"A Batalha de Fogo" cap. 26 "A Mentira"

“A mentira”

- .... Qual o segredo de Amintor? ...

Ariaus Plemanconf ainda tremia em sua cama de trapos. Seus pés estavam gélidos e seus dentes batiam. Mas em fim, estava dentro, agora estava no exército negro.

A gargalhada de Drana, quando Ariaus contou que sabia que ela era filha da esposa do rei, ainda ecoava em seus ouvidos, ela gargalhou ainda mais quando ele contou que Amintor estava com um medo particular de que ela tentasse se vingar pessoalmente e com medo ainda maior de que o povo descobrisse a história e o culpa-se pela guerra.

- ahahaha!! Maldito rei!! Agora vou acabar com a vida dele!

E sumiu na nuvem de fumaça, seguida por Ferilam que lançou a ele um olhar positivo.

Ele se enroscou em seus trapos na cama e ficou ali tremendo, o ar naquele lugar pesava em seus pulmões, apesar do primeiro sucesso ele estava com medo, não sabia até quando a mentira iria durar, não sabia se Drana realmente havia acreditado e quanto tempo levaria para que ela descobrisse a verdade.

Ele sabia sua estada ali era fatal, sabia que não voltaria para a casa, se comprometeu em passar todas as informações para o rei, e era isso que iria fazer, mas sabia que mais cedo ou mais tarde seria descoberto e ai então seria o fim. Comprometeu sua vida para salvar a vida dos outros e isso era tudo. Agora era só aguardar o fim.

Em seu quarto, ainda gargalhando do medo de Amintor, Drana esticava sobre uma mesa negra um longo rolo de pergaminho e outro ao lado, eles formavam um desenho, que ainda porém estava incompleto.

- o que é isto?- perguntou Ferilam aproximando-se do desenho.

- Isto meu bom mago é o motivo pelo qual fui até as Montanhas Vermelhas, o motivo pelo qual Roldec foi até o litoral, isto é a chave de nosso sucesso.

Ferilam olhou o desenho, era uma espécie de mapa, ele não conseguiu identificar os lugares que o mapa representava, não eram montanhas, tão pouco cidades ou ilhas. Era um mapa estranho e ainda faltava um pedaço, mas isso não parecia incomodar Drana em nada, na verdade, ao falar sobre o terceiro pergaminho sua voz estava cheia de excitação:

- agora só falta um, a ultima parte para selar a minha busca. Logo ele será meu!

Os olhos de Drana brilhavam maldosamente e ele se perguntou a qual tesouro aquele mapa levava.

- do que se trata este mapa?- ele perguntou por fim.

- Não seja curioso querido mago,- disse Drana passando um dedo longo pelo rosto de Ferilam.- seja paciente, logo saberás.

Ela enrolou os pergaminhos e os guardou na gaveta da mesa. Ocorreu a Ferilam voltar depois e espia-los, mas conhecia bem Drana, ela não deixaria aqueles papéis tão desprotegidos assim.

- Então vamos.- disse ela após trancar a gaveta.- tenho que falar com Roldec, nossas tropas devem ser reunidas. Esta chegando a grande hora.

Ferilam marchou atrás dela se perguntando o que a rainha das trevas planejava.

Enquanto Drana ia ao encontro de seu capitão, em tantos outros lugares coisas aconteciam.

Darla Lusbel e sua tropa fugiam aos berros dos Pântanos Fercs, após encontrarem os seis soldados queimados o pânico total os inundou e eles correram encosta abaixo.

De repente uma grande arvore se incendiou, as chamas negras com mais de dois metros de altura fizeram os soldados berrarem alucinados, as chamas foram passando de uma árvore para a outra, o fogo negro foi cercando a diminuída tropa que ia ficando sem escapatória. Galhos começaram a cair, soldados foram atingidos, não houve tempo para um ultimo suspiro, as chamas descontroladas adentraram por suas bocas escancaradas em gritos mudos de desespero e os afogaram e queimaram em fogo negro. Não havia mais tropa, não havia mais soldado ou comandante, agora era cada um por si, Darla já podia ver as belas árvores do Vale das Fadas, intactas, belas e seguras, mas até cruzarem os pequenos metros que os separavam já podia ser tarde para todos.

