A CASA DAS SETE MARIAS

A Casa Das Sete Marias

Havia uma casa no meio do sertão, naquela região a chuva acabava antes de atingir o chão.

Na casa viviam sete mulheres prendadas e seria estranho, se não fosse no sertão nordestino, uma casa com sete Marias cada uma responsável por um destino. Maria Antonia, bordadeira. Maria Cristina cozinheira. Maria Filomena, doceira. Maria Tereza, fiandeira. Maria Emília, costureira. Maria Alzides, lavadeira. Maria Joaquina de tudo fazia até vestido de noiva na esperança de casar um dia.

Naquele sertão, distante de quase tudo, menos do sol, passavam todos os dias vendedores oferecendo seus produtos para suprir as necessidades daquele lugar. As Marias não se agradavam de nenhum produto para comprar, sempre diziam que os vendedores não podiam vender o que elas queriam.

Durante sete dias da semana, passava um vendedor diferente e com muita prosa os produtos oferecia:

_ Oh! De casa. Gritava o 1º vendedor

_ Oh! De fora. Respondia uma das Marias, logo aparecendo à porta.

_ Vendo bastidores de madeira pura!

_ Para quê me serve bastidores de madeira pura? Se o que quero, não podes vender?! Dizia Maria Antonia, bordadeira.

O 2º vendedor, no segundo dia falava:

_ Oh! De casa!

_ Oh! De fora!

_ Vendo farinha de mandioca macia!

_ Para quê me serve farinha de mandioca macia? Se o que quero não podes vender?! Dizia Maria Cristina, cozinheira.

O 3º vendedor, no terceiro dia falava:

_ Oh! De casa!

_ Oh! De fora!

_ Vendo a fruta mais nobre!

_ Para quê me serve a fruta mais nobre? Se o que quero não podes vender?! Dizia Maria Filomena, doceira.

O 4º vendedor, no quarto dia falava:

_ Oh! De casa!

_ Oh! De fora!

_ Vendo linha e agulha do ouro mais puro!

_ Para quê me serve linha e agulha de ouro mais puro? Se o que quero não podes vender. Dizia Maria Tereza, fiandeira.

O 5º vendedor, no quinto dia falava:

_ Oh! De casa!

_ Oh! De fora!

_ Vendo tecidos da mais linda estampa!

_ Para quê me serve tecidos da mais linda estampa? Se o que quero não podes vender?! Dizia Maria Emilia, costureira.

O 6º vendedor, no sexto dia falava:

_ Oh! De casa!

_ Oh! De fora!

_ Vendo o sabão mais perfumado!

_ Para quê me serve o sabão mais perfumado? Se o que quero não podes vender?! Dizia Maria Aldizes, lavadeira.

O 7º vendedor sabia do caso ocorrido então, levou um homem jovem e bonito e no sétimo dia falou:

_ Oh! De casa!

_ Oh! De fora!

_ Vendo um noivo belo e rico!

_ Para quê me serve um noivo belo e rico? se o que quero não podes vender?! Dizia Maria Joaquina, que de tudo fazia até vestido de noiva na esperança de casar um dia.

Os vendedores ficaram intrigados com tal situação, juntos resolveram pedir satisfação, foram à casa das sete Marias, penduraram nos corpos tudo o que podia e os sete vendedores falaram:

_ Somos vendedores, porém não estamos a vender, retire dos nossos produtos aquilo que não podemos vender.

As sete Marias no mais puro silêncio e na mais eterna alegria, apanharam a lata d’água, retiram dos vendedores o chapéu de funil e com delicadeza encheu cada uma o seu barril.

Fico eu a imaginar as palavras não ditas pelas sete Marias, chego a acreditar que dentro de cada uma delas um grito apertava assim:

_ Para quê me serve bastidores de madeira pura, farinha de mandioca macia, a fruta mais nobre, linha e agulha do ouro mais puro, tecidos da mais linda estampa, o sabão mais perfumado, um noivo belo e rico, se eu não tiver um funil para encher de água o meu barril?

Água é tudo!

ielandia jacinto
Enviado por ielandia jacinto em 16/09/2011
Código do texto: T3222889
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