Na sua pele. Cap. 8

POV Débora

Pela primeira vez em minha vida, senti que estava prestes a desmaiar.

O que eu via, era uma combinação perfeita. Na verdade nada poderia me convencer naquele momento de que existia um conjunto de duas pessoas mais lindo e perfeito que aquele.

Ao mesmo tempo que era lindo, também era para mim, destruidor, e eu senti, que automaticamente, os meus pés não eram suficientes para me manter em pé. Minhas pernas começaram a estremecer. Meus olhos iam se enchendo gradualmente com lágrimas violentas.

O amor estava no ar.

Mas o ódio me subia à cabeça.

Sim, eu havia encontrado Annabelle Kouren. A única garota que eu convivia, adorava, venerava. A minha melhor amiga. Que sempre fez de tudo para que eu sorrisse. Segundos atrás eu teria a achado a melhor pessoa do mundo, e estava a procurando. Mas agora que eu podia enxergar o seu rosto perfeito, eu tinha vontade de arrancar os

cabelos dela aos tufos, encher de socos aquele rosto maravilhoso até ficar irreconhecível. Dar milhares de pontapés para deformar aquele corpo espetacular. Nunca tinha gostado tanto de uma amiga como gostava dela. Mas nunca tinha odiado alguém tanto quanto naquele momento.

Era como ver a dor com meus próprios olhos.

E porquê?

A estrutura delicada e angelical dos lábios dela, estavam encaixados, como se feitos um para o outro, com os lábios da pessoa que eu mais amava naquele mundo. Dani. Ele a envolvia pela cintura, como se fosse preciso que ela estivesse lá, e que jamais teria forças para deixá-la ir embora do recanto quente de seus braços. E ela o abraçava delicadamente e seus lábios se emolduravam com uma perfeição absurda.

Juntos eles deixavam Angelina Jolie e Brad Pitty se sentindo patinhos feios.

Juntos, eram tão perfeitos e absurdamente incríveis que se poderia usar aquela visão como colírio.

Juntos, pareciam completos.

Eu tentei, inutilmente por um milésimo de segundo remontar os

milhares e pedaços quebrados do meu coração destruído, antes que virassem pó. Mas é claro que eu não consegui.

Nos braços da minha melhor amiga, estava o garoto que eu queria.

Que me fazia suspirar atrás de um livro. Que me dava um motivo pra viver. Era por ele que eu estava completamente apaixonada.

E ele estava com Annabelle. A garota perfeita.

Como eu poderia ter pensado que ele olhava pra mim? Havia eu esquecido que ao meu lado estava a garota mais linda do mundo? E que ele e ela se encaixavam perfeitamente?

Como alguém como ele poderia, mesmo que por uma fração de segundo, gostar de mim? Olhar para mim?

Tão feia, tão normal.

As lágrimas caiam e aparentavam pesar uma tonelada cada uma. Eu me odiava, e odiava a loira perfeita que estava com o meu garoto.

Cedi finalmente, e acabei me ajoelhando, minhas pernas não agüentavam mais, meus olhos não mereciam mais aquela tortura.

Mas o pior veio depois.

Se é que poderia estar pior.

Eles começaram a falar. Voltei a olhar a clareira, onde estavam, e ele a olhava como se fosse uma deusa. O que não estava muito longe de ser mesmo.

-Belle, meu amor...Como eu não te encontrei antes? – Perguntou àquilo como se fosse o óbvio que eles teriam de ter se encontrado à séculos.

Ela sorriu, aquele sorriso de arrasar.

-O importante é que estamos juntos agora. – Refletiu ela com sua voz angelical. – Eu estou aqui.

E eles trocaram mais um breve selar de lábios.

-Sabe, nunca tinha acontecido antes...

-“Mas eu já amava você desde o instante em que te vi.” – completou ela. – O mesmo para mim, Dani, meu amor. Você é tão lindo, doce...

-Olha quem fala, Belle...Se eu desse uma estrela para você, ela se sentiria envergonhada...

