Ódio disfarçado de amor.
Ela olha para o relógio, vê que são horas iguais e dá um leve sorriso. Naquela tarde nublada era uma ótima ilusão, passa-tempo. Pegou essa mania depois que lhe disseram que, quando se via horas iguais é porque a pessoa que você gosta está pensando em você. "Engraçado", ela pensava, "como ele pode passar o dia inteiro vendo essas benditas horas iguais?".
Eles viviam brigando, arengavam o tempo inteiro, ela queria ele perto e longe ao mesmo tempo, eles eram chatos, birrentos, impacientes. Mas um sempre lembrava do outro quando falavam de amor. Ela lembra de todos os momentos, a primeira vez que os olhares se cruzaram e de como suas bochechas ficaram vermelhas com isso. De como conversavam, de como o espaço entre os dedos de um encaixavam perfeitamente os dedos do outro. E de como esse outro completava esse um.
Eram perfeitos, feitos, par feitos, par perfeitos um para o outro. Apesar de tanta coisa, tanta força contrária, se faziam felizes. Se fazer feliz é coisa complicada, mas eles conseguiam. Se queriam. De tão dispostos, acabaram se atraindo, de tão atraídos pediram para o Deus do céu para que não se distraiam. E, por mais que o tempo passe, nada muda. Eles vão continuar se odiando, mas o ódio é apenas o começo de um amor.