[Original] Ela me faz - Capítulo 3 - Parte 2

Capítulo 3 – Parte II

Eu fiz o que qualquer garota impulsiva faria

Lucas sentou-se rapidamente e dessa vez, tão ereto que parecia um robô. Ela entrou com uma caixa de pizza na mão e a bolsa de trabalho na outra.

- Oi amigos!

- E aí, Ias! – Ele cumprimentou, fingindo estar super relaxado.

- Oi, Iasmin. – Eu falei, forçando um sorrisinho. Ela me olhou com o cenho franzido mas não fez perguntas.

- Lucas, eu trouxe pizza, Rafaela e eu não costumamos fazer comida na quarta.

- É, ela me disse.

- Sério? Vocês estavam conversando quando eu cheguei? – Posso estar de neura, mas Iasmin foi um pouco irônica em suas palavras. Ele assentiu. – Fico muito feliz por isso!

Nós jantamos na sala mesmo, a conversa estava tão boa que dormimos as 3 da manhã. Cada um em sua cama, claro.

(...)

Enfim (ou não) chegou o primeiro dia de aula no curso. Fiz a minha rotina normal. Trabalhei até as 15h, fui pra casa, irritei um pouco o Lucas, ajeitei o que era necessário e fiquei de bobeira até a hora de ir pro Amália. Esperamos Iasmin chegar e em trio, seguimos até o imenso prédio marrom do curso.

Durante o trajeto eu ouvi os dois conversarem sobre diversos assuntos, mas preferi ouvir música e fingir que não me importava com a conversa. Quando chegamos, surpreendentemente vi mais gente conhecida do que eu poderia imaginar. Além de várias pessoas que estudei no ensino médio, vi duas pessoas que Iasmin e eu conhecemos no dia da inscrição, Nina e Gabriel.

- Oi!!! – Ambos sorriram aos nos ver. Eu abracei Nina e Iasmin abraçou Gabriel. Eles são amigos e moram no mesmo prédio na zona Sul de São Paulo. Ela tem a minha idade, 21 anos. Ele é um ano mais velho. A primeira vista pensei que fossem irmãos, mas bastou algumas horas de conversa e se nota que Nina tem outras intenções com Gabriel. Só falta mesmo ela ser um pouco mais clara em relação a isso. – E aí, estão animados com o primeiro dia de aula? – Perguntei, me posicionando ao lado de Iasmin.

- Ah, mais ou menos. – Ela disse, parecendo levemente receosa. E mexeu na cabeleira castanha quase loura. Gabriel revirou os olhos, mas sorriu. – Sempre fico com frio na barriga.

- Eu estou tranquilo, como sempre. – Respondeu ele. Nina mostrou língua, porém seus olhos brilharam um pouquinho com o rapaz.

Sabe quando você tem aquela reação meio boba de olhar pra trás? Pois bem, fiz isso. E desejei não ter feito. Vi Lucas do outro do pátio conversando animadamente com Olívia Trentini.

Iasmin seguiu meu olhar.

- O que é aquilo? – Perguntou, com um tom de voz de bastante descrença. Vimos a garota mexer em seus cabelos de duas cores. Sim, duas. Ruivo natural com azul nas pontas. O que nos fez apelida-la de Two colours in her hair, numa homenagem a música de uma banda gringa que ouvíamos na época da escola. E desde lá ela nos odeia por esse motivo e mais alguns. O que me fez pensar se não era algum tipo de ironia do destino estarmos fazendo curso no mesmo lugar. E Lucas estar de papo justamente com ela.

- Duas pessoas conversando. – Eu respondi, observando numa falsidade serena a bonita cena.

- Ele está com ela?

- Não sei.

- É o que parece! – Lucas passou o braço pelos ombros de Olívia, que abriu um sorriso tão grande que rasgaria sua boca facilmente.

- Pois é.

- Por que logo ela?

- E eu vou saber, Iasmin? – Respondi, me irritando com as perguntas. Ela então me olhou. – O que?

- Você parece com ciúme.

- Ah, faça-me o favor. – Revirei os olhos. Lucas percebeu que nós duas o olhávamos e veio em nossa direção. Um andar meio despojado, canalha.

- Falavam de mim? – Perguntou rindo, seu olhar fixou em mim, como se quisesse ler minha mente.

- Por que ela? – Iasmin perguntou. Direta e reta como sempre. E ela jura que a enciumada sou eu...

- Como assim? – Ele a olhou com o cenho franzido.

- Nesse curso tem várias garotas que você poderia se envolver!!! Por que logo a Trentini? – Acostumamos a chama-la pelo sobrenome justamente por causa que quando estudamos juntas ela era única pessoa que a professora de matemática chamava de “Senhorita Trentini”.

- Bah, mas eu não estou ficando com ela! – Explicou ele, confuso. – Nos conhecemos ontem quando fui me inscrever pro curso.