Um longo cipó em chamas caiu do topo de uma árvore cortando o ar, e como uma lâmina ousada ela passou pelo peito de Álvaro desenhando um caminho na carne viva.

- aaaaaaahhhh!!!!!!

O general caiu no chão, suas unhas se enterraram na terra tamanha era sua dor. Darla parou, não iria abandonar Álvaro.

- não! vá! Fuja!- gritou o general quando viu a imagem iluminada de Darla voltando em sua direção. De repente tudo ao redor estava no mais completo breu e toda a luz do mundo parecia emanar de Darla Lusbel.

- Não vou abandona-lo! Não insista!- gritou ela virando-o de peito para cima.

O corpo de Álvaro sangrava, o cipó cortou-lhe profundamente, cavando uma trilha em carne e sangue.

De repente Darla fechou os olhos e apertou suas mãos contra o peito de Álvaro, ele gritou, seus gritos encheram os ouvidos de Darla, com mais intensidade ainda ela apertou os olhos e as mãos contra o peito dele. Ela podia sentir que algo emanava dela, podia sentir a carne fechando-se lentamente sob suas mãos, os gritos de Álvaro diminuindo.

De repente tudo estava quieto de novo e ela abriu os olhos.

Álvoro lutava para respirar, em seu rosto havia uma mistura de incrível surpresa e pânico, olhava Darla com os olhos esbugalhados, enquanto puxava o ar com a boca escancarada.

O corte em seu peito estava fechado, não havia o menor sinal de que um dia havia sido ferido e Darla sorriu satisfeita consigo mesma. Mas então seu momento de frenesi passou e ela olhou desesperada ao redor, lembrando-se de que a floresta estava em chamas. Mas foi ai então que ela também boquiabriusse, não havia mais chama alguma, ao invés das labaredas negras que matavam os soldados, agora todas as arvores estava envoltas em correntes de luz, uma luz branca como a lua que saia de seu corpo e subia pelas raízes das arvores, uma luz tão forte e clara que os poucos soldados que restavam levaram as mãos aos olhos para protege-los.

- você...- arfou Álvaro com dificuldade, eles piscava por causa da luz.- você...é...um...anjo!

Darla sorriu.

- venha Álvaro, levante-se, vamos pra casa!- disse ela e ajudou seu general a erguer-se.- esta melhor agora?

- Você salvou minha vida!- exclamou ele, lágrimas descendo entre o riso.- o fogo acabou, agora só a luz, nada poderia estar melhor.

- Oh não! é claro que poderia, você só precisa olhar mais as coisas ao seu redor.

Uma voz debochada fez todos se virarem, uma risada cruel apagou os breves sorrisos que afloraram nos rostos dos soldados que restavam. Mailos Tótes estava parado as costas deles, seu corpo ainda protegido por chamas negras.

Não foi preciso pensar.

- traidor!- berrou Darla ao vê-lo e soltou os braços que ajudavam Álvaro.

- Darla, não. volte!- berrou tuner quando ela foi na direção de Mailos.

- O que vai fazer garota?- perguntou Mailos com desdém.- vai me dar um jato de luz? Com minha escuridão apago até a luz de seus olhos.

- Então venha e despeje em mim toda sua escuridão que eu a arrebatarei com o dobro da força!- exclamou Darla.

E então ela lançou suas mãos na direção de Mailos, correntes fortes de luz bateram em seu rosto, ele cambaleou e caiu de costas no chão, cortes profundos em seu rosto.

- malditaaa!!- berrou ele e como um leão selvagem saltou para cima de Darla, derrubando-a, e com seus dedos em chamas tentou esgana-la.

Todos os soldados restantes correram para tentar ajudar Darla, mas de repente uma parede de chamas negras se formou em torno deles e ninguém pode atravessa-la.

- uma pirralha como você que nem se quer sabe usar uma espada não vai me fazer fracassar.- disse ele por entre os dentes, enquanto seus dedos afundavam na carne de Darla. Ela engasgava com a falta de ar. – não vou fracassar, já matei a todos e uma inútil como você não vai por tudo a perder!!