E eu senti que ele tinha a pura razão.

Ela era realmente linda.

-Eu amo você. – Um uníssono.

E mais um beijo.

E aquilo foi como uma estaca penetrando profundamente no meu peito.

Eu sangrava por dentro.

E senti que não suportava mais ficar ali.

Corri para o ônibus aos prantos.

POV Annabelle

Já fazia algumas semanas que eu estava com ele. O garoto mais lindo, simpático e popular do meu colégio. Eu não podia acreditar o quanto tinha sorte em ter o encontrado. De ser a escolhida por ele. Eu não pensava em nada que não fosse...Ele.

À algumas horas atrás, quando estávamos na clareira, ele tinha me pedido em namoro. E eu observava o anel maravilhoso, enquanto apertava a mão dele.

E foi naquele instante, que eu me lembrei de algo que realmente importava. Débora.

Eu tinha a abandonado, e devia uma explicação. Mas eu queria ir no outro ônibus, com ele.

Então mandei uma mensagem de texto para ela.

“Débs, querida. Acho que não vai dar para ir com você no ônibus. Eu vou no outro, com um garoto. Eu conto tudo para você depois. :) Me desculpe. Beijos, Belle.”

Achei que já era suficiente.

Ela logicamente entenderia.

POV Débora.

Ao mesmo tempo que Lucas se sentava ao meu lado, eu recebia uma mensagem da serpente. Era ela.

E quando li o texto tudo piorou.

É claro, eu ficaria sozinha. E ela estaria com ele.

Eu ansiava por um suicídio.

Queria acabar com a minha vida em decomposição.

Mas como sempre as coisas pioraram.

-Porque está chorando, meu amor? – Perguntou a voz do garoto loiro e pálido do segundo ano, Lucas, ao meu lado.

O ônibus dava a partida.

Percebi que ainda não parara de chorar.

-Por favor...Me deixe em paz... – Murmurei para ele, com uma voz que aparentava que alguém estava me arrancando os membros.

-Ah, fofinha. Me conta o que aconteceu.

Eu suspirei, com mais ódio que o normal.

-NÃO. – Disse ríspida. – Não te interessa okay? Por favor, me deixa. –

Senti o veículo andar, a comecei a fitar a janela.

-Eu só queria te ajudar, Débora.

-Argghhhhhhhhhhh....Quer mesmo me ajudar? Então por que não vaza daqui!? – Perguntei estupidamente.

-Calma, Débora, calma. – Ele apaziguou. Pisquei os olhos umas cinco vezes, as lágrimas começando a escorrer, e percebi que estava sendo irracional. Além disso o ódio é o que iria me habitar mais tarde, e eu iria detoná-lo com uma vingança rude. Por enquanto, eu estava triste. Triste demais. Necessitava de uma única faísca de esperança.

Olhei para Lucas ao meu lado. Parecia meio assustado com a minha

hostilidade.

Mas ainda gostava de mim. Talvez até me amasse.

Então, uma espécie de sentimento me invadiu. Não sabia direito se era solidariedade. Mas imaginei Dani me tratando daquele jeito horrível,

mesmo eu o amando.

Então, tentando não demonstrar o quanto aquilo era difícil para mim, o quanto não era aquela companhia que eu queria ter, eu apoiei minha cabeça em seus ombros, e deixei que meus olhos cheios de lágrimas tocassem a sua camisa vermelha.

Ele não sabia ao certo o que fazer. Se surpreendeu com a minha reação. Mas ele me conhecia. Sabia que eu sofria, mas não sabia porque. Então começou a passar as mãos em minha cabeça, tentando me reconfortar.

Como se fosse possível.

Somente a dor de Annabelle poderia me deixar feliz.

E quando o ódio viesse puro até a mim, eu o acolheria e cuidaria dele, com uma vingança avassaladora.

Tentei esquecer da minha vida, enquanto pensava o quanto não era naqueles braços que eu queria estar.

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 11/08/2010
Reeditado em 22/07/2011
Código do texto: T2432509
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