Utopia

Ele enjoou do seu dia-a-dia, não aguentava mais aquela rotina chata que ele vivia. A vontade que tinha era de pegar algumas bolsas e sair de tudo isso, queria viver sem rotina, seguido pelo destino, bem no estilo “deixa a vida me levar”. Não aguentava o chefe na orelha, os colegas de trabalhos, odiava ter que pegar o carro e ver aquele trânsito enorme todos os dias. Passava o dia inteiro fazendo contas e resolvendo problemas no serviço e quando chegava em casa não tinha sossego, esposa que reclamava, não o deixava em paz. Finais de semana só faltava o presidente dos EUA passar fazer uma visita, não conseguia nem ao menos ir ao banheiro de tanta visita que tinha. Quando não vinha ninguém tinha que ir visitar. Era um inferno.

Num segundo, apenas um segundo a tentação de jogar as coisas pro alto e chutar o balde se tornou realidade, mas não foi testa vez. Tinha que ter uma “paciência de Jacó” para esta vida. Isto por que tinha tudo para ser uma pessoa tranquila. Ele tinha um dom para escrever incrível, pintava que era uma maravilha, sabia atuar, dançar e tocar como ninguém e todos esses dons desperdiçados num escritório de contabilidade.

Então numa tarde quente de verão seu chefe não parava de encher o saco e numa explosão mandou tudo para o inferno. Pegou suas coisas no escritório e se dirigiu para sala do chefe, chegou abriu a porta com raiva e jogou o crachá em cima da mesa e disse em alto e com todas as letras “ME DEMITO” e saiu sem esperar uma resposta. Pegou o carro e seguiu para casa ao som de rock cortando por dentro da cidade para não pegar engarrafamento. Chegou e nem desligou o carro. Entrou apressado, sua esposa estava na cozinha e ao ver ele àquela hora tarde começou a xingar ele e jogar pratos, ela imaginava que isso ia acontecer já que casou com um artista que não conseguia prender seu instinto. Ele pegou suas mochilas e foi colocando todas as suas roupas com pressa, e sua mulher enchendo atrás dele. Terminado isso olhou para ele mostrou o dedinho proibido e mandou ela pro inferno cansado de suas reclamações, e antes de sair pegou o celular e jogou na parede com tanta força que o despedaçou. Saiu cantando pneu e foi na casa de sua mãe para pegar seus manuscritos, algumas telas e desenhos seus e seu amado violão.

Enfim estava livre de tudo e todos. A paz que reinava em seu interior era grande e boa. Nunca tinha sentido isso na vida. Por muitos anos vagou sem rumo tocando em bares, vendendo pinturas e desenhos e publicou até mesmo uns cinco livros sem muito sucesso. Vivia em hotéis e nem queria saber de namorar só farrear. Tinha a vida que tanto sonhou.

Então ele acordou com sua mulher resmungando que ele estava atrasado.

Henrique Simão de Oliveira

Henrique S de Oliveira
Enviado por Henrique S de Oliveira em 14/11/2013
Reeditado em 16/07/2016
Código do texto: T4570823
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