Ao som destas palavras os braços de Darla ergueram-se numa força súbita e também agarraram o pescoço de Mailos.Quando as mãos iluminadas de Darla atravessaram a parede de chamas negras e tocaram a pele dele, ele gritou, gritou como louco enquanto a pele era queimada como se estivesse em contato com uma brasa. Filetes de fumaça emanando. Seus dedos largaram o pescoço de Darla, a situação se inverteu, impelindo mais força em seus braços e suas pernas ela o jogou pra trás e subiu em cima ele apertando cruelmente seu pescoço. De repente um ataque de fúria se apoderou de Darla, ela lembrou-se de todas as pessoas mortas, desde os soldados que haviam caído no poço até os últimos que foram mortos no incêndio da floresta, tudo por causa daquele homem.

- quem o mandou até aqui?!- berrou Darla para ele, batendo a cabeça de Mailos com força no chão. A luz que emanava do corpo de Darla era de cegar.- quem é seu mestre? Por que fez isso? RESPONDA!!

- Não...falarei...nada!- arfou Mailos pela pequena brecha que Darla deu em seu aperto.

- Então adeus!

E soltando o pescoço dele, Darla tapou-lhe a boca com as duas mãos e com toda sua força impeliu para dentro da boca de Mailos um imenso jato de luz. Os olhos de Mailos saltaram, luz branca emanou de seus olhos, seu nariz e seus ouvidos, suas chamas negras se apagaram e sua cabeça caiu pro lado. Sua pele cinza.

Toda a luz na floresta e no corpo de Darla apagou-se, ela caiu pro lado, exausta.

Em Railos, Finiti, a princesa e Eleon, reorganizava suas tropas, iria voltar para a Cidade Imperial, não havia mais nada pra fazer em Railos e precisava acertar assuntos particulares com o rei.

- use a razão minha querida,- disse a ela Madame Avata em sua despedida.- não vale a pena cobrar explicações de seu pai, não vale a pena criar ainda mais brigas neste mundo, porque elas também não podem mudar os fatos. Pense nas coisas que eu lhe disse, tente achar nessa história algo que seja útil, algo que possa nos ajudar.

- Não consigo chegar a conclusão nenhuma,- disse finiti.- não consigo ver onde esta história toda pode trazer alguma vantagem ou solução para nossos problemas.

- Meus olhos também não podem achar o ponto exato, mas sei que existe um caminho e esse caminho creio que só você pode encontrar.

- Então continuarei procurando, às vezes os olhos demoram a enxergar não é? Bem, até uma próxima ocasião minha boa sábia.

- Até a vista minha querida, que o Fogo Sagrado a proteja e ilumine seus caminhos.

E recebendo um beijo da anciã finiti montou Ventania e com sua tropa, reduzida a quase nada após a batalha, partiu de volta para a cidade Imperial.

- Roldec!!- berrou Drana ao chegar no centro do acampamento, onde havia uma grande mesa redonda e um trono de ferro negro, onde ela se sentava para organizar os planos com seus capitães.

- Roldec, minha senhora!- o centauro fez uma reverencia.

- Orfne!!- berrou Drana em seguida.

A grande harppia de penas negras pousou com um guincho ensurdecedor ao lado de Roldec.

- Orfne minha senhora!- ela também fez um reverencia.

- Reúnam suas tropas,-começou Drana.- orfne convoque todas harppais e os aguoros, Roldec prepare os centauros, os tigres negros e os orcs. Vamos atacar.

Os olhos de orfne brilharam e ela soltou um guincho.

- onde vamos atacar minha senhora?

- toda a Eleon,- respondeu Drana com um sussurro prazeroso.- cidade por cidade, vamos matar, queimar, destruir. Tudo deverá se transformar em cinzas, todas as cidades devem ser destruídas e então atacaremos o forte do rei!

Os capitães negros sorriram maldosamente e partiram.

Drana virou-se para Ferilam.

- você...- começou ela e ficou olhando para Ferilam.

- Eu?- perguntou ele encarando a rainha.

- Convoque os magos negros.- disse Drana num sussurro e não falou mais nada.

Então ferilam perguntou:

- o que devo fazer depois?

