"A Batalha de Fogo" cap 27 "Céu De Sangue"

Quando o sol raiou em Eleon o exército negro saiu da proteção da cúpula das trevas, cada tropa tinha um destino, uma missão, e nenhum orc e nenhuma harpia deveria retornar sem a missão cumprida. Assim eles marcharam, correram pelos campos de Eleon, cada tropa tomando um rumo, cada caminho tomado sendo destruído a medida em que eles passavam. A ordem explicita era de transformar Eleon em cinzas, e só uma coisa podia destruir aquele lugar. Por onde o exército de Drana passava queimavam tudo com suas grandes tochas de fogo negro. A primeira tropa alcançou sua cidade antes do meio-dia, não ouve pausa para combinar ataque, não ouve pausa para verificar a defesa da cidade, grandes bolas de fogo negro foram disparadas contra a cidade com gigantescas catapultas, as bolas bateram na cúpula de proteção conjurada por Hometec e voltaram contra o exército negro, então, eles fizeram o que sua rainha ordenou: a capitã da tropa, uma grande harpia de penas avermelhadas, voou sobre a cidade, ficando por cima da cúpula dourada e abriu um saquinho entregue por Drana e jogou sob a cúpula dourada um pó cinza.

A cúpula de proteção escureceu, a harpia pode ver as pessoas lá dentro correndo desesperadas, parecendo insetos medrosos, aquela altura. Longas linhas começaram a se formar pela barreira, linhas que se transformaram em rachaduras, rachaduras que foram se aprofundando, causando grandes buracos na parede de proteção. De repente um gigantesco pedaço da cúpula se explodiu, uma rajada de luz forte subiu em direção ao céu no momento em que a cúpula dourada desmoronou como uma parede e sumiu no chão como se fosse água. Grandes filetes de fumaça subindo.

- ATACAARR!!- berrou a grande harpia.

Os orcs atearam fogo nas grandes bolas de feno que estavam nas catapultas e mais uma vez as bombas de fogo negro foram arremessados contra a cidade. Com um estrondo imenso prédios foram ao chão, pedaços gigantescos de blocos voaram pela cidade. De onde estavam, o exército negro podia ouvir os gritos desesperados das pessoas, berros de crianças e aclamações por socorro.

As bolas de fogo continuaram sendo lançadas, dezenas de prédios desmoronavam e o fogo se alastrava pela cidade como um sopro de vento. Casas se incendiaram, as chamas cada vez maiores dominavam toda a vista, pessoas correram para fora dos muros da cidade, tentando fugir na direção oposta ao exército. Homens montados em cavalos fortes, usando armaduras e empunhando espadas saíram pelos portões da cidade, mas eram um numero tão pequeno que simplesmente fizeram o exército negro gargalhar.

- MATEM TODOOS!!- guinchou a grande harpia e disparou contra as pessoas e a pequena tropa.

Selvagemente os orcs investiram contra os soldados. Lanças longas foram atiradas contra os homens, metade caiu ao chão com o peito se cobrindo de sangue. Facas e arpões foram disparados pelos homens de Eleon, orcs foram acertados, um arpão atravessou o crânio de um orc velho, mas os outros continuaram, pulando em cima dos cavalos que corriam enlouquecidos sem seus cavaleiros e cortando-lhes a cabeça. A harpia voava veloz por entre os soldados, as garras amostra, dilacerando o pescoço que aparecesse primeiro. Os dentes grandes e perigosos arrancando pedaços dos homens, arrancando-lhes impiedosamente mãos e braços, desfigurando rostos, roubando orelhas e narizes. O fogo dominava toda a cidade, bolas de chamas ainda eram lançadas, não havia mais um único prédio ou casa em pé, o campo ao redor estava queimando, corpos corriam de um lado para o outro, cobertos de fogo negro, gritando desesperadamente até caírem no chão mortos.

À medida que a cidade ia sendo tomada e a tarde ia descendo, o céu ia se tingindo de um vermelho sangue, que não era causado pelo sol que se punha ao longe, até se transformar num rio vermelho e ameaçador, que em nada se parecia com a cidade de Mhiros lá embaixo, que agora não passava de cinzas.

- pelo fogo sagrado! Veja o céu!- exclamou Bóreas no castelo do rei Amintor, olhando pela janela.

