Diario de uma Nova Vida Parte 10

Diário de uma Nova Vida Parte 10

Não sei bem descrever a sensação que senti. Também tinha uma parte de culpa naquilo. Minha mãe estava deitada no chão do quarto com uma garrafa de vodka ao lado e vários tranqüilizantes na mesinha de cabeceira. Mas se parecia com uma drogada ou com algum depressivo que está tentando se matar. Não foi a primeira vez que a vi de porre, mas, achava que estava comemorando ou só irritada com algo, mas os remédios me preocuparam. Ela pretendia muito mais que chamar a atenção do meu pai. Que mal se importava com o que ela fazia na certa deveria estar em mais uma reunião que provavelmente deve ser em algum motel vagabundo transando com alguma amante ou com a secretaria. Sabe, há muito tempo não converso com ela do tipo mãe e filho, parando para pensar acho que desde os 10 anos não faço mais isso. E me sinto culpado porque se chegou a este ponto, todos têm culpa.

Fiquei desesperado! Gritei a “songa-monga” da empregada para me ajudar e liguei para a ambulância. Tentamos reanimá-la, mas ela não demonstrava mudança alguma. Gelei! Nunca fui de rezar, fiz primeira comunhão forçado, não acreditava em salvador ou coisa desse tipo. Mesmo comecei a pedir a quem quer que fosse para que não acontecesse nada a minha mãe. Eu sei que brigamos muito, somos diferentes em todas as opiniões, mas, a mo. Nessas situações que a gente acaba percebendo o quanto o amor é tão grande.

Os idiotas da ambulância chegaram e me tiraram do quarto. Não podiam fazer isso eu sou filho dela. Tinha que estar lá, saber o que ela tinha e o que iriam fazer a ela. Pelo menos desta vez eu te daria atenção. Atenção que precisava ter tido todos esses anos e não fomos capazes de dar.

Eles a levaram para o hospital, e não me deixaram ir com eles. Peguei um táxi e fui correndo para lá. Puta- que- pariu! O transito dessa cidade é um caos. Demorei 30 minutos para chegar até lá. Sai desesperado a espera de uma noticia. Andava por todos os lados do corredor até que o cretino do meu pai chegou e veio me abraçar.

- Me Solta! Onde você estava quando ela precisou? Não vem se fazer de bom pai agora.

- Calmo filho! Sei que está nervoso, mas temos que nos unir somos uma família. E sua mãe vai se recuperar.

- Pára de fingir! Não precisa manter as aparências, não tem imprensa aqui. Nunca fomos uma família, nem nunca seremos. Você não dá o mínimo de atenção à mamãe, acha que tudo gira em torno da porcaria da sua vida medíocre.

- Me respeite! Você fala da minha ausência e nunca reclamou da boa vida que sempre teve. Sempre gostou de luxo e ostentação, não me venha com lamentações.

- Foda-se! Quero a minha mãe! Pelo menos um familiar eu tenho.

Aquela discussão ia perdurar por muito tempo e pelo menos uma coisa aquele desgraçado sabia que tinha herdado dele. Não saio fácil de uma briga.

Depois de uma espera interminável surgi um medico daqueles que aparecem no ER, só que bem mais cheinho e chamou o meu pai. O que quer que tenha acontecido, eu deveria saber e fui para o lado dele. Meu pai me olhou de um jeito que nunca tinha visto. Sabe quando você se sentiu acuado e sem saber o que falar, nem como reagir. Era um olhar que dava pena. Comecei a tremer, ele abriu os braços e me abraçou. Por mais ódio que sentisse, meu mundo havia desmoronado como diz o proletariado: A casa caiu!

Olhei a minha volta, fechei os olhos e sai.

Guto Angélico

Guto Angelico
Enviado por Guto Angelico em 24/07/2008
Código do texto: T1096182
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