- Vocês vão caçar.

Ferilam franziu o cenho.

- caçar?

- Sim.- um sorriso longo e cruel se formou nos lábios finos de Drana.- vão caçar Hometec.

- Hometec, o mago do rei?- perguntou ferilam incrédulo.

- Sim ele mesmo.

- Afim de que?

- Primeiro traga-me ele, e ai lhe contarei.- respondeu Drana e desapareceu numa nuvem negra.

Ferilam ficou ali parado tentando com todas as suas forças descobrir o que Drana pretendia. O que ela poderia querer com Hometec? Iria atacar. Iria destruir as cidades de Eleon. Mas havia mais do que maldade nisso, havia algum plano engenhoso por trás de tudo isso. Mas o que poderia ser? O que?

- á algo errado majestade,- ia dizendo Bóreas ao rei Amintor enquanto eles caminhavam pelos jardins do palácio.- continua do mesmo modo, parado demais. Todas as cidades do litoral estão em paz, nenhum um sinal de inimigo.

- Não creio que...

- SENHOR!- alguém berrou as costas do rei.

Amintor se virou, criados apontavam para o céu, de onde vinham imponentes, cavalos alados, batendo suas asas rapidamente. À frente de todos vinha Ventania, branco como as nuvens, montado pela princesa Finiti.

- Finiti!- exclamaram o rei e Bóreas em uníssono, os olhos dos dois brilhando.

Os cavalos pousaram nos jardins do castelo e Ventania continuou trotando até onde estava o rei.

- finiti minha querida, que alegria meu coração esta sentindo!- exclamou o rei agarrando finiti pelos ombros e a apertando com força.

- Meu senhor, espere!- pediu finiti tentando se soltar dos braços fortes do rei.- á perigo senhor, temos que nos preparar!

O rei a largou, seu rosto ficou sério.

- finiti, esta machucada, o que houve?- perguntou Bóreas olhando os cortes no pescoço e no rosto de finiti.

- Fomos atacados em Vila Railos. Drana estava lá meu rei, Drana e um grande exército, quase destruíram toda a cidade.

- Pelo fogo sagrado! O que Drana fazia em Railos?- perguntou o rei alarmado.

- Senhor, será que ela não sabia que finiti ia estar lá?- perguntou Bóreas.

- É claro que não meu jovem, como ela poderia saber?- exclamou o rei.

- Não foi por minha causa, tenho certeza de que não foi.- respondeu finiti.- foi outra coisa, não sei o que foi, mas não foi por minha causa.

O rei não falou nada, franziu o cenho, tentando pensar em algo que podesse levar Drana ás Montanhas Vermelhas.

- á algo profundo acontecendo senhor.- disse finiti séria.- novamente não sabemos o que é, mas ela esta um passo á frente.

- vamos nos reunir.- disse o rei.- temos que fazer algo.

- SENHOR!

Novamente alguém gritou e o rei virou-se: pelos céus, batendo asas velozmente, vinha o imponente cavalo negro Nevasca, montado por Darla Lusbel, atrás dela vinham poucos soldados, todos parecendo felizes por estar em casa.

- pelos céus! LUSBEL!

Darla e Álvaro pousaram ao lado do rei.

- meu senhor!- gritou darla e se jogou aos pés do rei.

- Darla! O que faz aqui? Esta ferida!- o rei a abraçou.

- Senhor foi horrível!- exclamou Álvaro fazendo uma reverencia.

- O que houve?

- Estávamos nos pântanos fercs senhor.- começou darla.- estava tudo indo bem até que alguns soldados caíram num poço de areia movediça escaldante.

- Sim, ficaram muito feridos, mas o capitão Tuner, do senhor górgodec cuidou dele com Ramas.- continuou Álvaro.- eles deviam ter sobrevivido mas acordaram todos mortos.

- Mortos?!- exclamaram finiti, Bóreas e o rei.

- Sim senhor. Havia um traidor, Mailos Tótes, ele matou dezenas de soldados...

- E tinha um pacto com as trevas. Ele se transformou, ficou em chamas negras!

- Chamas negras!?!

