* Escrito na estrelas * Parte dois *
Logo pela manhã Soraia ouviu algo incomum em sua porta, era uma terça-feira e comumente sua avó só as visitava no sábado, ficou interessada em saber quem poderia ser, levantou-se e abriu a porta, num estante vislumbrou um olhar brilhante numa face cansada, ambos abriram sorrisos no mesmo momento
- Bom dia Soraia!
- Bom dia! O que o traz tão cedo neste humilde sitio?
- Sabe, eu pensei... hum... Você estuda onde mesmo?
- Que tal na única escola da cidade?
- Sendo assim, acho que estudamos juntos, queria lhe pedir um favor...
- Hum...
- Você poderia me ajudar na escola nova, sabe como é né...
- Há! Ta bom, embora não haja muito a ser visto,mas será um prazer!
- Que bom! Ta, ta meu pai pode vir lhe buscar a uma hora? É claro se você quiser!
- Não, eu aceito sim, uma carona nesse brejo é sempre bem-vinda!
A mãe veio conhecê-lo, o garoto era realmente simpático, mas a mãe o achou estranho, cismou com todo aquele “luxo”, ficou encafifada que ele queria algo com sua preciosa bonequinha e ela mal podia imaginar...
~ * ~ SZ ~* ~
Chegaram a escola adiantados e nesse tempo Soraia apresentou-lhe seus poucos amigos, mostrou-lhe o pequeno e desinteressante prédio da escola, contou-lhe das manias de cada professor, dos esquemas na hora do intervalo e de tudo o mais que poderia ajudar num primeiro dia.
À medida que os alunos foram chegando, Caio foi se enturmando, nenhum menino era tão maneiro quanto ele em toda a cidade, as meninas começaram a se entusiasmar e ouviam-se gritinhos de animação abafados e risinhos bobos, todos animados com o novo brinquedinho. Soraia sentou-se em seu lugar e abriu seu livro, comprado em seu aniversario, um dos únicos presentes, enquanto esperava o inicio da aula, tentava afastar aquela sensação de estarem tirando sua posse sobre algo que não era seu, um ciúme desmotivado, ele não era nada seu, era? Sabia que já o havia perdido para aqueles garotos e garotas vazios e bobos.
Na volta para casa, no ônibus da escola, Caio conversava com seus novos amigos e Soraia olhava os carneiros pela janela embaçada por sua respiração.
~* ~ SZ ~ * ~
Caio foi a cerca, no exato ponto onde vira pela primeira vez Soraia, ficou deitado sobre a pedra que impedia a construção de um bom pedaço da cerca e ficou olhando o pôr-do-sol através das pequenas ondulações na relva que se estendia através da campina, foi vendo as estrelas começarem a brilhar cada vez mais forte, ficou admirando a brisa leve soprando sobre as maçãs e sonhou que Soraia estava ali ao seu lado.
Acordou com uma suave voz ao seu ouvido, cantando uma musica desconhecida a ele, fingiu continuara a dormir enquanto ouvia aquele anjo, a musica parara então ele olhou para Soraia e ouviu-a dizer:
- Já durmi aqui algumas vezes e em boa parte delas acordava resfriada.
Ele riu com um pouco de topor e nervosismo, deitou-se de lado encarando aqueles profundos olhos. Ela olhava fingindo distração, controlando um ataque eufórico, seu coração martelava ferozmente, sentia suas bochechas quentes, com um sangue vivo e em chamas a circular loucamente, um calor, uma vermelhidão
- O que achou da grandiosa escola?
Ele suspirou, mudou seu braço de apoio e disse desanimado
- Só existe um motivo pra eu não estar implorando a meus pais para voltar a cidade, e ele esta deitado ao meu lado nesse exato momento.
Soraia sentiu um arrepio percorre-lhe todo o corpo, senti-se em chamas quando ele dedilhou seu braço e sentiu sua respiração próxima, virou-se para encará-lo, ficaram durante breves segundos esperando e controlando-se ate que Caio perdeu a coragem, e ainda encarando seus olhos e lábios, disse:
- O céu é sempre lindo assim?
- Em geral sim, mas hoje ele esta excepcional...
- Acho que deve ser a companhia, que é ainda mais bela.
- Esta tarde não? – Soraia gaguejava e balançava a cabeça freneticamente – Você devia descansar, sabe – levantou-se meio tonta – Pra amanha, entende?
- Até amanha então?!
Levantou, ia beijar-lhe a face, mas encheu-se de pudor e quando já estavam a uma considerável distancia ele gritou:
- Boa Noite! Soraia! Durma com os anjos dos céus!
- Boa Noite, Caio, que os anjos te iluminem e guardem!
Ele soprou-lhe um beijo, Soraia sentiu sua bochecha direita queimar e ela a tocou num gesto inconsciente, lembrou-se que deveria voltar a respirar pois precisava estar viva para revê-lo.