"Anos Irresponsáveis" cap 20 "Consequências de uma noite" -restaurado

CAPITULO 20

“A CONSEQUENCIA DE UMA NOITE”

Voltar pra casa não foi uma tarefa fácil: o David e o William, mesmo alegres tiveram que praticamente carregar o Mauricio, eu fui dando apoio a Aline pra ela não tombar pro lado e ajudando o Rafael que mal conseguia andar por causa da dor nas costelas.

- ai meu deus! Como vamos esconder isso da minha mãe?- perguntei quase em pânico.- ela não vai cair na mentira de que ficamos na casa da Rafaela vendo filmes até tarde, olha só pra vocês! Estamos perdidos!

Pra variar minha rua já estava movimentada, quer dizer, as fofoqueiras já estavam em seus postos nos portões, prontas para começar a sessão do dia, e creio eu que nós com nossas roupas, maquiagem, as caras de nóias e os machucados fomos à atração principal.

Chegamos em casa, no portão, antes de entrar, fizemos um minuto de silencio para ver se não havia nenhum som lá dentro, não havia nada, e se minha mãe e meu irmão estivessem em casa com certeza haveria algum barulho. Então entramos.

- ei Aline feche o portão.- mandei descendo logo atrás dos meninos.

- Por que eu?- perguntou ela.

- Porque você foi a ultima a passar.- respondi ao cruzar a soleira da porta aberta.

EPA!!! Porta aberta?

Sim.

Os meninos se encontravam parados, aparentemente em estado de choque, no meio da sala, olhavam para a cozinha, que podia ser vista porque havia apenas um balcão que a separava da sala; também olhei e entrei em estado de choque, não podia acreditar no que meus olhos viam.

- ei eu não gostei disso,- disse a Aline demente, descendo a escada, nem me lembrei que ela estava chapada, realmente foi deus quem a impediu de rolar a escada.- porque vocês não me esperaram? E por que eu tive que trancar o portão em Anne? A casa é sua. Gente, o que foi?

Aline parou na porta nos olhando.

- o que vocês tem, parece que viram um fantasma.

A resposta à pergunta dela veio quando da cozinha surgiu uma mulher baixa e gordinha com os olhos idênticos aos dela.

- MÃE?!?!- berrou ela ao ver o rosto de extrema raiva da mãe surgir na sua frente.

Ela não respondeu, acho que estava sem voz, com o choque de ver a filha com aqueles trajes, aquela maquiagem pesada e aquela voz e a cara de drogada, tudo que ela sempre abominou. Mas no lugar dela uma voz baixa, porem, letal perguntou:

- onde vocês estavam?

Minha mãe surgiu da cozinha também, nunca a vi com uma expressão daquela: os olhos fulminantes, o rosto de alguém que seria capaz de matar, e aquela voz baixinha e letal, de alguém que é calmo, mas quando perde o controle é capaz de fazer atrocidades.

- Onde vocês estavam?-repetiu ela.- eu chego da casa da minha mãe as nove da manha e no meio do caminho encontro por coincidência a mãe da Aline e esta pergunta se podia vir aqui para dizer a filha que ia sair. Ai eu digo: mas como assim falar com a Aline? Eu nem a vi. Mas ai eu descubro que ela falou para a mãe que veio dormi aqui e a minha filha disse exatamente ao contrario, ai eu ligo na casa do Mauricio e pergunto se ele esta, ai a mamãe dele responde o mesmo que eu: como aqui? Ele disse que ia dormi ai. E eu pra não preocupar a mãe dele, digo: a eles foram à padaria e disseram que talvez passassem ai, mas vai ver eles não passaram, já devem estar voltando.

- mas as doçuras estão chegando agora, provavelmente passaram a noite por ai. Mas acontece que eu quero saber ONDE??”

Não consegui responder, estava com medo, minha mãe nunca falou daquele jeito, estava assustada com aquela voz, mas a Aline respondeu na maior tranqüilidade do mundo:

- estávamos numa festa de halloweem.