- Sim, e incendiou a floresta senhor, mais da metade do grupo morreu. Álvaro foi atingido pelo fogo e quase morreu também.

- Pelo fogo sagrado! Isto é verdade meu jovem?- gritou o rei, sua expressão era de horror.

- Sim meu senhor e se não fosse por darla nenhum de nós estaria aqui.- respondeu Álvaro.- ela se encheu de uma luz estonteante e com as mãos curou meu ferimento senhor. Ai Mailos apareceu e ela lançou correntes de luz contra ele, tentou faze-lo falar para quem trabalhava, mas ele se recusou a dizer, então ela lançou uma luz forte pela boca dele e ele partiu.

Darla ficou nervosa, estava esperando que o rei a repreende-se pelo ato, mas ele nem ninguém disse nada. O rei parecia estar tentando juntar tudo em sua cabeça, tentando encaixar as peças do quebra-cabeça.

- isso esta um enigma.- disse o rei num sussurro, mais para si mesmo.- sinto que a resposta bem na minha cara, mas não posso vê-la. Drana em Railos, Mailos um traidor com poderes negros, problemas nos pântanos, porém, tudo absolutamente quieto no litoral. Qual é a resposta? O que ela pretende?

Ninguém disse nada, todos se fizeram a mesma pergunta.

- diga-me, o que Hometec costumava fazer para o rei?- perguntou Ferilam á Ariaus.

- Não sei muito bem, nunca tive muito contato com o mago.- respondeu Ariaus se esforçando para puxar alguma coisa da memória.- mas sei que ele costumava fazer muitos encantos para o rei. A ultima vez que esteve na cidade Imperial conjurou uma cúpula dourada de proteção, disse que ia fazer isso em todas as cidades.

- Então ainda não terminou.- disse ferilam.- pois sabemos que Drana atacou Vila Railos. E o que mais? Ele sabe de algo importante? Carrega algum mapa com ele?

- Não sei, não me lembro de tê-lo visto com mapa algum. Por quê?

- Drana quer que caçamos o mago.- respondeu Ferilam sombrio.- mas não consigo descobrir para que.

- Ela quer o mago de amintor?- Ariaus ficou pensativo. - por que me perguntou se ele andava com um mapa?

- Ela tem um mapa, conseguiu um pedaço nas Montanhas Vermelhas e Roldec outro no litoral, mas falta uma parte, a terceira e ultima. Desconfio que ele tenha essa parte.

- Mapa? Mas de que? Á que tesouro ele leva?

- Não sei.

- Ela roubou esse mapa ou alguém deu á ela?

- Também não sei, ela anda estranha comigo, esta guardando segredos, acho que esta desconfiando de mim.

- E não tem como você roubar uma dessas partes? Ou tentar descobrir de onde vieram e pra que servem, usando magia?

- Magia é uma coisa perigosa, não pode ser usada levianamente, e Drana saberia, é como se ela sentisse o cheiro.

- Temos que dar um jeito!

Ferilam ficou pensando. Teve uma idéia súbita, mas seria arriscado, teria que agir rápido e com sorte Drana não descobriria.

Apesar de não saberem se era noite ou dia, a metade do exército negro que estava sob a cúpula das trevas dormia: as harpias e aguoros estavam encarrapitados em arvores mortas, orcs largados no chão e centauros encolhidos onde podiam.

Ferilam caminhou até Roldec, o centauro dormia deitado sob as patas, seu ronco parecia mais um rosnado.

Com cuidado ferilam pousou sua mão branca sob a cabeça de Roldec, seus olhos giraram, tudo ao seu redor girou, o mundo deu voltas e mais voltas, imagens passaram em borrões por seus olhos: uma mulher aos berros, uma lança atravessada na barriga, longos campos queimados á seu redor, o sol se pondo no horizonte do oceano, um homem encapuzado entregando a ele um rolo de pergaminho. Roldec abriu o pergaminho, as linhas do mapa não faziam sentido, havia palavras antigas que Ferilam conhecia: zemanhem- ortorók- aulmorieim- karárrat.

Ele procurou por mais coisas na mente de Roldec que lhe fossem úteis, mas o centauro sabia tanto dos planos de Drana quanto ele, então foi embora.