- O que esta havendo?- perguntou o rei alarmado ao contemplar o céu.

- É o céu de sangue!- exclamou Darla.

- A guerra começou.- murmurou alguém atrás deles.

Os três se viraram, parada perto deles, olhando o céu lá fora com uma expressão de fascínio, estava uma jovem criada, ela era bela, os cabelos cacheados, castanho escuro, usando um belo vestido azul camponês.

- como sabe disso garota?- pergunto Bóreas.

- Quem não sabe senhor?- respondeu a garota.- quem não sabe que o céu de sangue só aparece quando muito sangue é derramado. E quem não sabe que a ultima vez em que o céu ficou tão forte assim foi durante a guerra de Tereone?

Havia algo de suspeito naquela garota. Ela não falava com medo ou desespero, como era de se imaginar que uma pessoa vendo aquela situação fizesse, ela falava com admiração e era quase possível distinguir um sorriso em seus lábios.

- chame meus generais, Bóreas.- mandou o rei Amintor.- e você volte para seus aposentos garota.

Ela fez uma simples reverencia, lançou mais um olhar admirado ao céu e saiu andando pelo corredor.

- mas que garota estranha.- comentou Darla.- não gostei do modo como ela falou.

- Sinto que á mais perigo aqui dentro do que lá fora.- disse o rei.- porque Hometec não chega logo? Ja mandamos mensagens. Ele deveria estar aqui.

- Senhor?

Os generais do rei Amintor vinham pelo corredor, seus rostos preocupados.

- não á duvidas senhor, a rainha das trevas deu o primeiro passo.- disse o general Rótoros, de cara amarrada.

- Então vamos dar o segundo.- disse o rei decidido.- eu quero nosso exército reunido e preparado até o amanhecer, quero todos os homens que for possível recrutar. Convoquem as tropas das cidades próximas, Zakon, Thórlos, Merthes, todas!

- Sim senhor. Vamos atacar?

- Pela manhã.- respondeu o rei.- vou mandar batedores imediatamente para verificar onde estamos sendo atacados e amanha será nossa vez.

Os generais sorriram com a nova determinação do rei.

- não estou querendo ser negativo,- começou Rótoros.- mas o céu está completamente tingindo de sangue. Seja lá o que for que eles estão fazendo, é sério, é perigoso, eu diria até mesmo mortal.

- Sim, é verdade.- disse Álvaro ficando com o rosto sombrio.- o céu não fica assim desde Tereone, Drana deve estar fazendo algo totalmente maligno. As trevas ja dominaram alguma parte de Eleon, disso não á duvidas.

- Trevas?- perguntou Finiti chegando pelas costas dos generais. Era acompanhada por Merecles, o assistente do rei.- não se preocupem com as trevas, a luz esta conosco.

Finiti apontou para Darla e sorriu.

- vamos á guerra senhores, e devemos ir confiantes. Preparem-se, Merecles trás informações, a cidade de Minitor caiu, a cúpula dourada foi destruída, não á sobreviventes, todos, absolutamente todos foram mortos, os campos destruídos e a cidade queimada.

- Céus!

- E isso não é tudo,- disse Merecles.- nossos informantes dizem que eles estão em todos os lados, o exército negro esta atacando, cidades estão sendo derrubadas neste exato momento. Á orcs e centauros, harpias, aguoros, tigres negros, vens...toda a força de Drana esta correndo por nossos campos e matando nosso povo.

Todos ficaram mudos.

O rei sentiu seus pés perderem o chão. Eleon estava caindo, seu povo estava morrendo. Foi pego, finalmente foi pego, a surpresa de Drana deu certo, ele não sabia e até aquele momento continuava sem saber o que ela pretendia, o que ela ia fazer, ela tapou-lhe os olhos e agora que os abriu ele via o que sempre temeu ver: a queda de sua terra. Mas ainda não podia entender como havia chegado áquela situação, como de repente ficou tão perdido no meio daquela guerra. Como Drana havia conseguido se esconder tão bem? Como nenhum informante e espião conseguiu descobrir algo sobre os planos dela? E Ariaus, o que havia acontecido com Ariaus? O rei contava imensamente com ele.