Iasmin me olhou.

- Rafaela, você não foi com ele? - Eu olhei minhas unhas, fugindo do assunto. – Rafaela!!!

- Eu não fui! – Respondi, brava. Ela bufou. – Ele ficou uma semana sem falar comigo e depois veio me pedir favor? Ah, qual é!

- Eu pedi com educação.

- Grande coisa.

- Tá, tá! Chega vocês dois. – Iasmin se colocou entre a gente. – Então não está com ela?

- Não. – Lucas respondeu e franziu o cenho. – Porque vocês não gostam da Olívia?

- Ela que não gosta da gente. – Falei, ríspida. Lucas me fitou, meneando a cabeça. – Esse balançar de cabeça significa o que, hein?

- Significa o óbvio: não gostar de tu é aceitável pra caramba. – E olhou Iasmin com doçura. – Agora não gostar da Iasmin é bem difícil.

Eu não sei bem o que me deu nesse momento ou o que diabos me fez ficar tão chateada com as palavras dele, mas o fato é que sai dali batendo pé. Segui para a minha sala que era no térreo e alguns minutos depois ele e Iasmin entraram. Ela sentou na mesa do lado e Lucas na minha frente. Aos poucos a sala foi ficando cheia e cada aluno sentando em seu lugar.

- O que foi aquilo hein? – Perguntou Lucas, me olhando irritado.

- Nada.

- Tu ficou braba com o que eu falei?

- Não.

- Ficou sim.

- Me poupe. – Abri meu caderno e puxei meu estojo da bolsa. E ainda havia um insistente par de olhos me fulminando. – Olha, se você acha que eu sou tão odiosa assim o problema é seu. Eu estou pouco me importando com a sua opinião.

Ele ia responder à altura, mas algo que não sei bem o que foi, o fez se calar.

No intervalo do curso eu sai na frente sem esperar os dois. Iasmin parece muito mais animada e feliz com Lucas, então que fiquem juntos e me deixem em paz. Sentei-me na escada do prédio, olhando a tudo sem fixar em qualquer coisa.

- “Significa o óbvio: não gostar de tu é aceitável pra caramba.” Quem ele pensa que é pra dizer isso de mim? – Perguntei, repetindo a voz dele de modo infantilizado. – E por que isso me irritou tanto...?

- Rafaela! - Lucas vinha em minha direção, e sua expressão dizia só uma coisa “Estou pronto pra discutir contigo se for necessário”.

Eu me pus em pé e comecei a subir as escadas, ignorando seu chamado. Até que no final das escadas, ele me segurou pelo braço e me puxou até o canto do corredor que dava acesso ao 1ºandar.

- Dá pra você me soltar? – Perguntei, tentando empurra-lo. Lucas com uma mão segurava meu braço e com a outra, meu rosto, forçando-me a olha-lo. – PARA!

- Só quero saber se tu ficou chateada com o que eu te disse!

- Isso não importa. Eu estou pouco me import... – Fui empurrada contra a parede e pressionada em seguida, numa sequência perfeita.

Pois é, Lucas tem fetiche por me empurrar e me agarrar ou sei lá.

- Eu quero que tu olhe pra mim, primeiramente. – Dessa vez as duas pousaram sob minhas bochechas e nossos olhares se encontraram.

Talvez ele saiba que me ouvindo, jamais vai me entender, mas lendo meus olhos, tire algo melhor do que as coisas que falo. - Desculpa se te chateei com o que eu disse. De verdade.

- Tu-tudo bem. – Respondi, tremula. Ele foi sincero no pedido. Droga! Por que esse garoto sempre consegue sair por cima?

Engoli seco quando sua testa encostou na minha e toda atmosfera do momento automaticamente mudou. Eu tremi completamente quando senti todo o seu corpo contra o meu. Ele poderia me beijar ali mesmo e eu não resistiria, claro. O problema é que Lucas pensou demais, eu não tomei a iniciativa e Conrado me salvou de uma besteira.

- Algum problema? – Eu me afastei bruscamente de Lucas, que bufou, irritado. Me pus ao lado do salvador da pátria, como se por acaso eu devesse explicação pra ele. – Tive a impressão que atrapalho alguma coisa.

- Ainda bem que perce... – Antes que o gaúcho idiota completasse a sua frase idiota, eu fiz o que qualquer pessoa impulsiva faria: beijei Conrado na frente dele. O silêncio que se estabeleceu foi tão profundo que pude ouvir somente a respiração seca e desgostosa de Lucas. E durou tempo suficiente para eu me arrepender.

Quando ousei abrir os olhos Lucas já não estava mais ali. E não precisei analisar muito o que fiz pra saber que eu seria odiada e o faria desencanar de qualquer atraçãozinha barata que ele possa nutrir por mim.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 19/04/2014
Reeditado em 25/06/2022
Código do texto: T4774353
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