrar minha cabeça no vaso.

_ Segunda pergunta: o que é a calefação? _ Ele perguntou com o intuito de fazer-me falar por mais tempo numa posição em que falar um “ai” tava difícil. Mas corajosamente eu respondi de uma só vez.

_ É a passagem do líquido para o gasoso de forma imediata. _Dei algumas cuspidas, e por pouco não vomitei. Mas ainda não foi o suficiente para adicionar meu café com leite a essa merda.

_ Ele errou? _ perguntou Barril novamente.

_ Não. Próxima pergunta: defina ácido e base sobre três pontos de vista. _ Agora ele pegou pesado. Os três pontos de vista mencionados são Arrhenius, Bronsted e Lowry, e Lewis. Ao todo são seis frases que tenho que falar. Se eu falo uma no maior sacrifício, seis então eu vou morrer. Mas eu não tenho escolha. Não importa se meu café da manhã subir pela garganta e compor a nojeira à minha frente. Isso não é nada comparado ao meu rosto mergulhado ali dentro. Prendi minha respiração, fechei meus olhos e falei as seis frases de uma só vez.

_ O ácido, segundo Arrhenius é toda a substância que em solução aquosa, libera exclusivamente íons H+. Segundo Bronsted e Lowry é uma substância que pode ceder prótons. E segundo Lewis é a substância que em qualquer meio pode aceitar par de elétrons. _ Soltei minha respiração, e tossi duas vezes. Mas continuei respondendo a pergunta. A base segundo Arrhenius é qualquer substância que libera ânion OH-. Segundo Bronsted e Lowry é uma substância que aceita prótons. E segundo Lewis, é uma substância que doa pares de elétrons. _ Quase que vomitei quando acabei a frase. Tossi várias vezes, mas acabou que não saiu nada além de saliva. Já estava passando mal. Estava difícil encontrar algum oxigênio ali dentro.

_ Agora errou? _ perguntou o Barril.

_ Não! _ disse o professor.

_ Porra! Mas que merda! _ xingou ele, já irritado.

_ Cala a boca barril! _ Houve um silêncio. Ouvi passos vindo até mim. Provavelmente era o professor. _ Dá licença _ A mão que antes estava sobre a minha cabeça parecia ter mudado. Agora era alguém mais bruto. Mas além de me segurar ela apertava também minha cabeça. _ Vamos lá! Última pergunta. _ disse o professor ao meu ouvido.

Na próxima página: Ele disse que é uma pergunta, mas são várias. E não são de química. Isso é uma ameaça?