- será que o garoto morreu?- perguntou mais para si mesmo.- pelos céus, coloquei tantas esperanças em Ariaus... mas acho que o garoto se foi, ou então já teria mandado noticias. Mas será? Será mesmo que falhou antes mesmo de começar, será que Drana o descobriu assim tão rápido?

- Isso senhor, só poderá ser respondido se uma mensagem dele chegar até nós, ou se infelizmente, soubermos de sua morte.- respondeu Álvaro também refletindo sobre o garoto.

O rei voltou a contemplar o céu.

- Senhor, o que faremos?- chamou um dos generais.

Amintor saiu de seu estado de transe.

- vamos continuar com o plano, reúnam os homens, atacaremos pela manhã. Agora a única coisa que podemos fazer é nos defender. Vamos avançar por Eleon, vamos matar quantos podermos. Já basta de ser a caça, agora voltaremos a ser o caçador.- ele fez uma pausa, ainda encarando o céu vermelho.- espero que Hometec chegue logo, precisamos dele.

- Ja decidiu o que fazer com o mago, senhor?- perguntou Rótoros.

- Hometec vai lutar.- respondeu o rei.- na guerra de Tereone os magos lutaram, pelos céus, derrubavam dezenas de orcs com um único girar de mãos.

- Então torcemos para que ele não se demore.

- aaahhh!!

Uma grande lança atravessou a boca de uma mulher, que caída de joelhos berrava desesperada. Tudo ao seu redor queimava, orcs e centauros corriam e gruíam ateando fogo, cortando, decepando, atacando tudo e todos que encontravam pela frente. Os longos campos de trigo que cercavam a cidade de Zakon agora jaziam mortos sob a luz da lua, em completas cinzas.

Assim como o sol brilhou, agora a lua brilhava, seu brilho macabro e cruel assemelhando-se ao tom de sangue que ainda enchia toda a vastidão do céu. O tom não mudaria enquanto sangue continuasse sendo derramado, podia passar dia, passar noite e o céu continuaria tingido de vermelho, o que estimulava ainda mais a maldade do exército negro.

A cidade de Merthes já estava vencida, mais uma muralha de Eleon havia caído, mais uma cúpula de proteção havia sido destruída, mais pessoas haviam morrido. Eles estavam vencendo, a escuridão estava ganhando, naquela noite, em que o céu tinha cor de sangue, o exército negro não parou, as tropas continuaram avançando, espalhando seu rastro de morte, destruindo cada flor em seu caminho, acabando com as cidades mal preparadas, mal armadas, mal protegidas...E quando o rei Amintor saiu a porta de seu palácio pela manhã, para dizer algumas palavras de encorajamento aos mais de mil homens que aguardavam dentro e fora dos terrenos do castelo, um número incrível de cidades já não passavam mais de cinzas, e as únicas lembranças que restariam delas, eram as que estavam na mente dos poucos que sobreviveram, mas que foram feitos prisioneiros.

- Agora é chegada a hora de ter coragem.- ia dizendo o rei Amintor á seus homens.- agora é a hora da verdade, é a hora de nos munir de fé e coragem, entregarmos nosso coração ao Fogo Sagrado pois ele sabe da necessidade de cada um, é hora de segurar a espada com firmeza e acreditar que a luz reinará. FORÇA HOMENS DE ELEON, NÓS VENCEREMOS!! AVANTE !!

- AVANTEE!!

Os homens bradaram alto, cada grito colocava para fora a agonia, o nervosismo, o medo...os corações não ficaram mais leves com as palavras do rei, mas encontraram uma motivação a mais.

As portas do palácio se abriram ás costas do rei, por elas passaram, armados dos pés a cabeça, Finiti, Darla e Bóreas. Ao contempla-los ali, com suas armaduras e espadas em punho os homens gritaram novamente, agora sim se sentiam confiantes de verdade, agora sim havia esperança nos corações que ali estavam.

- Finiti, o que estão fazendo?- perguntou o rei em voz baixa e preocupada ao ver os três armados.

- Vamos lutar meu pai.- respondeu Finiti com firmeza.- os dias de medo e insegurança passaram. Meu lugar é com meu povo, lutando ao lado deles. Esse é meu dever.

- Não, Finiti querida, não é mais uma batalha em que as chances de se vencer eram grandes, agora é a guerra.- disse o rei desesperado, uma mão de ferro apertou seu coração.- querida, você não pode ir. Não pode.