- Festa de halloweem?- repetiu a mãe dela falando pela primeira vez, ela tremia e sua voz estava nervosa e espantada, acho que nunca esperou isso da filha.- qual o seu problema Aline? Você não pensa? Sabe o que poderia ter te acontecido? Você poderia estar morta a essa hora, onda já se viu mentir pra mãe dizendo que foi dormi na casa de um amigo quando na verdade sai pra festinha anoite? Vocês perderam a razão? Se não querem pensar em vocês pensem em nós, as mães, então. Se vocês morrerem vão ficar lá tranqüilos, quem vai ficar aqui sofrendo somos nós. Eu nunca me decepcionei tanto com você assim Aline, nem parece minha filha mais.

- Pouco me importa se eu te decepcionei ou não mãe,-disse Aline prepotente nos fazendo até levantar a cabeça pra olha-la. A droga a deixou mais doida do que o comum. - eu não gosto de você! você só sabe me aprisionar, como se eu fosse um ladrão e eu odeio isso então vou sair escondido mesmo, e dani-se você.

PÁ!!

Dona Lindinalva deu um tapa no rosto da filha que a vez virar pra trás.

- você é uma desgraça!- gritou ela esbofeteando a filha.- só nasceu pra me dar problemas. Qual o seu problema menina? Qual é o seu problema sua peste?

- VOCE É O MEU PROBLEMA!!-berrou Aline de repente se desvencilhando dos tapas da mãe.- POR MIM QUE VOCE MORRE-SE!!! NÃO IA FAZER NENHUMA FALTA NESSA DROGA DE MUNDO!!! AO CONTRARIO, SÓ IA ME ALEGRA!!

- Eu não agüento isso!- suspirou dona lindi caindo no chão de repente.

- LINDINALVA!!!- gritou minha mãe e corremos para coloca-la no sofá.-depressa peguem um pouco de água.

Minha mãe passou a mão molhada no rosto dela e depois de alguns minutos ela acordou, desnorteada e tonta, não conseguia nem falar.

- é melhor a senhora se deitar um pouco lá no quarto dona lindi, não pode ficar aqui desse jeito.

Ela não resistiu e deixou que a conduzíssemos até o quarto.

Quando voltamos a sala minha mãe encarava Aline com uma imensa expressão de desprezo e a garota retribuía ao olhar.

- sentem-se.- mandou ela num tom letal.

- Eu não vou me sentar pra ficar ouvindo sermão de uma mulher que nem me conhece direito.

- Uma pessoa como você eu prefiro nem conhecer,-respondeu minha mãe com ar de nojo.- e já que não quer ouvir, saia. Mas nunca mais volte nessa casa.

- Eu não pretendia voltar.- disse Aline saindo pela porta.

Quando ouvimos a batida no portão anunciando que ela saiu minha mãe se virou para nós cinco, eu, Mauricio, David, Rafael e William, que nos sentamos no sofá.

- eu não vou gritar com vocês.- disse ela.- eu estou muito decepcionada pra gritar. Eu não quero nem perguntar porque vocês estão machucados e porque estam todos tontos e cambaleando, eu nunca esperei isso de vocês, nunca! Mesmo sabendo que vocês são danados, mas isso...mentir pra mim, que sempre recebi vocês bem aqui, sempre os deixei bagunçar, já até baguncei com vocês, eu sempre os tratei muito bem pra vocês me tratarem assim. Ou é mentira minha?

- Não.- murmuramos envergonhados e começando a nos arrepender de ter feito a festa.

- E a mãe de vocês?- continuou ela.- é como a dona lindi disse: se acontece algo com vocês nós é que ficamos aqui sofrendo. Vocês não se deram nem ao mínimo trabalho de pensar nisso, na mãe de vocês que iriam ficar com o coração na mão, como eu e a dona lindi ficamos ao descobrir que vocês não estavam na casa de ninguém.