- li a mente do centauro.- contou Ferilam á Ariaus.- um homem encapuzado entregou o mapa á ele no litoral, não pude ver o rosto. Ele também não sabe para quê é o mapa, mas vi palavras úteis nele.

- Quais palavras? Eu sou cartógrafo, talvez possa reconhecer algo.- disse ariaus.

- Zemanhem, da antiga língua dos Anos de Ouro, que significa “ardente.”

Ortorók, guardado, aulmorieim, protegido e karárrat vigiado.

- então se trata de algo que está escondido, guardado.- disse ariaus.- mas o que pode ser?

- não consigo tirar o mago da cabeça, será que ele guarda algo importante?- perguntou ferilam.

- Pode ser que sim, é um mago poderoso, o rei talvez tenha deixado algo valioso sob a proteção dele.

- Hum. Sabe, acho que devia mandar uma mensagem á seu rei, dizendo o que esta havendo, alertando-o sobre o ataque de Drana. Ele deve estar ciente.

Araius pulou da cama de trapos.

- você tem razão, estou aqui pra isso não é mesmo?

Ele apanhou um pedaço de pergaminho numa mesa no canto da parede, molhou a pena na tinta e escreveu:

“Majestade, Drana planeja um ataque letal a todas as cidades de Eleon. Prepare-se.

Ela possui duas partes de um mapa que não descobri á que leva, esta atrás de Hometec e da terceira parte. Á um plano maligno aqui senhor, fique atento.”

Atenciosamente,

Ariaus Plemancof.

E colocando o pergaminho em pé sob a palma de uma mão, com a outra ele o empurrou para baixo, e o pergaminho sumiu.

- é isso. Agora o rei saberá.

O rei Amintor e todos os seus generais e conselheiros estavam mais uma vez sentados á mesa de reunião. O rei contou a eles tudo o que foi lhe passado por finiti, bóreas e darla e depois de uma balburia de vozes e exclamações, eles entraram novamente em silencio e um general falou:

- não vai adiantar nada ficarmos indo atrás de informações, drana é esperta, não vai espalhar seus planos por ai. Precisamos é de um espião. Majestade, o senhor nos disse que havia encarregado o cartógrafo dessa missão não é mesmo? E que fim ele levou.

Amintor não respondeu de imediato. Também não sabia que fim ariaus havia levado, desde que Álvaro o deixou depois dos campos de orquídeas nunca mais houve noticias.

- para falar a verdade Sebastiã, também não sei.- disse o rei com um pesar.- sinto que o garoto não sobreviveu, ou já teria manda noticias.

Com o pensamento de que Ariaus estava morto, todos se calaram por um minuto.

- então, senhor, o que vamos fazer?- perguntou um homem por fim.

Amintor fitou o nada, não queria que percebessem, mas ele também não sabia o que fazer. Jamais passou por uma situação dessas numa guerra, onde o inimigo ficava quieto, mudo, sem dar sinais de vida, deixando-o perdido sem saber se deve ir para a direita ou esquerda. Seja lá quais fossem os planos de drana, estavam dando certo. Ele, o rei Amintor, estava perdido.

- vamos....esperar.- disse o rei por fim.

- Esperar pelo que, senhor?- perguntou sebastiã.

- Não sei, mas é tudo que podemos fazer nesse momento.- respondeu o rei praticamente desolado.

Darla teve vontade de abraçar o rei, dava para ver em seus olhos perdidos e vermelhos que ele não estava bem, notava-se claramente que ele estava tão perdido quanto os outros ali. Parecia até que o rei queria chorar.

- por que não chamamos o mago Hometec novamente? – os lábios de darla se moveram sem que ela notasse. Todos a olharam.

- Hometec? – indagou o rei.

- Sim. Ele poderia tentar ver alguma coisa não é mesmo?- respondeu darla.

- Hometec é um mago de encantos, não de adivinhações, senhorita.- disse um general de cara amarrada.

- Mas ele lê as cartas.- insistiu darla.- talvez elas digam alguma coisa que nos seja útil.

Ninguém respondeu, todos pareciam pensar sobre o assunto.