- Eu vou meu senhor.- respondeu Finiti ficando séria.- á contas particulares a acertar com cada orc, com cada harpia e centauro. É questão de honra meu senhor, eu vou.

- Pelos céus Finiti!- exclamou o rei.- que honra é essa agora? Do que esta falando? Mande a honra para o inferno. Você pode morrer minha filha, não vou suportar perde-la também. Já perdi Finiti, ela morreu em meus braços. Não me condene a ter que enterrar a filha dela.

- Você vai enterrar a filha dela meu pai.- disse Finiti sombria.

O rei empalideceu.

- Finiti...

- você vai enterrar com todas as honras do mundo a primeira filha dela.- respondeu a princesa de Eleon.

Os olhos do rei Amintor se esbugalharam, ele olhou pasmo para a filha.

- eu sei meu senhor, eu sei que Drana é minha irmã. E é ela quem o senhor vai enterrar. Desta vez Finiti voltará para casa.

Ela não deixou o rei responder, o abraçou forte e beijou-lhe o rosto e então pulou em cima de Ventania.

- meu senhor.- Darla fez uma reverencia para o rei e também o abraçou.

- Vou cuidar dela majestade.- disse Bóreas.- trarei para casa a chama de seu coração.

- Não a deixe morrer rapaz.- pediu o rei, os olhos cheios de lágrima.- não deixe que ela enfrente Drana sozinha.

- Jamais meu senhor.

Bóreas, meio receoso, abraçou o rei com força e foi montar seu cavalo.

- AVANTE HOMENS DE ELEON!!- gritou Finiti e batendo com os calcanhares nos lados de Ventania, o cavalo disparou como o vento pelos portões do palácio do rei Amintor e com um salto incrível suas longas asas se abriram e ele voou pelos céus, seguido pelo ultimo exército que Eleon pode montar.

Zheimen caiu. A cidade dos perfumes, dos prédios em espiral estava no chão agora. Orfne, a capitã das harpias guinchava no topo do único prédio que restou em pé, seu troféu particular. O prédio mais belo seria seu trunfo, com toda a cidade destruída ao seu redor, ela ficaria com aquele ali. O melhor.

Os orcs gritavam lá embaixo, seu rosnado de vitória, aguoros e tigres negros devoravam a carne das pessoas mortas no chão. Vens passavam pelas pessoas, pisoteando-lhes, recolhendo sangue para fabricarem novos venenos. Mais uma vitória para Drana.

Finiti e seu exército passaram pelos céus de Bordas de Fogo, a cidade ainda estava infestada de inimigos, não restavam mas nem ruínas dos antigos prédios, a fonte da Fênix não existia e a Mansão da Lei de Fogo estava a ponto de desmoronar.

- o livro da lei de fogo.- murmurou Finiti.- nossa história se perdeu.

Eles voaram por Zakon, a cidade também havia caído, assim como Minitor, Merthes, Mhiros, Railos, Ren...

- Madame Ávata.- murmurou Finiti ao sobrevoarem a Railos destruída. Uma mão de ferro esmagou seu coração e ela sentiu seu estomago afundar.- minha boa sabia....

Darla e Álvaro também sentiram um aperto no coração ao passarem por Ren, ao se lembrarem de Tüner e o senhor Górgodec. Em fim, aqueles guerreiros nobres haviam sido vencidos.

- céus! Esta tudo morrendo.- murmurou Darla para Álvaro.

- Por incrível que pareça, já esteve pior.- falou Álvaro.

- Pior? O que havia restado de Eleon então?

- Absolutamente nada.- respondeu Álvaro lembrando-se daquele tempo.- tudo o que esta sendo destruído por Drana foi construído depois da queda de Tereone.

- E vamos reconstruir tudo de novo.- disse Finiti na frente deles.- assim como ele caiu, Drana também caíra.

Darla pode sentir mais que determinação na voz de Finiti, havia uma nota de ódio ali e ela se lembrou do fato de que Finiti e Drana eram irmãs.

- tem algum plano particular?- perguntou Darla quando Nevasca ficou lado a lado com Ventania.

- Ainda não. Mas uma vez uma sabia me disse que essa ligação que temos poderia servir para a nossa vitória. Ainda não consegui achar o ponto em que isso nos é útil. Mas vou encontrar, você verá.