“Vocês só pensaram em vocês mesmos, foram extremamente egoístas e não pensaram nos riscos que correram. Vocês por acaso pensaram que se um dos convidados dessa festa fica bêbado e começa uma briga poderia sobrar pra vocês também? Não né, mas só de olhar pra cara de vocês já posso deduzir que vocês é quem ficaram bêbados e andaram brigando, não é? Mas provavelmente pesaram que se dariam bem, que são os donos do mundo. Fortes e poderosos. Mas por acaso pensaram no risco de ter tiro, de poderem ser pegos por alguém, de serem abusados sexualmente. Vocês pensam que tudo isso é besteira nossa, mas é só ligar a tv que vemos que não é exagero, porque é o que esta mais tendo: brigas em festinhas que acabam em tiros e morte, estrupadores, ladrões e mais um monte de coisas que vemos a toda hora sempre que ligamos a tv. Não é exagero, vocês são muito inteligentes e sabem que é verdade, mas mesmo assim foram né? Devo dizer que vocês foram burros e que nunca me decepcionei tanto com ninguém como estou decepcionada com vocês, sempre dei amor e carinho a vocês, sempre fui legal, fiz bolo, bagunça, já ate saímos juntos todos nós e curtimos bons momentos por ai, e agora vocês vão e me fazem uma coisa dessas, estou arrasada.”

Ela não disse mais nada, e se virou para ir pro quarto.

- e qual vai ser nosso castigo?- perguntei sem levantar minha cabeça, acho que se tivéssemos um castigo não íamos nos envergonhar tanto do nosso ato.

- O castigo de vocês vai ser o da consciência,-respondeu ela.- pensem que vocês nunca magoaram ninguém como magoaram a mim, e tem sorte da mãe de vocês não saberem disso, mas com certeza vão saber só pelas caras de vocês. Mas pensem e sintam remorso por terem partido meu coração.

Eu levantei a cabeça e vi uma lagrima cair dos olhos dela. Os outros também viram, e acho que eles sentiram o mesmo que eu, porque dos olhos deles também caíram lagrimas de vergonha e remorso, ao ver aquela mulher que nos deu tanto carinho, amor, atenção, que sempre foi tão legal com nós, chorar de decepção por nossa própria culpa.

Com certeza foi a pior coisa que eu já senti, era como se alguém estivesse apertando meu coração e meu cérebro com mãos de ferro. O coração gritava porque tinha quase certeza de ter perdido a coisa mais importante que existia pra ele; e a consciência gritava de vergonha, de remorso, sem conseguir se conformar que magoou a pessoa mais importante do mundo por uma simples festa, que partiu o coração que sempre o amou por pura irresponsabilidade. Naquele momento me lembrei da tribe e do racha e me senti pior ainda, e se ela também descobrisse sobre esses epsóidos? Não queria nem pensar que uma grande dor já invadia meu peito.

E eu sabia que ela estava certa, as coisas realmente acontecem e agora imagino, se na tribe o asdac não fosse só um cara querendo dar uns beijos, e sim um louco que poderia ter feito algo comigo, com a Aline e o Mauricio? E naquele racha? Eu poderia ter sofrido um acidente horrível, poderia estar morta! Nessa droga de festa aqueles drogados poderiam estar armados também, poderiam ter feito alguma coisa...os valentões poderiam ter deixado o Mauricio e o Rafael a ponto da morte...agora tudo me parecia uma grande falta de responsabilidade, uma grande burrice...não pensamos nos perigos que estávamos correndo e nem o que isso poderia causar nos outros. Fomos tão burros!

Mas ninguém disse nada, todos nós chorávamos de cabeça baixa, todos pensando o mesmo, e os meninos também pensavam em suas próprias mães, se elas soubessem... e elas iriam saber... eles nem queriam imaginar.

Ficamos ali por horas sem nada dizer, apenas chorando e tentando se livrar da sensação de vergonha, remorso e culpa. Naquele dia o quinteto fantástico silenciou-se e o som que gritava mais alto era o som do silencio.

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 06/04/2009
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