- Merecles, onde está Hometec agora?- perguntou o rei a um rapaz jovem que estava em pé ao seu lado.

- Creio que na cidade de Táros, senhor. Conjurando sua cúpula de proteção.- respondeu Merecles, eficiente.

- Hum....

- Carmelon?- perguntou um general. Todos o olharam.

- Sabe deus onde esta Carmelon, Etórios.- disse o general de cara amarrada.- pode estar nos outros mundos da terra.

Etórios torceu a boca.

- quem é carmelon?- perguntou darla baixinho para Álvaro que estava ao seu lado.

- Carmelon, antepassada de Hometec, irmã de Ritmén, uma grande bruxa da luz branca.

- Ah!

- não podem faltar muitas cidades para hometec terminar seu serviço.- disse o rei.- vamos convoca-lo, ele poderá nos ajudar.

- Como ajudou da primeira vez?- perguntou o soldado de cara amarrada.- veja, nos disse meia dúzia de palavras que não serviram para nada, não chegou a conjurar a cúpula de proteção sobre Railos, por isso a cidade quase caiu. No que aquele mago pode nos ser útil?

- Não insulte o sangue de Ritmén, Rótoros.- disse o rei se irritando.- talvez para você aquelas palavras de nada valeram, mas para mim tiveram grande significado.

- Mas no ajudaram em algo, majestade?- insistiu Rótoros, também aborrecido.

- Esta muito descrente general, costumava ter mais fé.- disse o rei avaliando a expressão de Rótoros.

- Sim senhor, e antigamente os generais também sabiam onde deviam mandar suas tropas atacar. Sabiam que tipos de estratégias deviam armar.- retrucou Rótoros.- não estou me rebelando nem criticando ninguém senhor, só estou com medo, estamos num mar a deriva. Até agora tudo o que fizemos teve pouco efeito. Perdemos Bordas de Fogo na primeira batalha, a cidade ainda esta infestada de orcs. Railos quase foi destruída, um louco mata uma tropa inteira nos pântanos e ainda por cima possui poder negro. Estamos sendo cercados senhor, o mal esta nos encurralando e apesar disso não conseguimos ver onde ele esta. As coisas que planejamos e fizemos até agora não tiveram efeitos positivos.

- Tenha mais fé, senhor.- disse darla, desta vez ciente do que estava fazendo.- eu também cheguei a pensar que estava tudo perdido, pensei que nunca mais sairia daqueles pântanos, pensei que iria morrer....mas a solução chegou quando menos a esperávamos e foi vitoriosa. Estamos aqui, estamos vivos. Não perca sua fé, ela ainda poderá lhe ser muito útil.

- Você pode conjurar correntes de luz que queima Lusbel, assim como Elisteu podia lançar com as mãos ondas de uma água tão clara e ardente que fazia a pessoa cegar.- disse Rótoros.- mas nós....o que podemos?

- Podem lutar!- disse finiti com uma voz firme que darla não ouvia desde que a princesa voltou de Bordas de Fogo.- lutar com suas espadas e arcos assim como tem lutado até hoje, assim como lutaram na grande Guerra que derrubou Tereone. Podem lutar com suas armas e suas chamas, com sua coragem e sua bravura, assim como tem lutado e vencido todos os desafios que apareceram nesta terra e mesmo em terras vizinhas. Vocês não são somente homens, vocês são homens de Eleon e não me lembro de ter visto os homens de Eleon se entregando assim jamais. Onde estão aqueles homens que derrubaram exércitos de monstros quando sua imperatriz foi morta? Onde esta a chama de seus corações?

Todos fitaram finiti boquiabertos. A princesa nunca havia citado a mãe, ainda mais desta maneira, falando tão diretamente de sua morte. Mas havia bravura nas palavras de finiti, havia aquele tom guerreiro que muitos julgavam ter se perdido.

A princesa de fogo estava de volta e isso os motivou.

Um rolo de pergaminho surgiu sob a mesa da sala do rei Amintor, ela caminhou até lá e o apanhou. Leu o que estava escrito e então suas mãos ficaram em chamas negras e o pergaminho se queimou, não restando nem cinzas.

************************CONTINUA******************

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Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 29/04/2009
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