- Sei que vai.

Eles continuaram a sobrevoar as cidades a procura do inimigo para enfrentar. A maioria já estava no chão, mas havia uma coisa ali, uma coisa estranha, suspeita até.

- ei onde estão eles?- pergunto um rapaz. – onde esta o inimigo? As cidades estão desertas, eles destruíram e sumiram. Estamos voando há horas e nem sinal deles. Onde estão?

Era verdade. Não havia um único orc na várias cidades caídas, os campos queimados também estavam desertos, exceto pelos corpos que jaziam. Mas fora isso, toda a área que os olhos alcançavam estava no mais completo e macabro deserto.

- e essa agora?- Finiti parou, Ventania batendo as longas asas brancas para se manter no ar.- onde eles estão?

- Não podem ter se escondido.- disse Álvaro.- mesmo sob toda essa ruína, não á lugar.

- Eles recuaram.- disse Darla de repente, uma agonia brotando em seu coração.- eles estão recuando para algum lugar. Vão se reunir. Se solidificar, ficar mais forte e então desferir o golpe final.

Todos olharam para ela boquiabertos.

- como sabe disso?- perguntou Finiti.

- Não sei, apenas sinto.

- O ultimo pressentimento que ela teve estava certo.- disse Álvaro.- temos que descobrir para onde eles foram. Não consegue acha-los Darla? De alguma maneira?

Darla fechou os olhos, era uma sensação estranha, como sempre acontecia quando descobria um novo poder. Ela podia sentir cada um ali, como se todos a tivessem tocando e ela podesse dizer qual mão era de quem. Seus olhos foram mais além, ela podia sentir mãos fracas, talvez pessoas feridas, algum sobrevivente a beira da morte. Por um longo pedaço não havia ninguém, nada, nem mesmo um mero pássaro.

- aaahh!!

- Darla? O que foi?

Ela sentiu um aperto, mãos pesadas caíram sobre ela. Pesavam sobre seu corpo e doía. Ela tentou identificar o lugar onde estavam as mão, mas não o conhecia, mal podia vê-lo, distinguiu ao longe uma torre vermelha e um rio que a cercava. Tentou ver mais, mas as mãos pesavam muito sobre ela, estavam machucando, não era possível ver mais nada.

Darla abriu os olhos.

- uma torre...- ela arfou, o ar entrava pesado por sua boca e nariz.- vermelha...um rio ao redor.

- torre vermelha com um rio ao redor.- Finiti pensou.

Todos estavam no mais absoluto silencio, tentando se lembrar onde havia uma torre vermelha..

- não consigo lembrar de nenhum lugar com uma torre vermelha.- disse Finiti.

- Mas senhora,- disse um soldado de idade madura.- não existem cidades com torres vermelhas. As torres vermelhas são templos ao Fogo Sagrado.

- É verdade!- exclamou Álvaro.- o templo mais próximo é na cidade de Jasmero, a cidade dos rubis.

Finiti se voltou para Darla.

- conseguiu ver algo mais.

- Não.

- Então é pra lá que vamos.- disse Finiti e Ventania voltou a bater suas asas com força.- para Jasmero!

Jasmero era bela, a cidade era branca, todos os prédios, todas as casas tudo absolutamente branco. Jasmero era uma cidade santa, a única coisa que não era branca ali era a Torre do Sol, um templo de adoração ao Fogo Sagrado. Havia cinco templos em Eleon: o Templo do Sol, no norte, o Templo Kahüem, no sul, o Templo das Montanhas, no oeste, o Templo Centoriem no leste e o Templo de Fogo que ficava exatamente no centro de Eleon.

Tropas negras foram mandadas a cada um destes pontos e a tropa e Roldec estava ali, á sombras das arvores da floresta que cercava Jasmero, estavam se preparando para atacar. Mais uma cidade iria cair, mas isso não era tudo. O fundamental ali era vasculhar o templo, verificar se a terceira parte do mapa estava ali, se não estivesse, o templo também deveria cair.

Os cavalos batiam as asas velozmente, deixavam milhas para trás sem dificuldade, era difícil dizer se anoitecia ou não, o céu ainda escorria sangue. O cansaço ainda não havia batido nos soldados, mas os cavalos começavam a se cansar, o ritmo diminuía e a altitude também.

- eles estão se cansando.- disse Darla alisando Nevasca.

- Estamos chegando.- respondeu Finiti.- vejam, o Templo do Sol.

A frente erguia-se imponente uma grande torre vermelha, no seu topo ardia uma chama viva e em sua base havia um pequeno rio de águas claras, uma ponte de pedra ligava a cidade à porta do templo.

- ELES ESTÃO AI!- um berro de desespero escapou pela boca de Darla, alguns soldados pularam de susto.- ELES ESTÃO AI! VAO DESTRUIR TUDO, VAO DERRUBAR A TORRE! ELES ESTAO AI!!

- Darla, calma. Darla, controle-se!- Álvaro a chacoalhou pelos ombros e ela pareceu voltar de seu transe.- fique calma, não precisa gritar.

Darla respirou fundo várias vezes. Sua testa suava, não entendia porque estava daquele jeito, suas emoções estavam tão sensíveis. Era como se sentisse a queda do templo em seu próprio peito, como uma facada.

- preparem-se.- alertou Finiti desembainhando a espada.- se eles já estiverem lá, vamos chegar atacando, caso contrario, vamos entrar na cidade e armar a melhor defesa possível nesse curto tempo.

- Sim senhora.

- Arqueiros na frente, lança e espada.- ordenou Finiti.- sejam certeiros. Avante!

Os cavalos voaram rápido, já se podia distinguir as formas dos prédios de Jasmiro, a cidade parecia inteira, não havia sinais de destruição ou fogo.

- ainda estão bem.- disse Darla.

- Para baixo!- mandou Finiti.

Os cavalos pousaram com um leve baque numa grande praça, as pessoas ao redor ficaram surpresas e um guarda se aproximou apressado.

- minha senhora!- ele fez uma longa reverencia.- a que devemos sua presença?

- Leve-me ao seu senhor, soldado.- mandou Finiti cortando a pompa.

- Sim senhora, por aqui.

O soldado montou um cavalo e eles cruzaram rapidamente a cidade. Por onde passavam as pessoas faziam olhares intrigados e preocupados. Darla sabia que elas já desconfiavam do pior e afinal, estavam certas.

Eles pararam enfrente uma grande casa branca com portas de carvalho.

O soldado correu a bater na porta. Um outro soldado apareceu.

- a princesa Finiti Elga Eleonora esta aqui para ver o senhor Miros.- disse o soldado de fora.

O outro homem se voltou para Finiti que desmontava o cavalo, fez uma longa reverencia e falou numa voz séria:

- por aqui minha princesa.

- não, traga seu senhor até aqui, não a tempo para andar por belos corredores.- disse Finiti.- estamos com pressa, tropas das trevas estam á porta de Jasmero, mande seu senhor se apressar caso queira salvar esta cidade.

Os olhos do soldado saltaram e ele ficou branco. O homem não respondeu, correu para dentro. Em poucos minutos um homem de idade avançada, usando uma longa túnica vermelha apareceu na porta: o senhor Miros tinha cabelos cinzas até o ombro, os olhos negros e aguçados e apesar da idade tinha ainda um corpo forte e uma expressão severa.

- Finiti.- ele correu a fazer uma reverencia.

- Prepare-se Miros, convoque todos os seus homens o mais rápido possível, eles vão atacar Jasmero.

- Meus homens estão prontos, senhora.- respondeu Miros e havia uma nota de orgulho misturado com a preocupação.- meu exército esta de prontidão no forte e aos redores da cidade.

- Excelente!- elogiou Finiti realmente sentindo um alivio por encontrar a cidade preparada.- vamos preparar armas, catapultas, tudo o que for possível para...

- FINITIII!- um grito dilacerado fez o coração de Finiti pular.

Ela se virou para Darla. A Portadora da Luz estava branca como gelo, seus olhos saltados e sua boca escancarada num grito silencioso. O sangue no céu se intensificou e uma lágrima rolou pelo rosto de Darla.

Houve uma explosão, eles puderam ouvir os gritos das pessoas e ver os prédios próximos do portão caírem. As chamas negras subiram pelas paredes como insetos.

- Eles chegaram.- murmurou Darla e outra lágrima caiu.

****************CONTINUA**************************

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 10/05/2009
Reeditado em 12/05/2009
Código do texto: T1586511